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Brasil

Comando Vermelho estende domínios no país e indica desafio além da Penha e Alemão

O CV atua em ao menos 22 estados brasileiros, aponta o Relatório do Mapa de Orcrim (Organizações Criminosas) 2024

Redação Jornal de Brasília

08/11/2025 12h22

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Foto: CHRISTIAN RIZZI / AFP

JOÃO PEDRO PITOMBO E BRUNA FANTTI

SALVADOR, BA, E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

Uma queima de fogos de artifício anunciou em 2020 o domínio da facção Comando Vermelho sobre o Nordeste de Amaralina, complexo formado por quatro bairros onde moram cerca de 70 mil pessoas em Salvador.

A região, que tem geografia complexa e fica próximo a bairros ricos, se tornou o quartel-general do CV, que se espalhou por outros bairros da capital baiana. A disputa de territórios que pressionou comunidades e fez crescer o número de mortes violentas em Salvador.

Os complexos da Penha e Alemão, onde 121 pessoas foram mortas na operação Contenção, no Rio de Janeiro, representam apenas uma pequena parcela do domínio territorial da facção criada nos anos 1970 na capital fluminense.

Funcionando em um sistema parecido ao das franquias, o CV avança pelo país, desafia o poder público e se estabelece com ações de domínio territorial que já não se limita ao tráfico de drogas.

O grupo é conhecido por práticas como a extorsão de comerciantes, a exploração ilegal de serviços de energia, gás e acesso à internet, a implantação de barricadas e sistemas de videomonitoramento nos bairros, além de ter um perfil mais agressivo de afrontar as forças de segurança.

O CV atua em ao menos 22 estados brasileiros, aponta o Relatório do Mapa de Orcrim (Organizações Criminosas) 2024, elaborado pelo Ministério da Justiça e divulgado em setembro do ano passado.

Nacionalmente, disputa espaço com o PCC (Primeiro Comando da Capital), TCP (Terceiro Comando Puro), além de grupos criminosos locais. Nos últimos anos, tem ganhado espaço em estados como Bahia, Ceará e Espírito Santo.

No Rio de Janeiro, apesar de os complexos da Penha e do Alemão serem classificados como quartéis-generais do Comando Vermelho, a mesma definição já foi aplicada ao Complexo da Maré, também na zona norte, que reúne 16 favelas. Em 14 dessas comunidades, a facção mantém influência direta, enquanto as demais áreas estão sob domínio do TCP.

A Maré é considerada estratégica para o escoamento de armas, por cortar importantes vias expressas da cidade, como a Linha Amarela, a Linha Vermelha e a avenida Brasil, e por ser delimitada pela Baía de Guanabara, cujas rotas marítimas também são utilizadas pelo tráfico.

Já a Rocinha, na zona sul, funciona como reduto de fuga para lideranças do tráfico. Por estar localizada em uma área turística da cidade, setores policiais afirmam que qualquer operação na comunidade tem repercussão midiática imediata, motivo pelo qual intervenções são frequentemente evitadas.

Além disso, a densidade populacional, estimada em cerca de 119 mil habitantes por quilômetro quadrado, uma das maiores do mundo, aumenta o risco de civis inocentes serem atingidos durante confrontos.

A topografia íngreme da Rocinha e sua única entrada por via terrestre tornam qualquer operação ainda mais complexa. Informações policiais indicam que Edgar Alves, o Doca, 55, teria buscado refúgio na comunidade durante a operação na Penha e Alemão.

Outro reduto do CV no estado é o complexo do Salgueiro, em Niterói, na região metropolitana. De lá, segundo relatos, teriam partido ordens para o fechamento da rodovia Niterói-Manilha, que liga a capital à Região dos Lagos, após o anúncio das primeiras mortes da operação do dia 28 de outubro.

Nos últimos dois anos, o CV assumiu o controle de pelo menos dez comunidades na nova zona sudoeste, em uma ofensiva para criar o que a polícia chama de “cinturão territorial”, com rotas de fuga pela Floresta da Tijuca.

O governo do Rio anunciou um projeto de retomada territorial que deve começar com operações em Rio das Pedras, Gardênia e Muzema. São regiões com presença das principais facções, cuja localização facilita conexões logísticas, e ficam em áreas em expansão urbana e econômica.

Na Bahia, a chegada do CV há cinco anos –incorporando a facção Comando da Paz– acirrou a disputa por territórios na capital, interior e até mesmo pequenos vilarejos como Caraíva, distrito de Porto Seguro que foi alvo de duas operações recentes da polícia.

O estado contabiliza 21 facções criminosas, sendo as principais o CV, o TCP e BDM (Bonde do Maluco), aliado do PCC (Primeiro Comando da Capital), além e grupos com atuação mais local.

Na Grande Salvador, o Comando Vermelho passou a prevalecer em bairros como Periperi, Vila Verde, Mussurunga, Engomadeira, Gamboa e Liberdade. Este último foi o epicentro de uma operação policial na última terça-feira (4) que resultou na prisão de 37 pessoas e na morte de um suspeito.

“Essas facções violentam a nossa sociedade, muitas comunidades que se sentem ameaçadas. Por isso a gente vem realizando operações justamente para evitar que haja estabelecimento de barricadas e videomonitoramento”, diz Marcelo Werner, secretário de Segurança Pública da Bahia.

O comandante-geral da PM da Bahia, coronel Antônio Carlos Silva Magalhães, afirma que não existe domínio das facções sobre comunidades e que a polícia tem ampliado suas ações em áreas de possíveis conflitos: “Criminosos que tentarem enfrentar o estado terão resposta com força correspondente”.

Pesquisa Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta que facções criminosas e milícias aumentaram sua presença no Brasil e alcançaram a vizinhança de 19% da população brasileira –cerca de 28,5 milhões de pessoas conviveram com o crime organizado no bairro onde vivem.

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