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Brasil

Cirurgia de próstata menos invasiva é feita pela primeira vez em hospital do SUS em SP

Com o sucesso da operação, a embolização pode ser uma alternativa no SUS (Sistema Único de Saúde) ao protocolo de atendimento de pacientes com HPB de grande volume ou sem condições cirúrgicas

Redação Jornal de Brasília

02/06/2025 18h22

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Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

DANIELLE CASTRO
RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS)

Com a próstata em tamanho seis vezes maior que o normal, um idoso de 89 anos foi submetido a um procedimento inovador no Hospital de Base de São José do Rio Preto (a 440 km de São Paulo).

Portador de hiperplasia prostática benigna (HPB) e outras comorbidades, os médicos não indicavam para Gumercindo Gonçalves da Silva a realização de uma cirurgia mais invasiva e com anestesia geral. Assim, o paciente passou por uma embolização das artérias da próstata, o primeiro procedimento do tipo realizado no hospital do interior de São Paulo.

Silva já teve alta e se recupera em casa, embora ainda tenha que passar pelo pronto-atendimento para tratar um sangramento.

Com o sucesso da operação, a embolização pode ser uma alternativa no SUS (Sistema Único de Saúde) ao protocolo de atendimento de pacientes com HPB de grande volume ou sem condições cirúrgicas.

“Trata-se de uma técnica bastante promissora. Devemos lembrá-la como uma alternativa aos tratamentos cirúrgicos clássicos, notadamente para pacientes sem condições clínicas para intervenções maiores”, afirma o médico Rafael Garzon, radiologista intervencionista do Hospital de Base e responsável pela cirurgia.

O protocolo tradicional para esses casos requer anestesia geral e internação hospitalar prolongada. O procedimento está associado a riscos como sangramento, infecção, incontinência urinária e disfunção erétil, diferentemente da embolização.

A intervenção, desenvolvida inteiramente por pesquisadores brasileiros, é menos invasiva e demanda somente anestesia local. Até então, o procedimento só estava disponível na rede privada e em grandes hospitais universitários, para poucos casos. A técnica foi consolidada por uma equipe da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) liderada pelo professor Francisco Cesar Carnevale.

As pesquisas para o desenvolvimento tiveram início em 2008, e em 2024 o trabalho rendeu ao docente o reconhecimento internacional como primeiro médico da América Latina a receber a Gold Medallist da Cardiovascular and Interventional Radiological Society of Europe (CIRSE).

A embolização está prevista no rol de procedimentos da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), mas sua recomendação deve ser dada de forma multidisciplinar, por equipe que contenha urologista, radiologista e clínico responsável pelo paciente.

A autorização para realizar a embolização no Hospital de Base via SUS partiu da direção da Fundação Faculdade Regional de Medicina (Funfarme) e do próprio HB, após avaliação da equipe e confirmação da disponibilidade de materiais.

Em nota enviada pela instituição, a médica Ana Paula Bogdan, coordenadora da residência de urologia do hospital, enfatizou o potencial da técnica.

“Recebemos muitos pacientes para cirurgias de próstata. A embolização pode ser uma solução eficaz para casos complexos, reduzindo o uso prolongado de sondas e melhorando a qualidade de vida.”

Como é feito o procedimento

A embolização prostática consiste em bloquear seletivamente os vasos sanguíneos que irrigam a próstata, reduzindo seu volume e aliviando os sintomas. É minimamente invasiva, feita com anestesia local e guiada por imagem.

De acordo com Garzon, o médico responsável pela cirurgia, a precisão é o maior destaque, sendo possível atingir ambos os lobos da próstata com aumento da chance de bons resultados.

Tradicionalmente, próstatas muito aumentadas exigem prostatectomia -uma cirurgia invasiva feita sob anestesia geral e com riscos de sangramento, infecção, incontinência e disfunção erétil, além de internação prolongada.

O que é HPB

A hiperplasia prostática benigna não é um câncer, mas uma condição comum em homens idosos que causa sintomas urinários significativos, como dificuldade ou necessidade frequente de urinar e sensação de esvaziamento incompleto da bexiga.

No caso do idoso operado em Rio Preto, que já tem outras comorbidades, o diagnóstico foi dado há um ano, e o quadro piorou recentemente com o surgimento de sangramentos. A gravidade do inchaço da glândula surpreendeu a família, e então foi indicada a cirurgia.

“Que ele tinha problema na próstata a gente sabia, mas não que estava tão avançado no tamanho, porque até então ele não tinha sintomas nenhum, a não ser perda de urina”, conta Terezinha Gonçalves de Souza, 65, filha do paciente e sua cuidadora.

Ela diz que houve melhora com redução do sangramento, mas que a família ainda aguarda a recuperação total do paciente. “Está muito recente o procedimento, ainda está sangrando e por enquanto está bem complicado, tem muito coágulo.”

Silva ainda vai passar por exames para verificar se há algum tipo de infecção e se será necessário retornar ao hospital.

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