O empresário Fernando dos Santos Andrade Cavalcanti, investigado na Operação Sem Desconto, compareceu nesta segunda-feira (6) à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, mas preferiu ficar em silêncio após responder às primeiras perguntas do relator, deputado Alfredo Gaspar (União-AL).
Segundo informações da Agência Brasil, o advogado de Cavalcanti, Thiago Machado, informou que o depoente não responderia às demais perguntas. Ele se amparou em um habeas corpus concedido pelo ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), que o autoriza a não se manifestar sobre pontos que possam incriminá-lo.
Investigado por esquema milionário
Cavalcanti foi alvo da operação que apura um esquema de descontos irregulares em benefícios do INSS, envolvendo advogados, empresários e associações de aposentados. Ex-sócio do advogado Nelson Willians, ele é apontado como um dos beneficiários do esquema. Durante a sessão, porém, negou as acusações e disse jamais ter atuado como “laranja” ou recebido recursos de forma indevida.
O empresário afirmou que todos os seus ganhos eram compatíveis com suas funções e que os bens apreendidos pela Polícia Federal (PF) — entre eles mais de 20 veículos de luxo, uma Ferrari avaliada em R$ 4,5 milhões, relógios e vinhos raros — foram comprados legalmente, muitos ainda em financiamento.
Patrimônio em xeque
O relator questionou a evolução patrimonial de Cavalcanti, lembrando que, antes de atuar com Nelson Willians, ele trabalhava como assessor na Assembleia Legislativa de São Paulo, com salário de cerca de R$ 5 mil mensais. O empresário confirmou que seu patrimônio está declarado no Imposto de Renda, mas se recusou a divulgar valores.
O presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), criticou a postura da defesa e afirmou que há evidências de um padrão de enriquecimento incompatível com a renda anterior de Cavalcanti. Segundo ele, o empresário integra uma rede de corrupção que “se infiltrou na previdência e envolveu políticos, servidores e empresários”.
Avanço das investigações
Os parlamentares aguardam uma resposta do ministro André Mendonça, do STF, sobre a possibilidade de convocar novamente Maurício Camisotti, outro investigado no caso, que obteve autorização judicial para não comparecer à CPMI.
Uma das entidades sob suspeita é a Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (AMBEC), cuja arrecadação disparou de R$ 135 mil em 2021 para R$ 91 milhões em 2023, segundo dados apresentados à comissão.