Um consórcio internacional de pesquisadores descobriu que a mutação de um gene envolvido na resposta imunológica contra a malária reduz o risco de morte por esta causa em habitantes da África Subsaaariana.
O pesquisador Santos Alonso, pharmacy professor de Antropologia Física e Fisiologia Animal da Universidade do País Basco, que participa da pesquisa, explicou à Efe que a mutação do gene TLR4 aconteceu há bilhões de anos como uma resposta do genoma humano frente à malária e viajou à Europa através de populações africanas que migraram para o continente.
O trabalho será publicado amanhã na revista americana “Proceedings da National Academy of Sciences” e revela que este gene mutado ou alelo, denominado Asp299Gly, é capaz de reduzir o risco de morte por malária em populações subsaarianas e, no entanto, é prejudicial em europeus.
Os pesquisadores estudaram um grupo de indivíduos de Gana, onde a doença é “muito presente”, e descobriram que a mutação Asp299Gly reduz o risco de mortalidade por causa da malária, transmitida pela fêmea do mosquito anófeles.
Essa mesma variante do gene que na África Subsaariana (ao sul do deserto do Saara) se transformou em um alelo protetor contra a mortalidade por malária, atua em indivíduos europeus aumentando a suscetibilidade frente a doenças causadas por bactérias.
A equipe descobriu além disso que em populações eurasiáticas surgiu outra mutação (Thr399Ile) para resistir à ação “prejudicial” para a malária da mutação Asp299Gly.
O estudo serviu para demonstrar pela primeira vez que os genes que participam da ativação de uma resposta imune contra patógenos evoluem em função das infecções que tem que enfrentar em uma área geográfica específica.
Para Alonso, a descoberta demonstra que o homem é “o resultado do melhor dos caminhos possíveis” e que a diversidade de genoma surge da interação entre o sistema imunológico e a pressão ambiental, ou seja, a exposição a patógenos durante a história evolutiva.
Este achado, explica Alonso, tem repercussões médicas. A presença da primeira mutação ou das duas combinadas determina que um organismo seja suscetível frente às infecções, assim como o tipo de tratamento exigido.
O gene TLR4, presente nos leucócitos (glóbulos brancos), codifica uma proteína que reconhece estruturalmente micróbios patógenos uma vez que estes penetram no corpo, pela pele ou pela mucosa intestinal. Estes receptores se enlaçam a estas moléculas e ativam uma resposta imunológica.