A decisão da polícia de intervir para frustrar a tentativa de sequestro a um ônibus, nesta terça-feira (9), no Centro do Rio de Janeiro, foi acertada, apesar de o evento ter ocorrido em uma das principais e mais movimentadas avenidas da cidade, avaliou nesta quarta (10) a cientista política Jacqueline Muniz, especialista em segurança pública. Para ela, no entanto, a qualidade da ação precisa ser analisada a partir dos resultados dos laudos da perícia, que ainda não foi concluída.
Segundo a especialista, um possível recuo da polícia para preservar a vida de passageiros e pedestres não garantiria a evolução segura do caso, sem mortos ou feridos. Durante a ação, policiais armados de fuzis e pistolas se posicionaram próximo ao coletivo, que teve os pneus furados após duas tentativas de fuga dos criminosos. Apesar de terem sido encontradas diversas marcas de tiro na lataria, a perícia ainda não concluiu de onde partiram os disparos. De acordo com depoimentos de testemunhas e de passageiros os tiros não foram efetuados pelos sequestradores.
“É uma decisão muito perigosa e problemática quando a polícia toma conhecimento de um crime em andamento e decide não agir e permitir que o assalto evolua porque avalia que o risco de uma intervenção seria muito grande para as vítimas. Não se pode combinar com os bandidos que eles vão concluir seu assalto sem vitimar ninguém”, afirmou.
“Além disso, agravaria o temor de todos nós de que a polícia perdeu seu papel de garantir a segurança, porque ela teria visto um crime e se recusado a agir. Por isso, era oportuna a intervenção policial”, avaliou, acrescentando que é exatamente no espaço urbano, com seu movimento e dinâmica, que a segurança pública deve ser feita.
Jacqueline Muniz destacou, no entanto, que armas letais só devem ser usadas pelas forças policiais como último recurso.
“A polícia é treinada para não atirar primeiro. Naquele caso especificamente era ainda mais complicado porque o ônibus estava em movimento e a visibilidade estava prejudicada pelos vidros escuros. Os reféns poderiam estar servindo de escudo humano”, afirmou.
Três passageiros feridos durante a tentativa de sequestro continuam internados no Hospital Municipal Souza Aguiar, no centro. O assaltante Jean Junior da Costa, que tem plano de saúde, está internado em uma unidade particular, na zona sul.
Até agora, três suspeitos foram presos. Um quarto suspeito foi reconhecido por testemunhas no catálogo de fotos da Polícia Civil e já teve o mandado de prisão preventiva expedido. Desde a madrugada, 35 pessoas, entre passageiros, testemunhas e policiais prestaram depoimentos.