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Brasil

Ministra de Lula promete perícia independente a parentes de mortos e diz que operação foi ‘um fracasso’

“Na nossa visão, a perícia no local está muito prejudicada”

Redação Jornal de Brasília

30/10/2025 15h26

operação

Tomaz Silva/Agência Brasil

FABIO VICTOR
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

Em reunião com familiares de mortos na operação nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, e representantes da comunidade, a ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, prometeu que o governo vai encomendar uma perícia independente dos corpos dos mortos.


“Na nossa visão, a perícia no local está muito prejudicada”, afirmou a ministra, que integrou uma comitiva do governo e da Câmara dos Deputados em visita ao complexo da Penha.


Em entrevista coletiva depois do encontro, Macaé disse que a operação foi “um fracasso, uma tragédia, um horror inominável”.


“Se quisermos combater o crime organizado, tem que começar por cima. Não adianta chegar em nossas comunidades expondo crianças, pessoas idosas e com deficiência a esse pavor.”


A gestão Cláudio Castro (PL) anunciou nesta quarta-feira (29) que, ao todo, a operação deixou 121 mortos, incluindo quatro policiais. O governador classificou a ação como “um sucesso”.


Nesta quinta, o grupo de ministros do governo Lula realizou uma reunião na sede da Cufa (Central Única das Favelas), próximo à praça São Lucas, onde os corpos dos mortos foram colocados na quarta-feira.


Antes da fala das ministras, familiares de mortos deram depoimentos sobre o desespero que eles e a comunidade enfrentaram durante a operação e a busca pelos corpos na mata da Serra da Misericórdia.
A ministra afirmou que a Polícia Federal colocou à disposição peritos.


Macaé anunciou ainda uma série de medidas para dar suporte aos familiares e moradores, incluindo atendimento psicossocial e proteção às testemunhas, especialmente crianças.


“Tem uma questão da segurança pública, mas segurança é direito de toda a população. Não adianta segurança se não tiver associada a políticas públicas de saúde educação”, disse Macaé.


Um morador pediu a palavra durante a fala de Macaé: “Ministra, tem que ter as imagens das câmaras [das fardas dos policiais], não mostraram nada ainda”. Macaé ficou de incluir a reivindicação na pauta.


Com a voz embargada, a ministra Anielle Franco afirmou: “Só quem sabe da favela é o favelado. Ser cria da favela da Maré me faz chegar nesse espaço e nunca esquecer de onde vim”.


Entre os deputados federais na comitiva estavam Benedita da Silva (PT-RJ), Reimont (PT-RJ, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara), Glauber Braga (PSOL-RJ) e Otoni de Paula (MDB-RJ).


MURO DO BOPE


Segundo o secretário da PM, coronel Marcelo Menezes, na operação desta terça-feira, o Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) fez uma espécie de muro: policiais caminharam até a serra da Misericórdia e cercaram os suspeitos na mata, onde havia outro grupo do Bope aguardando.


“O que a gente fez de diferente nessa operação foi a incursão de homens do Bope na área mais alta da montanha, (…) criando o que a gente chamou de muro do Bope, ou seja, policiais incursionados nessa área, fazendo com que os marginais fossem empurrados”, disse.


A serra da Misericórdia tem pouco mais de 300 mil metros quadrados e reúne maciços que variam entre 100 metros e 200 metros de altitude —o Alemão fica a 167 metros de altitude, e a Penha a 111 metros.


Com vegetação de reflorestamento, a serra cobre os bairros de Tomás Coelho, Engenho da Rainha, Vicente de Carvalho —onde está o morro do Juramento, Penha e complexo do Alemão. As duas últimas localidades formam a região onde aconteceu a operação.


A região da mata dos dois complexos é usada por traficantes do Comando Vermelho para fuga, esconderijo, e também é a região onde é realizado o chamado tribunal do tráfico, prática de assassinatos sob ordens de líderes locais.

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