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Brasil

Moradores protestam contra corte de árvores em bosque no Alto da Lapa, na zona oeste de SP

Grupo contesta obra da Tegra no Bosque dos Salesianos, antigo terreno da Unisal; incorporadora afirma ter alvará e promete compensação ambiental de R$ 1 milhão

Redação Jornal de Brasília

04/11/2025 13h07

Foto: Reprodução

Foto: Reprodução

ANDRÉ FLEURY MORAES
FOLHAPRESS

Um grupo de moradores do Alto da Lapa protesta na manhã desta terça-feira (4) contra a derrubada de árvores no chamado Bosque dos Salesianos, na zona oeste de São Paulo. O espaço foi comprado por uma incorporadora para se tornar um projeto imobiliário.

O terreno fazia parte da Unisal (Centro Universitário Salesiano de São Paulo), que o vendeu para a incorporadora Tegra no início de maio. O valor do negócio estaria na casa dos R$ 95 milhões.

A reportagem contou cerca de 40 pessoas no local. Todas gritam expressões como “salvem o bosque” e criticam o projeto imobiliário -para eles, o corte das espécimes configura crime ambiental. A obra possui alvará para ser realizada.

Alguns dos manifestantes, em tom mais exaltado, batem contra o portão de acesso à obra. O local está fechado, e maquinários continuam a operar.

O Ministério Público de São Paulo chegou a ajuizar ação pedindo a paralisação das obras. Obteve decisão liminar favorável à suspensão do projeto, medida que posteriormente caiu.

O argumento era de que o local estaria protegido por um decreto de 1989 que proibia a supressão das árvores. A norma, no entanto, foi revogada pelo governo Luiz Antônio Fleury Filho, em 1994, em mudança que atribuiu ao município a decisão sobre o corte de espécies nativas.

Moradores afirmam ter sido surpreendidos. “Mais do que uma relação com a comunidade, o bosque tem uma fauna e flora riquíssimas, com pássaros e até macacos. É um dos poucos lugares de São Paulo em que você tem isso” diz a fotógrafa Sílvia Simões.

“R$ 95 milhões pagam seu lugar no céu, padre?”, disse uma moradora aos gritos, em direção a religiosos que moram no terreno ao lado.

Acionado por moradores, o biólogo Roque de Gaspari disse à reportagem que o início da primavera não é a época ideal para o corte de árvores. “É tempo de início de reprodução das aves, o que leva cerca de 30 dias. Depois nascem os filhotes, e o crescimento deles pode levar até dois meses. Se você derruba uma árvore grande, leva tudo junto”, disse.

A GCM (Guarda Civil Metropolitana) foi acionada e monitora o protesto. Um dos agentes disse aos presentes que a obra é regular e que não há o que fazer -informação que pegou alguns dos manifestantes de surpresa. Eles dizem que não tiveram acesso ao documento.

Em nota, a Tegra afirmou que o empreendimento é regular.

“A Tegra Incorporadora informa que possui todas as autorizações necessárias para as atividades em seu terreno na rua Sales Júnior, no Alto da Lapa, incluindo o alvará de execução e o TCA (Termo de Compromisso Ambiental), emitidos pela SVMA (Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente).”

“O manejo arbóreo ocorre conforme critérios técnicos e ambientais da SVMA: cerca de 73% das árvores que precisarão ser removidas encontram-se mortas, são invasoras ou exóticas- o que compromete a regeneração natural do espaço- e 66 exemplares nativos serão preservados”, acrescenta.

A incorporadora diz também que realizará compensação ambiental com investimento superior a R$ 1 milhão. Em nota, diz que serão plantadas 500 novas mudas nativas e ainda revitalizará quatro praças na região.

“A companhia reforça ainda seu compromisso com o meio ambiente e com o espaço urbano, por meio do programa Gentilezas Urbanas, que já revitalizou mais de 100 áreas públicas desde 2020”, diz.

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