São Paulo, 31 – Cerca de 33 milhões de brasileiros com 14 anos ou mais já participaram de algum jogo de aposta ao menos uma vez na vida. Limitando ao público de 14 a 18 anos, 10,9% já participaram de alguma atividade do tipo, o que equivale a mais de 1 milhão de jovens. Os dados são do terceiro Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad III), fruto de uma parceria entre o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
As apostas esportivas são a principal forma de jogo de aposta entre os adolescentes brasileiros, seguidas por loterias e jogos de cartas com dinheiro.
Mas a expectativa de retorno financeiro não é a principal razão para apostar. As principais motivações relatadas pelos jovens foram a curiosidade (37%) e a influência de amigos (28%). A esperança de ganhar dinheiro vem em terceiro lugar, com 25%.
Além disso, apenas 34% dos adolescentes consideram o ato de apostar como “muito arriscado”.
Perfil
O estudo mostra que a maior parte dos adolescentes que já jogaram tem entre 16 e 17 anos, e o envolvimento tende a crescer com a idade. Para os pesquisadores, isso representa um sinal de alerta claro e que demanda fiscalização, regulação do marketing e ações educativas voltadas especificamente para esse público.
O hábito é mais comum em áreas urbanas e em famílias com maior acesso à internet e dispositivos móveis. Mais de 70% dos que apostaram usaram plataformas digitais, muitas vezes por meio de sites e aplicativos estrangeiros, o que dificulta a fiscalização
Um ponto de destaque, segundo o estudo, é a exposição indireta às apostas e a normalização da prática, fatores que podem influenciar a participação dos mais jovens. Cerca de 52% dos adolescentes dizem conhecer alguém que aposta regularmente e 26% relatam ter familiares ou responsáveis que jogam.
Entre os jovens que já apostaram, 2,2% apresentaram sinais de comportamento problemático. Ou seja, mostram dificuldade em parar de jogar, mentem sobre o hábito ou apostam valores elevados.
O estudo observa que o envolvimento precoce com a prática está associado a maior risco de endividamento, evasão escolar e sintomas de ansiedade e depressão.
Recomendações
Os pesquisadores fazem uma série de recomendações para evitar o vício na prática. Entre elas estão restrições severas à publicidade, especialmente em veículos de imprensa e em horários acessíveis a menores, e proibição do uso de influenciadores, atletas e figuras públicas com apelo juvenil.
O modelo britânico e o espanhol são citados como exemplos positivos. Eles proíbem propagandas de apostas durante transmissões esportivas e em uniformes de clubes.
Os cientistas também propõem a criação de um órgão regulador independente, com poder de fiscalizar e aplicar sanções a empresas que descumpram as regras de proteção a menores e de comunicação responsável. A ideia é que o modelo siga referências internacionais, como o da United Kingdom Gambling Commission (UKGC).
O estudo sugere ainda que o governo implante sistemas automatizados de monitoramento que usem inteligência artificial para identificar perfis com comportamento compulsivo ou irregular, além de permitir auditorias internas e bloqueios automáticos quando padrões de risco forem detectados. Essas ferramentas, defende o grupo, deveriam ser usadas para impedir o acesso de menores e reconhecer o uso fraudulento de documentos.
Estadão Conteúdo