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Brasil

Médico da Santa Casa é afastado por suspeito de abuso sexual durante cirurgia

Funcionários do hospital disseram na condição do anonimato, que o episódio aconteceu há duas semanas, durante uma cirurgia de mão

Redação Jornal de Brasília

08/05/2024 6h50

Foto: Santa Casa de São Paulo

ISABELLA MENON
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O médico residente de ortopedia Ramiro Carvalho Neto, 33, foi afastado da Santa Casa de São Paulo sob suspeita de importunação sexual durante uma cirurgia. A instituição confirmou o caso por meio de nota.

Funcionários do hospital, que pediram para não serem identificados, disseram que o episódio aconteceu há duas semanas, durante uma cirurgia de mão. Testemunhas afirmam que durante o procedimento, Ramiro teria passado a mão nas regiões íntimas da paciente.

Ainda de acordo com essas pessoas, os médicos presentes filmaram a ação dele, que foi denunciado para a direção do hospital.

A Folha tentou contato com o médico desde a manhã desta segunda-feira (6), por ligação, mensagem e rede sociais, mas não obteve contato até a publicação desta reportagem.

Um dos responsáveis pela denúncia encaminhou a cena gravada para a coordenação dos residentes da Santa Casa.

“A instituição recebeu denúncia anônima sobre importunação sexual ocorrida em suas dependências. O profissional envolvido foi imediatamente afastado após o recebimento da denuncia”, diz o hospital.

A Santa Casa afirma que foi “instaurada sindicância interna em que todos os cuidados estão sendo tomados para que a apuração ocorra de maneira irrestrita e sigilosa, para que seja preservada a privacidade da suposta vítima, a qual estamos prestando assistência e acolhimento”.

Ainda em nota, a instituição reitera que “repudia veementemente qualquer ato de assédio ou importunação que fira a dignidade humana, assim a sindicância seguirá no firme propósito de apurar toda e qualquer responsabilidade”.

O denunciado é residente do 5º ano de ortopedia e fazia subespecialização em mão.

A reportagem procurou o Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) que afirmou no dia 30 de abril que ainda não havia sido notificado sobre o caso.

Já o CFM (Conselho Federal de Medicina) disse que não tece comentários sobre casos concretos. O órgão afirmou ainda que após a denúncia, cabe ao Cremesp tomar as providências necessárias para apuração do caso, ficando o denunciado sujeito a responder a um processo ético-profissional. “Se condenado após julgamento, fica suscetível à aplicação de penalidades previstas em lei”.

Esta não é a primeira vez que o médico é denunciado por crimes sexuais. Enquanto cursava medicina, ele ficou um ano afastado após ser acusado de ter abusado de uma colega de faculdade durante os jogos universitários. O caso teria acontecido no fim de 2013.

A Folha não encontrou denúncias formais contra Ramiro nem na polícia nem na Justiça de São Paulo —tanto sobre o caso no hospital quanto sobre o caso da Unicamp.

A reportagem questionou a Santa Casa se ela formalizou a denúncia contra o médico para as autoridades policiais, porém não obteve retorno até a publicação desta reportagem.

A Unicamp abriu uma sindicância para analisar a denúncia contra Ramiro em 2014. A Folha teve acesso ao documento.

O caso aconteceu quando ele estava em um jogo universitário. Segundo a sindicância, uma estudante acordou durante a noite e percebeu que Ramiro estava com as mãos em suas partes íntimas e com o pênis a mostra.

O documento afirma ainda que ela e as amigas foram ofendidas por um grupo de alunos mais velhos no dia seguinte, após denunciarem o caso.

A sindicância diz ainda que há relatos que Ramiro teria mostrado o pênis para alunas da faculdade de medicina durante as competições.

A aluna que decidiu denunciá-lo à faculdade afirmou, em condição de anonimato, que o episódio a traumatizou e que não conseguiu frequentar a as aulas por meses. Ela não registrou boletim de ocorrência do caso.

Em depoimento à faculdade, Ramiro afirmou que usava um kilt —um tipo de saia masculina que era usada por alunos da universidade durante competições— nos jogos, sem cueca por baixo, e que durante a noite acreditava que seu braço ou perna podem ter encostado na aluna de forma não intencional.

Ele afirmou que tentou conversar com a denunciante, mas que ela chorava muito na ocasião e foi embora.

Depois, afirmou que mandou uma mensagem para a jovem, que não o respondeu. Ele disse ainda que tentou se explicar para as amigas e pediu desculpas lamentando que tivesse acontecido aquela confusão.

Na mensagem, ele reitera que a colega pode ter o visto pelado sem sua intenção. “Se isso ocorreu, eu sinto muito do fundo do meu coração”, disse ele. O médico, na época estudante, disse ainda na mensagem que a colega deixou os jogos universitários muito “chateada, com o que aconteceu, mas a acusação que você está fazendo é muito séria e pode afetar bastante minha vida acadêmica”.

Ele foi questionado pela universidade se não considerava atentado ao pudor andar de kilt sem cueca. Ramiro negou, e disse que só usava saias entre amigos. Ainda afirmou que “no colegial brincava com os amigos de mostrar a genitália e todos levavam numa boa”.

O documento aponta que ele ficou suspenso da faculdade por 90 dias —pessoas que estudavam na universidade na época afirmam que ele passou um ano afastado das aulas.

Em nota, a Simesp (Sindicato dos Médicos de São Paulo) diz que existe um ciclo que liga trotes abusivos nas faculdades de medicina a casos de assédio sexual perpetrados por médicos contra pacientes.

“A prática de trotes, muitas vezes marcada por humilhações, abusos físicos e psicológicos, cria um ambiente tóxico que não apenas afeta negativamente a formação humanística dos futuros médicos, mas também perpetua uma cultura de desrespeito e violação de limites”, diz a entidade.

Segundo o sindicato, “a correlação entre os trotes abusivos e o assédio sexual no ambiente médico reflete a necessidade urgente de uma reforma cultural dentro das faculdades de medicina e, por extensão, no seio da prática médica”.

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