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O delegado Moysés Santana Gomes, titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes do Rio de Janeiro, afirmou que drones registraram cerca de 70 traficantes armados com fuzis fazendo a segurança de uma das casas de Edgar Alves de Andrade, o Doca, liderança máxima do Comando Vermelho em liberdade. Imagens são anteriores à operação mais letal da história no Brasil.
Doca conseguiu escapar durante a ação policial no Complexo da Penha. O monitoramento aéreo foi feito como parte do planejamento para a megaoperação na Penha, que deixou 121 mortos, no dia 28 de outubro.
Traficantes estavam preparados, armados e se concentravam na porta da casa de Doca. Declaração foi feita por Moysés Santana em depoimento ao Ministério Público do Rio, na última segunda-feira (10). As imagens citadas, porém, não constam no documento enviado ao STF. “Até o início das incursões das forças policiais, nós já estávamos com monitoramento aéreo, então, nós sabíamos que havia um grupo grande de traficantes, que estavam posicionados, no início da operação, em frente à casa do Doca. Essa informação da casa dele, inclusive, está nos autos. […] Eram mais de 70, todos armados com fuzis, preparados e se concentravam na porta da casa dele”, afirmou o delegado.
Delegado explicou que Doca é um traficante de enfrentamento, que gosta de confrontar as forças policiais. “Então, a gente estava preparado para encontrar uma resistência muito grande e sabia que teríamos dificuldades e foi o que acabou de fato acontecendo”, disse Santana.
Data da megaoperação foi adiada algumas vezes. Segundo o delegado, questões climáticas e motivos logísticos, como um muro construído por traficantes em uma das entradas do Complexo do Alemão, atrasou ação das forças policiais.
O Disque Denúncia oferece uma recompensa de R$ 100 mil por informações sobre Doca. Esse é o mesmo valor oferecido por informações do paradeiro do Fernandinho Beira-Mar.
“Esse planejamento ensejou diversas diligências, voos de drones durante meses, várias oportunidades, então mapeamos toda a comunidade Complexo da Penha,todas as barricadas, dezenas de barricadas foram mapeadas, nós temos isso em mapa, tem os pontos de contenção armada com fuzil, foram feitos voos dedrone, temos essas imagens, cada barricada com trilhos, pneus, algumas com carro, pneu dentro do carro, em cima dos carros, fica tudo pronto, previamente preparado para o caso de operação policial, eles atearem fogo”, disse Moysés Santana Gomes.
QUEM É DOCA
Edgar Alves Andrade, o Doca ou Urso, é o principal líder do CV em liberdade. Ele é apontado pela polícia como a liderança mais violenta da facção e responsável por adotar uma postura de enfrentamento ao Estado, além de fomentar roubos a pessoas, veículos e cargas.
Doca tem 269 registros criminais e 26 mandados de prisão em aberto. Além de atuar como chefe do Complexo da Penha, ele também comanda outras comunidades, como Vila Kosmos, Juramento, Quitungo, Guaporé e Ipase.
Líder do CV também coordenou guerras para expandir a facção, de acordo com a Polícia Civil. Doca é investigado por ordenar e financiar confrontos armados que terminaram com a invasão de diversas regiões da cidade, como Rio das Pedras, Muzema, Morro do Banco, César Maia, Gardênia Azul e Itanhangá.
O quartel-general de Urso é o Complexo da Penha, um aglomerado de 13 favelas na zona norte. O local é descrito pelo MP como “uma fortaleza do crime, de difícil acesso”, onde traficantes usam fuzis.
Ele também tem forte influência no Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, também na zona norte. A favela, berço de um dos fundadores do CV, José Carlos dos Reis Encina, o Escadinha, nesta quinta-feira (13) é palco de confrontos intensos com o TCP.
O Complexo do Alemão, também na zona norte, ainda é a base financeira do CV. Em janeiro, Urso comemorou seu aniversário no local. No dia seguinte, uma megaoperação com 500 policiais foi deflagrada na comunidade para combater o tráfico de drogas no local, resultando em três mortes.