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Bope nega emboscada, diz que fez ‘ensaio’ e que menos da metade da tropa usou câmeras no RJ

A informação consta no depoimento do comandante da tropa, tenente-coronel Marcelo Corbage, prestado à Promotoria, que apura eventuais irregularidades na ação

Redação Jornal de Brasília

13/11/2025 11h00

Foto: Pablo Porciuncula / AFP

Foto: Pablo Porciuncula / AFP

BRUNA FANTTI
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

O Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) realizou o que chamou de “operações-ensaio” como preparação para a megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, em 28 de outubro, que deixou 121 mortos, entre eles quatro policiais.

A informação consta no depoimento do comandante da tropa, tenente-coronel Marcelo Corbage, prestado à Promotoria, que apura eventuais irregularidades na ação. Ele também afirmou que apenas 77 dos 215 policiais do Bope envolvidos na operação usaram câmeras corporais.

A falta do equipamento já tinha sido confirmada pelo Core (Coordenadoria de Recursos Especiais), grupo de elite da Polícia Civil do Rio de Janeiro. No caso dos policiais civis, dos 128 agentes que atuaram na megaoperação Contenção, 57 usavam câmeras corporais.

Segundo o tenente-coronel do Bope, durante 75 dias foram realizadas operações para “avaliar o grau de periculosidade, a capacidade de resistência e o comportamento adotado pelos criminosos”.
Ainda segundo o comandante, essas ações, denominadas “operações-ensaio”, ocorreram na Cidade de Deus, Gardênia Azul, complexos do Lins e Dois Irmãos, além do Complexo do Alemão e de favelas no entorno da Vila Cruzeiro, como Juramentinho, Trem, Ipase, Fé e Terra Prometida, todas de influência do Comando Vermelho.

Após essas ações, em uma das quais um policial ficou gravemente ferido, foi decidida a entrada no Alemão com “força de infantaria”, conforme trecho do documento.

Corbage negou que os agentes do Bope tenham se posicionado previamente na serra da Misericórdia para montar um “tróia” (gíria usada no Rio para designar emboscada) e disse que, na verdade, os agentes que foram vítimas de uma armadilha. De acordo com ele, os traficantes já se encontravam entrincheirados em bunkers, e a estratégia adotada pela tropa foi “fracionar a facção”, evitando que integrantes de outras comunidades fossem em seu apoio.

O comandante afirmou que a atuação da tropa de elite da PM tinha como objetivo ocupar a região de mata para que policiais civis cumprissem mandados de prisão nas favelas. Contudo, segundo ele, a operação deixou de ser apenas de cumprimento de mandados e se transformou em uma “verdadeira operação de resgate”, devido ao alto número de policiais civis feridos.

Durante o resgate de dois agentes feridos, dois policiais do Bope morreram e outros sete ficaram feridos. O Bope era a única equipe que contava com paramédicos próprios.

Corbage relatou aos promotores que “a agressividade demonstrada pelos criminosos nessa oportunidade fugiu a todos os padrões detectados”, afirmando ainda que “os traficantes adotaram uma estratégia até então desconhecida”. Segundo ele, foram os traficantes que realizaram uma emboscada, posicionando-se previamente no alto da serra e deixando livre a área das construções.

Na visão do comandante, “em razão da relativa falta de resistência, os policiais civis foram progredindo, sendo atraídos para uma armadilha”.

Essa teria sido, segundo Corbage, a causa do desvio do planejamento inicial. A Promotoria questionou se essa movimentação poderia ter ocorrido em razão de vazamento de informações, ao que o oficial respondeu que a mobilização das tropas e seu monitoramento podem ter contribuído para a reação dos suspeitos.

O Bope, segundo o comandante, fez uso de gás lacrimogêneo para “retirar os criminosos de suas trincheiras”, acreditando que, com isso, a letalidade seria menor, já que esperavam que os criminosos se rendessem. Nessa ocasião, 37 suspeitos foram presos.

Após a ação, corpos começaram a ser encontrados, totalizando 32 cadáveres, documentados pela Delegacia de Homicídios em um único registro de ocorrência. Ainda segundo Corbage, esses corpos não foram vitimados em um único confronto com o Bope, mas localizados em diferentes pontos, já sem vida.

Com o anoitecer e a persistência dos tiroteios, as buscas por corpos e feridos foram interrompidas.

Em relação ao uso de câmeras, determinado pelo Supremo Tribunal Federal para todos os agentes, apenas 77 dos 215 policiais utilizaram o equipamento. Segundo o comandante, a distribuição foi feita de modo que cada equipe tivesse ao menos uma câmera, e que o quantitativo que o Bope possui é o suficiente para um dia de operação padrão.

Ele afirmou ainda que não foi planejado o uso de baterias sobressalentes, pois o comando acreditava que a operação duraria cinco horas, e não 17, como acabou ocorrendo. Atualmente, o Bope dispõe de apenas 18 baterias extras, segundo o oficial.

Um outro militar do batalhão, responsável pelo planejamento, também prestou depoimento e estimou que cerca de 800 criminosos estivessem na área de mata.

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