Menu
Brasil

Dos 110 fabricantes de protetor solar no Brasil, só quatro têm produto para pele negra, diz pesquisa

As constatações pertencem ao levantamento Afroconsumo 2021, elaborado pela NielsenIQ, consultoria global especializada em varejo

FolhaPress

25/11/2021 11h31

Daniele Madureira
Brasília, DF

O consumo das famílias negras e brancas é muito semelhante nas diversas categorias de produtos. A diferença mais significativa está na cesta de produtos de higiene pessoal e beleza, que consome 29,8% dos gastos dos lares negros e 28,8% dos lares brancos.

Essa prevalência do consumo das famílias negras, no entanto, não é acompanhada pela indústria e varejo com uma produção e distribuição adequada, e é comum os produtos não chegarem a grande parte das gôndolas.

As constatações pertencem ao levantamento Afroconsumo 2021, elaborado pela NielsenIQ, consultoria global especializada em varejo. De acordo com a pesquisa, a categoria higiene e beleza é a maior cesta em ambos os públicos, negros e brancos, seguida por mercearia doce e bebidas não alcoólicas.

Dentro da cesta de higiene e beleza, a NielsenIQ destaca a Cesta Afro, que reúne as linhas de protetor solar/bronzeador, xampu, pós-xampu, maquiagem e modeladores de cabelo voltados à população negra.

Esta Cesta Afro representou 6,5% do mercado total de higiene e beleza, o equivalente a um consumo de R$ 657,1 milhões, nos 12 meses de outubro de 2020 a setembro de 2021.

Mas segue ignorada por parte da indústria. Segundo o levantamento da Nielsen, de cerca de 110 fabricantes de protetor solar, por exemplo, apenas quatro têm produtos afro.

O mercado de higiene e beleza como um todo, entre outubro de 2020 e setembro de 2021, movimentou R$ 10,11 bilhões. Nele, o principal produto é o xampu (41,6% das vendas). Mas, na Cesta Afro, a categoria mais vendida é o pós-xampu (61%), seguida por xampu (27,7%), protetor e bronzeador (7,8%), maquiagem (2,2%) e modelador de cabelo (1,3%).

De acordo com o levantamento, a Cesta Afro não está devidamente representada no canal de farmácias – que responde por 26,4% das vendas de produtos afro, frente à média de 34,7% das vendas de higiene e beleza em geral.

Em contrapartida, existe uma presença maior dos produtos da Cesta Afro no canal atacarejo, que responde por 25,7% das vendas da cesta, enquanto que, do mercado de higiene e beleza como um todo, representa 21,7%.

Também o canal perfumarias responde por uma fatia maior da Cesta Afro, quando comparado às vendas de higiene e beleza em geral: 8,6%, frente a 6,10%.

“A Cesta Afro apresenta menor distribuição na maioria dos canais”, diz Domenico Tremaroli, diretor de atendimento da NielsenIQ. “Há um grande potencial de consumo de produtos de higiene e beleza entre as famílias negras, que não está sendo devidamente aproveitado pelo varejo”, afirma.

A maquiagem afro, por exemplo, só aparece em 10% das farmácias, enquanto a categoria maquiagem alcança quase 100% do canal. Da mesma maneira, o pós xampu afro chega a 50% dos supermercados (autosserviço), enquanto a categoria pós xampu está em praticamente todos os pontos. Também nos supermercados, a categoria protetor solar chega a 80% das lojas, nas quais o produto da cesta afro simplesmente não existe.

Falhas na distribuição respondem por parte desta discrepância, segundo o executivo. “Quando existe o produto na gôndola, a um preço competitivo ou embalagem promocional, o consumidor leva. O problema é que os itens da Cesta Afro não chegam a um número relevante de pontos de venda”, diz ele, reforçando que, apesar de a penetração da a maioria das categorias ser maior dentro dos lares brancos, os lares negros ainda representam o maior potencial.

A NielsenIQ apontou que as famílias negras e pardas compõem 52% dos lares no Brasil, mas representam 47% do consumo. Os lares negros estão em sua maioria nas regiões Norte (71,8% da população), Nordeste (63,2%) e Centro-Oeste (53%) do país.

Durante a Covid-19, os lares negros foram os mais impactados: 59,3% deles tiveram a renda afetada durante a pandemia, frente a 54,5% dos lares brancos, indicou a pesquisa. Nos lares negros, 14,5% receberam auxílio emergencial, enquanto entre os brancos este percentual foi de 11,5%.

“Os lares negros são mais leais à cesta de produtos de higiene e beleza, mas existe um gap no atendimento a este público em algumas praças em especial, como São Paulo”, diz o executivo. “A cesta afroconsumo ainda é muito pequena, quando comparada ao seu potencial”.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado