GUSTAVO GONÇALVES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Cursinhos pré-vestibulares afirmam que a anulação de três questões do Enem 2025 elevou a ansiedade dos estudantes e ampliou as dúvidas sobre a lisura do exame. Para educadores, o episódio tem impacto direto no emocional dos candidatos às vésperas de outros vestibulares importantes.
Nesta terça-feira (18), o MEC anulou três itens após vir à tona uma live em que um estudante de medicina exibiu, no YouTube, questões muito semelhantes às aplicadas no segundo dia da prova. O caso foi encaminhado à Polícia Federal. O Inep sustenta que as provas mantêm validade e que apenas “similaridades pontuais” foram encontradas.
Em vídeos nas redes sociais, o estudante Edcley Teixeira diz ter previsto as questões seguindo critérios permitidos e sem acesso a conteúdo sigiloso. Afirma ter memorizado itens ao participar, a convite do MEC, do Prêmio Capes. “O Enem inteiro é repetido. Eu descobri o padrão”, disse.
A reportagem também entrou em contato com Teixeira, mas não obteve resposta até a publicação.
Nas redes, candidatos expressaram receio sobre o impacto da anulação e a possibilidade de cancelamento do exame. O Inep reiterou que todos os protocolos de segurança foram cumpridos.
O diretor do Anglo Vestibulares afirmou à Folha de S.Paulo que o momento é de tensão e que a orientação é manter a calma. “Acreditamos no Inep como instituição e imaginamos que toda a investigação será feita como deve ser feita”, disse.
Segundo ele, o episódio se soma ao estresse natural da maratona de provas e ao período de espera pelos resultados. Relatou ainda que os alunos tentam equilibrar a preparação para outros vestibulares com a avalanche de informações que circularam ao longo do dia.
A preocupação também envolve o impacto na nota final. Wander Azanha, diretor do Oficina do Estudante, afirma que o cálculo da TRI (Teoria de Resposta ao Item) com 177 itense não 180 aumenta a sensação de incerteza. “E se justamente as questões anuladas eram muito fáceis? Isso interfere na TRI e gera medo sobre como ficará a nota. Universidades como a Unifesp usam nota bruta; terão só 177 itens para considerar.”
Azanha diz ainda que uma eventual identificação de mais itens comprometidos poderia levar à reaplicação da prova, o que alteraria o planejamento dos candidatos e reacenderia dúvidas sobre a realização de um novo Enem.
Apesar da instabilidade, os cursinhos orientam que os alunos mantenham o foco no calendário. “É importante não ficar preso a essa preocupação agora”, afirma Azanha. “Para muitos, vem a Famema [Faculdade de Medicina de Marília] na quinta-feira; para outros, a prova da Fuvest [do domingo].”