JÉSSICA MAES
BELÉM, PA (FOLHAPRESS)
A Colômbia declarou nesta quinta-feira (13) ser o primeiro país a deixar de explorar combustíveis fósseis ou mineração em larga escala na floresta amazônica.
O anúncio aconteceu durante a reunião de ministros do Meio Ambiente da OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica), realizada na COP30, a conferência das Nações Unidas sobre mudança climática, em Belém.
Na ocasião, os colombianos convidaram os outros países que abrigam o bioma amazônico a fazer o mesmo, tornando a floresta “o coração da ação climática, justiça ambiental e paz com a natureza”.
Segundo estimativas da ONG Earth Insight, 14% da floresta amazônica continental é sobreposta a blocos de petróleo e gás, o que equivale a 740 mil km² -mais do que o dobro da área do estado de Goiás.
“Embora a Colômbia represente apenas 7% do bioma amazônico, a amazônia é 42% do nosso território nacional, e é por isso que decidimos protegê-la em sua totalidade”, disse a ministra interina do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do país, Irene Vélez Torres. A área protegida é de mais de 483 mil km².
“Cuidar da Amazônia não é um sacrifício econômico; é um investimento ético no futuro da região e da humanidade”, acrescentou.
As outras nações amazônicas, porém, não parecem ter a intenção de fazer o mesmo tão cedo –a exemplo do Brasil, que já explora gás em terra e prospecta petróleo offshore, na bacia da Foz do Amazonas.
Em um evento da COP nesta sexta-feira (14), o cacique Jonas Mura, da aldeia Gavião Real, em Silves (AM), lamentou a exploração de gás pela Eneva no território de seu povo, ainda não homologado. O cacique faz parte de uma aliança que pede que florestas tropicais sejam consideradas uma zona de exclusão dos combustíveis fósseis.
“Já estão extraindo gás natural em um território que é nosso e é sagrado”, afirmou. “Estamos ficando sem água potável, sem peixe, sem a nossa floresta. Ela está sendo destruída”.
O nível de dependência dos combustíveis fósseis amazônicos varia entre os diferentes países. Alguns precisam muito desses estoques, como a Bolívia (que é um grande exportador do gás extraído na floresta), e outros menos, como a Colômbia (em que a maior parte das reservas está na região conhecida como Orinoquia, no leste do país).
O movimento colombiano já tinha sido ensaiado em 2023, durante a Cúpula da Amazônia, encontro dos países membros da OTCA, que também aconteceu em Belém. Na época, a pauta opôs os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Colômbia, Gustavo Petro, que chegou a acusar a esquerda de negacionismo climático ao se recusar a adotar a pauta.
O setor de mineração e energia representa 7% do PIB colombiano, gerando 33% do investimento estrangeiro, 56% das exportações e mais de 500 mil empregos formais.
Na cúpula de líderes mundiais que antecedeu a COP30, Petro puxou a orelha dos outros chefes de Estado e governo participantes, dizendo que estavam falhando no combate à crise climática.
“Essa falha é causada sobretudo pelos interesses do petróleo e gás nesta assembleia. Em todas as COPs, o desejo de ter ganhos e lucros é contra a vida. E isso é imoral, não é humano”, afirmou. “Após 29 COPs, estamos enfrentando um fracasso, que pode ser medido pela ciência por meio da temperatura”, disse ele, em referência ao aquecimento global.
A pauta climática é tão central para Petro que, no início de seu governo, escolheu Vélez Torres, ex-ativista ambiental e atual ministra interina do Meio Ambiente, para chefiar a pasta de Minas e Energia.
“[O anúncio da Colômbia] mostra que escolhas políticas ousadas são possíveis -que priorizam a vida, a estabilidade climática e a proteção da maior floresta tropical do mundo”, afirmou a organizadora da ONG 350.org no país, Helena Mullënbach.
“No entanto, o sucesso e a legitimidade desse compromisso dependem de se os povos indígenas -os guardiões históricos da amazônia colombiana– irão liderar e moldar plenamente esse processo junto ao governo”, ponderou, lembrando o caso do projeto da mina da empresa Libero Copper na região de Putumayo, que é acusado de violar direitos de povos tradicionais.