O autor do ataque em uma escola de Cambé, no Paraná, no qual morreram dois adolescentes esta semana, foi encontrado morto em sua cela, informou a Secretaria de Segurança Pública do estado nesta quarta-feira (21).
O jovem, um ex-aluno de 21 anos que estava detido desde o ataque, “foi encontrado morto em sua cela na noite desta terça-feira (20)”, anunciou o órgão.
A Polícia Civil do Paraná iniciou uma investigação para apurar “as circunstâncias” de sua morte.
O ataque aconteceu na segunda-feira (19) no Colégio Estadual Professora Helena Kolody, em Cambé, na região metropolitana de Londrina, no interior do estado.
O agressor entrou em sua antiga escola com o pretexto de buscar seu “histórico escolar” e depois começou a atirar. Matou no local Karoline Verri Alves, uma estudante de 17 anos, e deixou outro aluno, Luan Augusto da Silva, de 16 anos, gravemente ferido. Luan não resistiu e morreu no dia seguinte.
A motivação do agressor está sendo investigada.
Um segundo homem, de 21 anos, suspeito de ter colaborado com a organização do atentado, permanece preso.
Os ataques a escolas aumentaram recentemente no Brasil. As autoridades atribuem esse aumento, em parte, aos conteúdos de incitação à violência que circulam nas redes sociais.
Em abril, quatro crianças de entre 4 e 7 anos foram assassinadas em uma creche de Blumenau, em Santa Catarina, por um homem que as atacou com uma machadinha.
Os assassinatos comoveram o país, e o governo federal anunciou medidas de regulamentação das redes sociais para combater as crescentes ameaças às escolas.
O pior ataque registrado em uma escola no Brasil ocorreu em 2011. Nele, 12 crianças morreram quando um homem abriu fogo em sua antiga escola em Realengo, no subúrbio do Rio de Janeiro, antes de tirar a própria vida.

Segundo o delegado-chefe da Polícia Civil de Londrina, Fernando Amarantino Ribeiro, o ex-aluno disse que sofria bullying quando frequentou a escola (até 2014) e que teria planejado o ataque, nos últimos meses, para se vingar.
“Ele alega que, no período em que estudou no colégio, do 1º ao 7º ano, sofria bullying dos alunos que tinham a idade dele à época, 15 anos. O objetivo dele, hoje, era atacar jovens com essa faixa etária”, afirmou o delegado.
Ainda de acordo com Ribeiro, o atirador afirmou ter sido diagnosticado com esquizofrenia e passar por acompanhamento junto à Secretaria de Saúde de Rolândia (PR), outra cidade vizinha, onde mora. “Isso tudo vai ser averiguado, nomes dos profissionais, medicamentos. Ele alega que tem perturbações, vê pessoas e coisas e ouve vozes. São as palavras que ele utilizou.”
O ex-aluno usou um revólver calibre 38, adquirido em Rolândia, e entrou na escola com 50 munições e sete carregadores. Para ter acesso à unidade, afirmou que pretendia solicitar seu histórico escolar. Ele foi, então, ao banheiro e, na saída do local, deu início ao ataque. Após ferir ao menos dois jovens, acabou sendo dominado.
O piscineiro Joel de Oliveira, 62, diz ter sido responsável por desarmar o ex-aluno.
Após o atentado, o governador Ratinho Junior (PSD) e o secretário estadual de Segurança Pública, Hudson Teixeira, chegaram a afirmar que o atirador teria sido desarmado por um professor ou por um funcionário da unidade que teria sido submetido a um treinamento preventivo em casos de ataques contra colégios.
Já nesta terça-feira (20), a assessoria do governo estadual disse que a informação era preliminar e que o atirador foi imobilizado por uma pessoa de fora da comunidade escolar.
A reportagem também entrou em contato com a Sesp (Secretaria de Segurança Pública) para questionar sobre o treinamento, supostamente, realizado no colégio, mas não houve resposta até o fim da tarde desta terça.
Segundo o delegado-chefe da Polícia Civil de Londrina, Fernando Amarantino Ribeiro, o piscineiro Joel de Oliveira foi até a escola ao ouvir os tiros. “A reação dele foi de segurar essa pessoa [atirador]”.
“Mantive a calma e hoje que a ficha está caindo com toda essa repercussão. Eu me identifiquei como policial [ao atirador, para tentar acalmá-lo], jamais me preparei para isso. Fui guiado por Deus”, disse Oliveira à Folha nesta terça (20). Pai de quatro filhos, ele tem sete netos; nenhum deles estuda na escola alvo do ataque.
Responsável pela piscina de hidromassagem em uma clínica ao lado da escola, Oliveira afirmou que teve uma reação “automática” e que queria tirar as crianças e adolescentes da escola, pois os sons dos disparos viam do fundo do pátio.
Oliveira disse ter encontrado o ex-aluno com a arma distante dele. Afirmou ainda ter se identificado como policial para conseguiu rendê-lo e que o manteve deitado até a chegada da PM.
Segundo o prefeito de Cambé, Conrado Scheller (União Brasil), Oliveira é terceirizado para a manutenção das piscinas do município e deve ser homenageado pela coragem no episódio.
“Merece a justa homenagem, no momento adequado. Agora, penso eu, o momento é de respeitar a dor das famílias”, disse o prefeito.