SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS)
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), admitiu ao STF que apenas 60 dos 128 policiais da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) usaram câmeras corporais durante a Operação Contenção. Ação terminou com 121 mortos, entre eles quatro policiais, tornando-se a mais letal do país.
Castro informou que 32 equipamentos não puderam ser retirados devido a problemas técnicos. Antes do início da operação, vários servidores relataram dificuldades na retirada das câmeras.
Policiais devem pegar seus equipamentos no centro de operações da corporação antes do início do serviço. Segundo o governo, após acionamento técnico junto à empresa L8, “constatou-se que uma das estações de carregamento e armazenamento apresentava falha, ocasionando a inoperância de 32 câmeras”.
A Core tem 100 câmeras disponíveis, segundo o governo. Mas, além do problema na liberação de 32 equipamentos, outros oito agentes não tiveram tempo de pegá-los, disse o coordenador da Core, delegado Fabrício Oliveira, em depoimento ao Ministério Público do Rio de Janeiro. “Alguns [policiais] não conseguiram pegar a câmera, e a gente já tinha horário para sair”, declarou.
“A gente faz um briefing da operação. Quando os policiais estão prontos para sair, eles passam nessa sala e vão retirando e colocando a câmera. Se a gente pega a câmera muito antes, a gente acaba comprometendo a bateria, né? Então, a gente optou lá, não é uma regra, mas a nossa forma de operar é o seguinte: a gente conversa, faz o briefing, todo mundo se prepara e antes de sair eles colocam a câmera. Então, acho que isso atrapalhou de alguma maneira essa dinâmica”, disse Fabrício Oliveira, coordenador da Core.
As imagens captadas dos 60 policiais civis foram classificadas como “Evidência”. A empresa L8 foi oficiada e informada sobre a preservação integral do conteúdo. O governo esclareceu ainda que a Polícia Militar por intermédio de sua Corregedoria, requisitou à Diretoria de Infraestrutura e Tecnologia a adoção das medidas técnicas necessárias para a preservação de todas as imagens captadas pelas câmeras operacionais portáteis.
O comandante do Bope, Marcelo Corbage, disse que 77 dos 215 policiais da tropa de elite da PM utilizaram as câmeras. Corbage afirmou ao MPRJ que a distribuição foi feita de modo que cada equipe tivesse ao menos uma câmera. Ele admitiu que o quantitativo que o Bope possui é o suficiente para um dia de operação padrão.
Gestão de Cláudio Castro enviou ontem ao STF informações sobre megaoperação, após ordem de Moraes. O ministro, que é relator do processo conhecido como ADPF das Favelas, determinou que o Governo do Rio apresentasse uma série de dados, incluindo as razões técnicas e operacionais da ação policial, que deixou 121 mortos e foi a mais letal da história do país.
GESTÃO CASTRO DIZ A MORAES QUE MEGAOPERAÇÃO NO RJ FOI ‘DIVISOR DE ÁGUAS’
Operação “consolidou-se como marco histórico no enfrentamento ao crime organizado”, disse o governo. O relatório afirma que a ação foi “legítima, necessária e absolutamente imprescindível” e deve ser reconhecida como uma “política pública de defesa institucional, jurídica e social”.
Governo do Rio voltou a dizer que o objetivo era prender lideranças do Comando Vermelho. Segundo o relatório, 17 pessoas foram presas com mandado e 83 em flagrante. O principal alvo da ação, Edgar Alves de Andrade, líder da facção conhecido como Doca ou Urso, conseguiu fugir.
Relatório também cita resultados da operação. Entre eles, a apreensão de 122 armas, 15 veículos, 22 kg de cocaína, duas toneladas de maconha e 117 “opositores neutralizados”, em referência aos mortos na operação. Quatro policiais também foram mortos.
Documento afirma que a operação resultou em avanços “concretos e mensuráveis”. Também diz que a medida rompeu o ciclo de expansão territorial do CV e restabeleceu a presença e a autoridade do Estado em área historicamente dominada pelo crime organizado.
Ação foi amparada em provas técnica consistentes e análises de inteligência, diz a gestão Castro.
“Submete-se o presente Relatório ao Supremo Tribunal Federal como manifestação inequívoca da necessidade, legalidade e legitimidade da Operação Contenção, na convicção de que nenhum território está acima da lei, e de que a paz duradoura somente se constrói com inteligência, integração e a atuação firme do Estado Democrático de Direito”, conclui.
“A operação Contenção representa um divisor de águas no enfrentamento qualificado ao crime organizado, demonstrando que a presença do Estado é permanente, a ação policial é técnica e controlada, e o compromisso institucional com a paz social é inegociável.”
“A ação representou uma resposta institucional necessária, proporcional e amparada em estrita legalidade, destinada à recuperação de território dominado por facção criminosa, à preservação da vida e da ordem pública, e à reafirmação da autoridade do Estado Democrático de Direito”, dizem trechos do relatório do Governo do RJ ao STF.