TULIO KRUSE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Alvo do plano da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) para assassinar autoridades, o coordenador dos presídio da região oeste de São Paulo, Roberto Medina, não contava com escolta enquanto estava sendo monitorado. A prisão de homens em flagrante por tráfico de drogas e a consequente quebra de sigilo de mensagens em aparelhos celulares foram fatos decisivos para encontrar os indícios dos planos de assassinato, segundo os investigadores.
“O doutor Roberto Medina teve a vida salva graças a nossa investigação, porque ele já poderia ter sido executado”, declarou o promotor Lincoln Gakiya, do Ministério Público de São Paulo, que também era alvo dos planos que foram desbaratados na operação desta sexta-feira (24), batizada de Recon. “Ele estava sem escolta.”
Medina já estava na mira dos criminosos em uma outra ação também foi interrompida por uma operação da Promotoria em 2006. Ele já foi beneficiado com o serviço de segurança pessoal do Estado, mas preferiu dispensar a escolta 24 horas por dia ele não havia se adaptado à rotina de ser acompanhado constantemente por seguranças.
Questionada, a Secretaria de Administração penitenciária informou que “fornece escolta ao coordenador citado, detalhes serão preservados por medida de segurança”.
Após surgirem os primeiros indícios de que estava sendo monitorado, o coordenador solicitou novamente a proteção.
O Ministério Público suspeita de conexão entre o planejamento dos ataques contra Gakiya e Medina e outros casos similares que ocorreram nos últimos anos. Entre eles está o plano para matar o ex-juiz e atual senador Sergio Moro caso que também incluía Gakiya como alvo, com criminosos presos em 2023, o assassinato de uma psicóloga e o de policiais penais que trabalhavam no presídio federal de Catanduvas (PR), de segurança máxima.
Gakiya vê coincidências também entre a trama descoberta na Operação Recon e o assassinato do ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes, em Praia Grande (SP), em setembro. O promotor, o coordenador dos presídios e o ex-delegado-geral estavam sendo monitorados no mesmo período, em cidades diferentes do estado de São Paulo.
Medina é alvo de ordem de assassinato pelo PCC ao menos desde 2006, quando era diretor de uma penitenciária estadual em Araraquara, no interior paulista. A cúpula da facção estava presa nessa unidade durante os ataques contra policiais promovidos pela facção, e a ordem para matá-lo seria resultado de sua atuação durante esse período.
Já as ameaças contra Gakiya se intensificaram após a remoção de líderes da facção criminosa que estavam presos em unidades em Presidente Venceslau e Presidente Bernardes entre eles Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo do PCC, para que passassem a cumprir pena nas unidades de segurança máxima do sistema penitenciário federal. Cartas com ordens do seu assassinato foram apreendidas pela inteligência da Polícia Penal, à época.
As ordens de assassinato da facção continuam valendo mesmo vários anos após serem expedidas pela cúpula da facção. O Ministério Pùblico afirma ter notado uma retomada de planos antigos de ataque contra autoridades, numa intensificação das atividades do setor da facção criminosa responsável por esse tipo de crime.
Segundo o promotor, integrantes da chamada “Sintonia Restrita” do PCC setor responsável por planejar e autorizar ataques contra autoridades recebiam fotos, vídeos e informações do monitoramento da rotina de Medina e seus familiares e de Gakiya. “Essas imagens foram mandadas para integrantes da Sintonia Restrita”, ele afirmou.
“A Sintonia Restrita é um setor que foi criado pelo PCC justamente para cometer atentados contra policiais e autoridades e também resgates”, ele afirmou. “São integrantes que têm contato direto com a cúpula, estão em liberdade, normalmente são egressos ou foragidos.”
CASO REACENDE DEBATE SOBRE ESCOLTA E AGÊNCIA ANTIMÁFIA
O procurador-Geral de Justiça, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, defendeu nesta sexta que discussões sobre a garantia de proteção para agentes públicos que trabalham no combate ao crime organizado, mesmo após aposentadoria, sejam retomadas. Ele destacou que alguns projetos de lei que tratam do tema tramitam no Congresso Nacional.
“Qualquer país do mundo que teve ações dessa natureza reforçou, em primeiro lugar, a segurança dos agentes que combatem [o crime organizado], reforçou os mecanismos legais e todo o sistema de Justiça atuou”, disse Oliveira e Costa. “O Ministério Público apoia toda e qualquer iniciativa que vise buscar, através de legislação segura, garantir a segurança de autoridades, não só na ativa, ou quando venham se aposentar, enquanto existir a situação de risco.”
Há pouco mais de um mês, por exemplo, a Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que pretende garantir proteção pessoal e escolta a agentes de segurança pública e seus familiares.
Após a morte de Ferraz Fontes, três deputados estaduais Altair Morais (Republicanos), Delegado Olim (PP) e Paulo Fiorilo (PT) protocolaram projetos de lei nesta terça-feira (16) para garantir a proteção de autoridades que trabalham ou já trabalharam no combate ao crime organizado e sofram ameaças como era o caso do ex-delegado Ruy Ferraz, morto na Praia Grande na segunda-feira (15).
Ao comentar o contexto nacional de combate ao crime organizado, Gakiya voltou a defender uma agência nacional que coordene os esforços dos vários órgãos que atuam nessa área.
“A Agência Nacional Antimáfia seria uma boa medida para a coordenação dos trabalhos nessa área envolvendo criminalidade organizada mafiosa. Reunindo todas as instituições trabalhando de maneira cooperativa”, ele afirmou. “Numa comunhão de esforços, a gente conseguiria dar um passo decisivo para poder melhorar essa situação que hoje atingiu um patamar insustentável.”