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Brasil

Mesmo sendo minoria no mercado de tecnologia, mulheres se sobressaem

O caminho ainda é longo para combater a desigualdade em busca de mais espaço no setor do suporte técnico

Redação Jornal de Brasília

28/09/2021 18h04

Foto: Tereza Neuberger

Por Amanda Karolyne
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Com apenas 20% de mulheres inseridas no mercado de tecnologia no Brasil, o caminho ainda é longo para combater a desigualdade em busca de mais espaço. E quando a mulher vai procurar suporte técnico, seus dados podem ficar vulneráveis e de fácil acesso. Como se não bastasse ter de se preocupar com o assédio diário, ainda tem de lidar com a invasão de privacidade. Em Brasília, são raras as empresas na área de tecnologia, que são comandadas por mulheres. Mas elas existem, uma delas é a InfoBlue na Ceilândia. Beatriz Caixeta, 24 anos, é a empresária por trás da marca que abriu em 2018.

Depois de perder o emprego no comércio, a empresária viu que não tinha faculdade para trabalhar para alguém, e assim não ia crescer ao trabalhar para os outros. “Fui atrás do meu, segundo minha mãe, eu sempre fui uma mulher turrona”, brinca. Ela e a namorada Jéssica Caixeta, 24, designer, decidiram investir no próprio negócio depois de perderem os empregos. Então ela foi conseguindo aos poucos, mesmo com o preconceito, e fez melhorias em sua loja. “As pessoas acham que por ser mulher, a gente não consegue, não tem a capacidade de aprender e que somos muito delicadas. Mas muitos caras aprenderam na prática também e não tinham formação, mas exigiam de mim”, completa.

Ela entrou para o mercado inicialmente como vendedora de jogos de videogame, na área da informática e eletrônicos no geral. Ela comenta que, por mais estranho que seja, as pessoas gostavam de ser atendidas por ela. “Achavam bacana que eu gostasse de jogos e entendesse de assuntos da área de informática”, conta. No comércio ela tinha o público mais masculino, mulheres eram clientes raras. E ela destaca que por mais que haja preconceito e machismo, muitas vezes a rejeição vem de mulheres contra mulheres. Hoje em dia ainda é comum os homens me aceitarem mais que as mulheres.”

A técnica aponta que a primeira loja que teve contato com mulheres que faziam esse serviço foi em seu próprio negócio. “Não é comum, e por causa disso passamos por preconceito”, completa. No entanto, ela costuma escutar que a loja é bem organizada e transmite confiança por ser de mulheres.

Números

Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, o crescimento de 60% na representatividade feminina na área de TI nos últimos cinco anos – passando de 27,9 mil mulheres para 44,5 mil. Ainda assim, são menos mulheres no mercado. Como aponta a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a porcentagem de mulheres matriculadas em cursos de TI do ensino superior é apenas de 35%. Essa área de exatas foi estereotipada como do gênero masculino, e as mulheres que sonham em seguir a carreira enfrentam várias dificuldades na área, como a perspectiva de crescimento profissional e a promoção para cargos de liderança.

O documento “Mulheres na ciência e tecnologia: como derrubar as paredes de cristal na América Latina”, dos programas de Proteção Social e Desenvolvimento Econômico do Centro de Implementação de Políticas Públicas para a Equidade e Crescimento (CIPPEC), que analisou esse grupo minoritário na Argentina, Brasil e México, destaca que do total de pessoas empregadas em setores relacionados a ciência e tecnologia, somente um terço são mulheres. As mulheres dos três países em análise, são quem mais frequenta a universidade, mas nas áreas de tecnologia e ciências a participação das mesmas nos cursos superiores é reduzida, com o total de 34% no Brasil sendo graduadas nesses segmentos, e 20% das mulheres empregadas.

