As recentes intoxicações por metanol em São Paulo podem estar ligadas a uma engrenagem criminosa que vai além da falsificação de combustíveis.Segundo informações fornecidas pela Agência Brasil, a suspeita foi levantada nesta segunda-feira (29) pelo diretor de comunicação da Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF), Rodolpho Heck Ramazzinio, em entrevista à TV Brasil. Segundo ele, o produto, antes usado em esquemas de adulteração de gasolina, teria sido redirecionado para destilarias e distribuidoras clandestinas de bebidas após o fechamento de empresas investigadas na Operação Carbono Oculto.
De acordo com Ramazzinio, quando a Receita Federal e órgãos parceiros interditaram transportadoras ligadas ao PCC no fim de agosto, toneladas da substância ficaram estocadas sem destino. “Os tanques que não estavam nos pátios dessas empresas começaram a ser desovados em outras. Eles vendem para químicas, vendem também para destilarias clandestinas. Não estão nem aí com a saúde de ninguém”, afirmou.
Impacto bilionário e avanço das investigações
O cenário não é apenas de risco à saúde pública, mas também de enormes perdas econômicas. Dados do Anuário da Falsificação da ABCF revelam que, em 2024, o setor de bebidas perdeu R$ 88 bilhões devido ao mercado ilegal. Desse total, R$ 29 bilhões correspondem à sonegação de tributos e R$ 59 bilhões ao prejuízo direto das indústrias formais. Já a Operação Carbono Oculto atingiu aproximadamente mil postos de combustíveis associados ao esquema, movimentando R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024, segundo a Receita Federal.
Mortes confirmadas e alerta do governo
Enquanto isso, a situação se agrava no estado de São Paulo. Desde junho, seis intoxicações por metanol foram confirmadas, das quais três terminaram em morte: um homem de 58 anos em São Bernardo do Campo, outro de 54 anos na capital e um terceiro, de 45 anos, cuja residência ainda não foi identificada. Outras dez ocorrências seguem em análise.
O Centro de Vigilância Sanitária (CVS) fez um apelo à população para que evite bebidas sem rótulo ou procedência. “A recomendação é adquirir apenas produtos de fabricantes legalizados, com selo fiscal e lacre de segurança, prevenindo casos de intoxicação que podem colocar a vida em risco”, reforçou o órgão.