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Brasil

Moradores da região do rio Tapajós cobram de Lula implantação de cisternas em região impactada pela seca

Lula visitou comunidades do baixo rio Tapajós, na região de Santarém (PA), no último domingo (2)

Redação Jornal de Brasília

05/11/2025 11h17

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Foto: Ricardo Stuckert / PR

VINICIUS SASSINE
BELÉM, PA (FOLHAPRESS)

Em visita a uma região da amazônia fortemente impactada pela crise climática um ano atrás, o presidente Lula (PT) ouviu de lideranças indígenas uma cobrança pela implantação de um sistema de cisternas, medida que permitiria às comunidades atravessarem períodos de secas extremas.

Lula visitou comunidades do baixo rio Tapajós, na região de Santarém (PA), no último domingo (2). Um lugar onde aldeias, comunidades quilombolas e comunidades ribeirinhos ficaram sem água potável no segundo semestre de 2024 em razão da diminuição acentuada do nível do rio no período seco —uma condição fora da curva que foi ainda pior do que a registrada em 2023.

As franjas do Tapajós, um rio volumoso e de larguras a perder de vista, características dos rios amazônicos, encolheram substancialmente, o que levou ao desaparecimento de igarapés que são fundamentais para comunidades tradicionais na floresta.

A seca provocou ainda o alastramento do fogo e da fumaça na região, onde fica, por exemplo, o paraíso turístico de Alter do Chão, que se viu encoberto por fumaça.

Lula e sua comitiva, que incluía Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima), encontraram moradores ainda impactados pela seca extrema de 2023 e de 2024, que ficaram sem água potável durante meses, mesmo estando na margem de um dos rios mais caudalosos do bioma amazônico.

É nesse contexto que surgiu a cobrança pela implantação de um sistema de cisternas, num modelo parecido ao disseminado no semiárido brasileiro. É uma ideia cada vez mais defendida por cientistas e especialistas como forma adaptação aos impactos das mudanças climáticas na amazônia.

“Nós, povos tradicionais, vivemos um dos maiores desafios das nossas vidas. Nunca imaginávamos que um dia viríamos o rio Tapajós secar como secou”, disse Lucas Tupinambá a Lula e Marina, durante o encontro na aldeia Vista Alegre do Capixauã, que fica na resex (reserva extrativista) Tapajós-Arapiuns. Lucas é vice-presidente do Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns.

Segundo ele, a implantação de um programa de cisternas na região do rio Tapajós é necessária para atender a comunidades diretamente impactadas pela crise climática. Já existem iniciativas do tipo, por parte de organizações não governamentais como o Projeto Saúde & Alegria —representantes do projeto participaram do encontro com Lula.

Na resex existem 98 comunidades, onde vivem mais de 13 mil pessoas, segundo a organização Tapajoara, que representa moradores da reserva. Um projeto de implantação de cisternas para captação de água da chuva existe desde 2023, mas chegou a apenas 20 comunidades, de acordo com a presidente da Tapajoara, Maria José Caetano. “Precisa avançar muito”, diz ela, que entregou uma carta a Lula com cobranças por ações de energia elétrica, saúde e educação na resex.

Após a visita à região do baixo Tapajós, Lula teria se comprometido com medidas voltadas à garantia de água potável em meio à crise climática na região. “Eu jamais imaginei aquele rio (Tapajós) ficar vazio. E ficou. Há uma mudança no clima”, disse o presidente.

A reportagem esteve na resex Tapajós-Arapiuns em novembro de 2024, quando a seca extrema impactava o cotidiano das comunidades no território kumaruara. O lugar visitado pela reportagem foi a aldeia Mapirizinho, que fica próxima da visitada por Lula e Marina.

O igarapé Mapiri desapareceu durante a seca extrema, o que gerou um transtorno sem precedentes à comunidade, cujas casas estão mais próximas do igarapé do que da margem do rio Tapajós.

“O que restou do igarapé são poças de água podre”, afirmou Roselino Paz Kumaruara, 49, cacique de Mapirizinho, um ano atrás. No domingo, ele participou do encontro com Lula. “Essa comunidade surgiu, há muito tempo, porque os antigos estavam buscando água e acharam o igarapé Mapiri. Neste ano, ele sumiu.”

Com a seca, as 42 famílias da aldeia dependiam de um poço e de um sistema de distribuição de água estruturado para atender a duas comunidades. O consumo de água a partir de cacimbas cavadas no chão, próximas ao igarapé, mostrou-se desastroso para os moradores. Muitos adoeceram, com diarreia, vômito e dor de cabeça.

Na região de Santarém, mais especificamente na várzea do rio Amazonas, houve ainda uma mortandade sem precedentes de peixes, com impactos diretos sobre comunidades ribeirinhas que vivem da pesca. Os peixes passaram a disputar oxigênio em lâminas d’água cada vez menores, e foi necessário socorrer as comunidades com cestas básicas e água potável.

Lula visitou comunidades tradicionais no Pará no domingo, na região de Santarém, e na segunda-feira (3), nas imediações de Belém. O presidente está na capital, em um barco com capacidade de hotel, alugado pela Presidência, para a cúpula de chefes de Estado que ocorre nas próximas quinta (6) e sexta (7).

É o primeiro evento oficial da COP30, a conferência do clima da ONU, um encontro diplomático que tenta acordos para freio e mitigação das mudanças climáticas. A conferência será realizada entre os dias 10 e 21.

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