O problema maior dos homens, segundo a empresária Beatriz Caixeta, é com a aparência dela e suas tatuagens. Ela já está acostumada a lidar com os homens que tentam ensinar o trabalho para ela, este que ela sabe muito bem fazer. Sempre fez cursos na área e mexia com os aparelhos eletrônicos desde pequena, sempre com interesse em tecnologia. “Só assim que aprendi. Já pensei em fazer faculdade, mas a área é muito abrangente e poucas mulheres se formam por ser um peso muito grande a carregar”, afirma. “É assustador para os homens ver mulher na área que eles falam que é pra ser deles, já escutei alguns falando que quem faz isso é só homem”, comenta Beatriz, que acredita que os homens acham que controlam esse mercado, por isso as poucas mulheres que conseguem se formar carregam um peso muito grande no meio tecnológico.

Para a mulher é exigido duas vezes mais que para os homens, e para tentar se garantir, Beatriz já até deixa os certificados de seus cursos expostos nas paredes da loja. “Tentativa de me preparar para evitar comentários, mas não evita muito. Querendo ou não, tem muita pergunta preconceituosa”, explica.
Ela fala com muito orgulho, que essa experiência de ser uma das mulheres mais conhecidas do Shopping Popular, onde fica localizada a InfoBlue, é gratificante. “Tento sempre fazer o melhor trabalho possível, e escutar as pessoas falando que indicaram meu trabalho, ou que só gostam do meu trabalho de mais ninguém, é um motivo de muita alegria para mim”.

Pretensão

Ela tem o desejo de abrir mais lojas e colocar mais mulheres como funcionárias, com o pensamento de fazer cursos para que elas possam desenvolver o conhecimento e trabalhar até de casa, conquistando o delas. Planeja expandir o negócio, até então somente as duas trabalham. Beatriz acredita que para as mulheres crescerem nesse meio também falta união entre elas. “Falta andar de mãos dadas, por mais que as pessoas pensem que são concorrentes, vamos crescer juntas”, finaliza.

Para a empresária, computador e celular são coisas muito particulares, e que se ela fosse cliente e não soubesse como consertar os próprios aparelhos, preferiria levá-los a uma técnica. “É igual ser atendido por ginecologista, prefiro procurar uma médica, mesmo que falem que o ginecologista é ótimo. Me sinto mais segura”, afirma. Ela afirma que já escutou técnicos falarem que olham os arquivos de suas clientes. “Quando cliente pede para salvar arquivos, eu salvo tudo sem olhar os itens, vou numa propriedade que bate a quantidade de arquivos para fazer a confirmação da quantidade de itens para passar para o hd novo”, explica. Ela conta que essa é a melhor forma de trabalhar, porque assim se é indicado e cresce no mercado. “E isso volta para você, porque quando a gente planta o bem para colhe o bem”, termina.

O meio digital já não é mais terra sem lei, mas a Lei Geral de Proteção de Dados ainda é muito nova e ainda desconhecida para muitos. De acordo com a Secretária Geral Adjunta da Comissão de Direito Digital da OAB/DF, Natália Baldoino Marques, a intimidade é um direito constitucional que quando violado é considerado como dano moral. De acordo com a advogada, o acesso a informações privadas sem a autorização de clientes, é considerado uma forma de danos morais.

Ela dá dicas de como se proteger na prática. Para se precaver de levar um notebook para conserto e acabar tendo os arquivos acessados ilegalmente. A começar pelo lado técnico: instalar autenticação, em que quando se vai acessar os aplicativos, a autenticação pede uma mensagem que notifica o celular, tem do Google, do Whatsapp, Instagram, e outros aplicativos que fazem o bloqueio.

“E talvez seja um pouco óbvio, mas essa dica de não fornecer senha em nenhum momento, mesmo com boa porque as pessoas abusam”, afirma. E ainda, colocar os dados íntimos numa nuvem que pode ser acessada de qualquer lugar, mudar a senha e realizar bloqueio se necessário. Além de não colocar senha em blocos de notas. E por fim, procurar pessoas confiáveis. “E no mínimo de desconfiança, agir. Porque a tendência é que o mundo digital tenha cada vez mais meios da pessoa ser protegida pela lei”, completa a advogada.

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