MANUELA RACHED PEREIRA E PEDRO VILAS BOAS
SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS)
Pelo menos oito brasileiros seguem reféns em Mianmar após serem vítimas de golpes e traficados ao país asiático, segundo estimativa da organização internacional The Exodus Road, que atua no combate ao tráfico humano internacional.
No total, cerca de 10 mil pessoas ainda são feitas reféns em complexos montados pelos criminosos, como o que os paulistas Luckas Viana dos Santos e Phelipe de Moura Ferreira estavam. Os dois desembarcaram no aeroporto de Guarulhos na tarde de quarta-feira (18).
A organização internacional, que tem representantes no Brasil, intermediou o resgate de Luckas e Phelipe por grupo paramilitar. “Foi muito difícil estar lá. Eles batiam na gente quase todo dia. […] Tinha máquina de choque também, era muito difícil. A gente sofreu bastante. Tem amigos que ainda estão lá”, disse Luckas à imprensa no aeroporto.
Os brasileiros esclareceram que a tentativa de fuga foi frustrada. Eles contaram que, quando tentar fugir do complexo, no início do mês, foram pegos e espancados por agentes da máfia. No mesmo dia, porém, agentes do DKBA (Exército Democrático Karen Budista), composto por soldados dissidentes da forças armadas de Mianmar, os resgataram.
Antônio Ferreira, pai de Phelipe, classificou a chegada do filho como um “alívio”. “Foram quase três meses de sofrimento. […] Graças a Deus, agora é só alegria. Eles estão de volta ao Brasil”, afirmou ao UOL.
REENCONTRO APÓS HORAS DE ESPERA
O reencontro com a família aconteceu após horas de espera enquanto Luckas e Phelipe prestavam depoimento na PF. Os pais chegaram a ser levados para a delegacia do aeroporto, mas só encontraram com os filhos depois do fim do depoimento.
Cleide passou mal após ouvir do filho o que ele tinha sofrido em Mianmar. “Estou muito feliz de estar aqui com a minha mãe agora. Em muitos momentos eu pensei em desistir, mas eu sabia que ia conseguir sair de lá um dia”, disse Luckas.
Ela lamentou as agressões sofridas pelo filho, mas agradeceu a Deus pelo retorno. “Grata a Deus, que trouxe meu filho de volta, protegeu ele, apesar dos pesares. Não aconteceu mais coisas porque fiquei lutando por ele dia e noite”, afirmou ao UOL.
FUGA E RESGATE
Brasileiros fugiram da “fábrica de golpes” no início do mês e foram encontrados no último dia 10 por um grupo paramilitar de Mianmar. Segundo familiares dos dois, eles conseguiram escapar do local onde eram mantidos reféns junto a um grupo de centenas de estrangeiros, também vítimas de tráfico humano no país asiático.
Eles foram capturados e detidos por agentes do DKBA. O grupo armado, composto por rebeldes dissidentes das Forças Armadas de Mianmar, encaminharam os estrangeiros a um centro de detenção local após negociações com a Exodus Road. A organização civil confirmou a fuga dos brasileiros e de outras 368 pessoas de 21 países no dia 8 de fevereiro.
Após fugirem e serem resgatados, paulistas chegaram na última quarta-feira (12) à Tailândia. Lá, eles aguardaram por três dias o auxílio da embaixada brasileira em Bangcoc para serem repatriados ao Brasil.
Representante da embaixada buscou brasileiros no sábado (15). Desde então, eles aguardavam em Bangcoc para serem repatriados ao Brasil. Eles deixaram a capital tailandesa na última terça-feira (18), em um voo com destino a Guarulhos. Phelipe, um dos resgatados, disse que o governo brasileiro apenas pagou as passagens de volta.
Em nota divulgada na semana passada, o Itamaraty afirmou que atuou na libertação desde outubro. A chancelaria brasileira ainda disse que a embaixadora Maria Laura da Rocha “reforçou a necessidade de esforços contínuos para localizá-los e resgatá-los”.