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Brasil

MP apura se Rogério de Andrade foi mandante da morte de Marielle

Seis meses depois, crime parecido matou o filho de Rogério, Diego Andrade, no Recreio dos Bandeirantes, em 2010

FolhaPress

10/05/2022 18h39

Marielle Franco

Igor Mello
Rio de Janeiro, RJ

O MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) admitiu nesta terça-feira (10) que apura se o bicheiro Rogério de Andrade, sobrinho do contraventor Castor de Andrade, foi o mandante do assassinato da vereadora Marielle Franco, em março de 2018.

Após o bicheiro e o PM reformado Ronnie Lessa -réu por executar o assassinato de Marielle e do motorista Anderson Gomes- serem alvo de uma operação na manhã desta terça, integrantes da força-tarefa do Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado) que apura o homicídio da vereadora revelaram que a participação de Rogério é uma das linhas de investigação para esclarecer o crime.

“Desde o primeiro momento em que essa equipe assumiu o caso, estamos revisitando tudo que foi produzido. Temos como premissa que dois indivíduos que foram denunciados por executar o crime. E é fato notório a ligação entre ambos [Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz], e entre eles principalmente Ronnie Lessa, e o chefe da organização criminosa, o 01 dessa denúncia, Rogério Andrade”, explicou o promotor Diogo Erthal, integrante do Gaeco e da Força-Tarefa do Caso Marielle.

“Desde o primeiro momento é uma das linhas de investigação”.

Apesar disso, Erthal disse que ainda não há provas para denunciar o bicheiro pela morte de Marielle: “Se houvesse elementos para provar isso, ele estaria hoje [terça (10)] sendo denunciado por esse outro crime. Mas também não há elementos para descartar”, completou.

O promotor Carlos Eugênio Greco Laureano, também integrante do Gaeco, destacou a coincidência entre a morte de Marielle e a sociedade entre Rogério de Andrade e Ronnie Lessa. Os investigadores ainda não sabem se no material apreendido há elementos que vinculem Rogério de Andrade ao assassinato.

A Operação Calígula, deflagrada nesta terça, desvendou um esquema de corrupção ligado a uma organização criminosa formada pela associação de Andrade e Lessa para a abertura de um bingo na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. As tratativas foram iniciadas em abril de 2018, cerca de um mês depois do assassinato de Marielle.

O espaço foi aberto em 24 de julho do mesmo ano, mas acabou fechado no mesmo dia por uma operação da Polícia Militar. A partir daí, os membros da quadrilha passaram a negociar com agentes públicos, entre eles a delegada Adriana Belém, que naquele momento chefiava a 16ª DP (Barra da Tijuca).

Em agosto, após uma negociação de propina com Adriana e o seu chefe de investigações, o inspetor Jorge Luiz Camillo Alves, braço-direito da delegada, as máquinas são liberadas. Os promotores encontraram provas que Lessa enviou caminhões à delegacia e retirou as máquinas.

“As apreensões que foram feitas hoje ainda não foram analisadas, então não temos como analisar qual vai ser o resultado na identificação do crime de Marielle e Anderson. A proximidade com Rogério no momento do crime e até a forma como ele [Ronnie Lessa] foi procurado, pelo filho dele chama atenção, mas é preciso cautela”, diz ele. “Curiosamente, próximo ao homicídio de Marielle eles se reaproximam e voltam a interagir em mensagens”.

Rogério de Andrade é sobrinho de Castor de Andrade, tido como o maior bicheiro da história do Rio de Janeiro e criador do modelo de cúpula do jogo do bicho.

Antes de morrer, em 1997, Castor dividiu seu império do crime em dois: Rogério ficou com os pontos de jogo do bicho, enquanto seu genro Fernando Ignácio assumiu o controle dos caça-níqueis. Logo os dois iniciaram uma sangrenta guerra pelo controle de todo o espólio de Castor.

Foi nesse contexto que Rogério de Andrade e Ronnie Lessa se conheceram. O PM foi recrutado pelo jogo do bicho e passou a atuar como segurança da família Andrade. Em 2009, perdeu uma perna após um atentado à bomba explodir seu carro.

Seis meses depois, crime parecido matou o filho de Rogério, Diego Andrade, no Recreio dos Bandeirantes, em 2010. Na ocasião, uma bomba foi instalada embaixo ao assento do motorista no carro do bicheiro. Fernando Ignácio foi apontado como suspeito de ambos os crimes.

A disputa entre os dois herdeiros de Castor de Andrade seguiu até novembro de 2020, quando Ignácio foi morto a tiros ao pousar de um helicóptero no Aeroporto de Jacarepaguá, na zona oeste do Rio. Rogério de Andrade foi denunciado pelo crime e desde então está foragido.

Seguindo o legado de seu tio, Rogério de Andrade atuou como patrono da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel. Em 2017, ele esteve na Sapucaí no desfile em que a escola foi campeã.

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