BRUNO LUCCA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Garotos de programa de São Paulo relatam estar sendo vítimas de roubos semanais no Sacomã, na zona sul da capital, e terem até mudado sua rotina de trabalho por medo.
Eles dizem ser atraídos àquela região por supostos clientes e, ao chegar, sofrer emboscadas.
Os profissionais atendem por meio de uma plataforma chamada Garoto com Local, a maior do país voltada a acompanhantes masculinos. Nela, os criminosos fariam perfis falsos e contratariam programas.
Às vezes, mandando até um carro por aplicativo. Ao chegar na rua indicada, os prostitutos seriam abordados por homens numa moto, tendo seus pertences levados.
Devido à frequência dos casos, compartilhados ao menos uma vez por semana, as vítimas solicitaram ajuda ao site, que respondeu não ter domínio sobre quem entra em contato com eles. A Folha também contatou a empresa, que afirmou não possuir assessoria de comunicação ou porta-voz para comentar o assunto no momento.
O Garoto Com Local recebe por anúncio publicado. É cobrado de R$ 150 a R$ 3.000, dependendo do destaque solicitado pelo usuário.
UM MÉTODO, MUITAS VÍTIMAS
Na madrugada de 20 de março, um garoto de programa foi chamado para um atendimento em Sacomã. Recém-chegado a São Paulo, esse seria seu primeiro trabalho na cidade. Ele marcou o serviço para 22h do dia seguinte.
Chegando lá, foi abordado por dois homens numa moto. Pediram todos os pertences da vítima, que teve uma arma apontada para sua cabeça, relata. Com o celular, os criminosos conseguiram acessar a conta bancária banco e levaram R$ 7.000.
O caso se espalhou em um grupo de WhatsApp com mais de 200 garotos de programa, e logo apareceram histórias iguais. Os profissionais até registraram boletins de ocorrência, mas afirmam ter encontrado resistência da polícia devido a sua profissão. Por isso, iniciaram uma investigação própria.
Eles descobriram os números de telefone usados pelos golpistas e perceberam um padrão em suas abordagens: os criminosos sempre enviam mensagens muito tarde, solicitam mais de uma hora de programa, não discutem valores, prometem pagamento em espécie e se oferecem para enviar um carro por aplicativo.
Os endereços passados por eles são sempre os mesmos. Nas ruas Protocolo, Marquês Maricá e Solemar, em Sacomã.
As vítimas seguem um perfil. São as contas mais novas na plataforma, os que iniciaram na carreira recentemente ou chegaram há pouco a São Paulo -a migração de jovens do interior ou de outros estados para o mercado de prostituição da capital é muito comum.
Os criminosos miram nessas pessoas porque quem trabalha há mais tempo na cidade já está atento aos golpes e até mudou sua rotina de atendimento, conta Leonardo, administrador do grupo no qual os relatos são compartilhados. Ele, como os demais homens, prefere não ter seu nome completo divulgado por medo de retaliação por parte da plataforma Garoto com Local.
Leonardo, por exemplo, passou a receber pessoas apenas em seu próprio apartamento. Outro homem relata ter passado a atender somente clientes mais antigos e conhecidos. Um terceiro diz ter começado a fazer programas a, no máximo, 4 quilômetros de casa, no centro.
As vítimas suspeitam de envolvimento de colegas de profissão na trama. Só assim, pensam, os criminosos dominariam tanto sobre a dinâmica de atendimento e como escolher seus alvos.
Os trabalhadores pedem para a plataforma colocar avisos a seus colaboradores sobre regiões perigosas em São Paulo, principalmente aos recém-cadastrados. O único meio de proteção oferecidos pelo site é a possibilidade de o anunciante fazer uma chamada de vídeo com o cliente antes do encontro. Isso, segundo as vítimas, é insuficiente.
Por enquanto, não houve resposta do Garoto com Local ao pedido.
A Polícia Civil diz investigar todos os casos devidamente registrados, visando localizar e prender os autores, bem como esclarecer todas as circunstâncias dos crimes. “Para isso, é imprescindível que as vítimas comuniquem os fatos por meio do boletim de ocorrência”, ressalta.
Segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública), a área da 2ª Delegacia Seccional de Polícia (Sul), que abrange o Sacomã, os roubos em geral apresentaram queda de 11,41% entre janeiro e setembro de 2025, em comparação ao período homólogo. No total, foram registrados 1.028 ocorrências menos.