A mãe do dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, de 26 anos, Maria de Fátima da Silva, de 56, afirmou que uma moradora do morro Pavão-Pavãozinho assistiu o momento da morte de DG. Maria de Fátima tenta convencer a mulher a prestar depoimento na 13ª Delegacia de Polícia (Ipanema).
“Ela assistiu a toda a tortura, me falou como foi (a morte). Ele levou o tiro e terminou de ser morto na creche. Meu filho foi assassinado com requintes de crueldade”, disse.
Moradores contaram que o dançarino, que não mora no morro, decidiu ir embora de uma festa após ouvir tiros. A favela estava sem luz. Amigos teriam pedido que Douglas seguisse um caminho alternativo e ele teria respondido que seguiria pela via principal porque “era um trabalhador e tinha o direito de ir e vir”. No caminho Douglas foi atingido por uma bala nas costas que atravessou o pulmão e saiu pelo ombro direito.
O corpo foi encontrado na manhã de terça-feira, 22, em uma creche no alto do morro. Durante a madrugada ouve tiroteio entre traficantes e policiais, mas ainda não é possível estabelecer relação entre a troca de tiros e o assassinato de Douglas.
De acordo com relatos de moradores para Maria de Fátima, policiais civis e militares foram até a creche na manhã de terça porque “pretendiam sumir com o corpo do meu filho”. Os moradores desconfiaram da movimentação na creche durante o feriado prolongado e foram ao local.
Ao perceberem que o corpo era de Douglas, começaram a protestar para que ele não fosse retirado do local. “Se passaram muitas horas desde que ele morreu. O local foi mexido. O corpo do meu filho estava molhado e não tinha chovido naquele dia. Eu não sou leiga.”
Maria de Fátima afirmou que haverá duas manifestações pacíficas contra a morte de Douglas: uma de mulheres vestidas de branco e outra de mototaxistas que trabalharam com DG no Pavão-Pavãozinho e no morro Dona Marta.
Beltrame
Poucas horas antes da enterro do dançarino Douglas Rafael da Silva, morto na favela do Pavão-Pavãozinho, na zona sul, o secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, prometeu elucidar o crime e reagiu à comparação com o caso do pedreiro Amarildo de Souza, morto por policiais da UPP na Rocinha, em 2013. O corpo de Amarildo nunca foi encontrado. “Quantos Amarildos o crime não produziu? Nós nunca podemos esquecer os dias que nós vivemos nessa cidade. Segurança pública é um jogo que não se vai ganhar. É um jogo que se empata e se procura controlar”, disse o secretário em entrevista ao programa “Encontro com Fátima Bernardes”, da TV Globo. O secretário disse que a credibilidade do projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) depende do esclarecimento de casos como o de Douglas. “A credibilidade desse projeto está na elucidação e na demonstração clara e evidente dos possíveis e supostos erros da polícia. Nós que somos agentes públicos infelizmente não temos o direito de errar, mas errar é humano. Vamos garantir a essa família a lisura, a transparência e o rigor na apuração desses fatos. Não podemos preliminarmente acusar as pessoas, mas também não vou preliminarmente defender a corporação”, disse Beltrame. O secretário manifestou “solidariedade à dor da família”, lembrou que teve uma irmã assassinada pelo ex-marido e prometeu: “podem acreditar na elucidação desse caso”.