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Brasil

Infelizmente

Termo que não saí de moda, a expressão; “véi”, foi lançada pela juventude brasiliense. Rolou muito, também, a introdução do pronome “tu”

Gustavo Mariani

08/08/2022 10h51

Após o golpe militar de 1964, mais precisamente pelo final da década, a palavra da moda ficou sendo “infraestrutura”. Era raro o dia em que não se ouvia no programa estatal radiofônico A Voz do Brasil, e nas demais falanças que os militares colocavam em nossos ouvidos, aquela adjetivação zunindo.

Veio a década-1970, e entraram na moda as palavras “trilegal” – surgida no Rio Grande do Sul, após a conquista do tri mundial de futebol, pela Seleção Brasileira, durante a Copa do Mundo promovida pelo México – e “alienado”. A qualquer motivo, alguém denegria alguém, intelectualmente, se não fosse de esquerda.

A década-1980 trouxe para a onda o termo “tudo bem”, lançado pela juventude. Tudo estava tão “tudo bem” que o modismo linguístico levou uma revista paulista para jovens a criar o personagem “Mister Tudo Bem”. Na verdade, não estava tudo bem, pois o país vivia momentos duríssimos da ditadura, os chamados “tempos de chumbo”, com denúncias de tortura e desaparecimentos de inimigos políticos.

O próximo termo da moda foi “véi”, lançado pela juventude brasiliense. Rolou muito, também, a introdução do pronome “tu”, muito conjugado na Brasília das décadas-60/70 por piauienses, maranhenses e cearenses. Espantosamente, gaúchos, também, o falavam, mas sem tanta constância.

O século mudou de numeração e a primeira década-2.000 trouxe para o linguajar da hora o termo “show de bola”, criação de marqueteiros televisivos, quando a bola não rlalava nenhum show pelos nossos gramados e com o escrete nacional há 22 Copas do Mundo sem passar a mão no caneco.

Próxima palavra usuadíssima, após 2010? “Comunidade”, substituindo favela. Era preciso aumentar o grau de valor social do ambiente. .

Desembarcamos em 2022 e o que mais ouvimos? O adjetivo “infelizmente”. Chega a encher o saco. Em novelas da TV, programas esportivos, noticiários e conversas pelas ruas o desnecessário termo toma conta do espaço. Desnecessário porque a adjetivação é uma antecipação da oração seguinte. Por exemplo: o motorista perdeu o controle do caro, bateu no poste e ficou com a frente do seu veículo destruída”. Por aí, o âncora do noticiário comenta: “Infelizmente!” Alguém diria “felizmente” pelo prejuízo que a batida deixara?

De onde vem tanta frequência no “infelizmente” da moda? Só pode ser por dois motivos: esses tempos de pandemia provocada pela Covid-19, a partir e 2020, a pior época, e do comportamento do Governo brasileiro. Este classificou a Covid por “gripezinha”; fez o que pode para não importar a vacina; abriu campo para inescrupulosos tentarem enriquecer com a pandemia, tudo documentado pela Polícia Federal; indicou medicamentos que não serviam para nada; levou o terror ao Sistema Único de Saúde-SUS e por isso e outros itens mais contribuiu para mais de 700 mil brasileiros chegarem ao final de suas vidas.

Na pior fase do negacionismo, o Brasil teve a pior atuação mundial no combate à pandemia; perdeu poder de negociação global; teve as suas fronteiras internacionais fechadas aos brasileiro e viu o mundo temoroso das variantes que por aqui surgiam, dentro do descaso sanitário do governo.

Se isso foi pouco, tivemos castigo financeiro às universidades, rotuladas por “ninho de comunistas”, e atravancamento da cultura. Mais: denúncias de corrupção por conta de emendas secretas; altíssimas taxas de desempregos (14 milhões); salário mínimo cada vez mais mínimo; aumento da miséria e da fome; volta da inflação de dois dígitos e completo descaso pela Amazônia, que encarou o seu pior índice de desmatamento, nas últimas 14 temporadas, apresentando 29% a mais de derrubadas de florestas só em 20221.

Pois é! O passaporte brazuca para o futuro, entre poucos, leva 76,3% de pessoas endividadas; precatórias devidos podendo atingir R$ 900 bilhões e passivo de R$ 140 bilhões. Só pode ser esta a razão de tanto se falar “infelizmente”, no momento – infelizmente!

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