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Atirador do Texas sofreu bullying por ser gago e comprou armas dias antes do ataque

Dias depois de completar 18 anos, o atirador celebrou a data postando uma foto com dois fuzis que ele comprou pouco depois do aniversário

FolhaPress

25/05/2022 19h39

24.mai.22/AFP

Rafael Balago
Washington, EUA

Dias depois de completar 18 anos, Salvador Ramos celebrou a data postando uma foto com dois fuzis que ele comprou pouco depois do aniversário.

A aquisição veio após uma escalada de agressividade que marcou sua adolescência e terminou de forma trágica.

Ramos usou as armas para matar 21 pessoas -19 crianças e dois adultos- em uma escola no Texas, na terça-feira (24). Depois, foi morto pela polícia.

De acordo com o Departamento de Álcool, Tabaco e Armas de Fogo, ele comprou um fuzil no último dia 17, logo após fazer 18 anos. No dia seguinte, adquiriu 375 projéteis de munição, e, em 20 de maio, outro rifle.

Inicialmente, agentes tinham dito a TVs locais que ele tinha comprado a arma no domingo (22).?

O atirador, segundo pessoas próximas à imprensa americana, teve uma adolescência marcada por bullying e problemas familiares.

Na escola, era alvo de provocações por ser gago, o que o deixava revoltado e sem vontade de estudar. Perdeu muitas aulas e não conseguiria se formar neste ano.

Lá, envolveu-se em brigas em diversas oportunidades -há registros de ao menos cinco ocasiões em que trocou socos com colegas.

No ensino médio, Ramos passou a se vestir todo de preto, começou a usar botas militares e deixou o cabelo crescer.

À noite, costumava sair com um amigo de carro e atirava ovos em outros veículos.

Também usou uma arma de ar comprimido aleatoriamente contra pessoas nas ruas.

Ele não escondia a vontade de ter acesso a armamentos mais pesados. Há um ano, publicou imagens de fuzis automáticos, capazes de disparar rajadas de tiros, e disse que eles estavam em sua lista de desejos.

Certa vez, postou uma foto usando um delineador no olho e foi alvo de comentários homofóbicos.

Nas redes sociais, também publicava posts sobre problemas familiares. Em uma das mensagens, apareceu em uma discussão com a mãe, que tentava expulsá-lo de casa.

“Ele estava gritando e falando com ela de modo realmente agressivo”, disse uma colega de Ramos ao jornal The Washington Post.

Vizinhos e familiares disseram que a mãe do atirador tinha problemas com drogas. Alguns meses atrás, ele foi morar com a avó, que queria despejar a mãe do garoto -não está claro se essa avó era a mãe dela.

Segundo a polícia, antes de atacar a escola ele também atirou contra a avó.

Atingida na testa, ela passaria por uma cirurgia nesta quarta. Rolando Reyes, 72, avô de Ramos, disse à ABC News que não sabia que o neto tinha comprado armas e que ele agiu normalmente nos dias anteriores ao massacre.

Após disparar contra a avó, Ramos saiu dirigindo uma picape, mesmo sem habilitação. Ele bateu o carro no caminho e o deixou perto da escola, com a roda de trás quebrada.

Deixou um dos fuzis no veículo e invadiu a instituição com o outro, além de uma pistola e munição. Ele vestia proteções à prova de bala.

Em seguida, ele entrou em uma sala de aula e montou uma barricada, de onde passou a atirar contra alunos, professores e policiais que tentavam contê-lo.

A polícia foi chamada por uma testemunha que o viu entrando na escola armado, e os primeiros agentes no local levaram tiros.

Na sequência, vieram mais guardas, que retiraram o máximo de alunos possível, inclusive quebrando janelas do centro de ensino.

Mais detalhes sobre o ataque ocorrido em Uvalde, como os nomes de alguns dos mortos, estão sendo revelados. Nesta quarta, a polícia contou que todas as vítimas eram da mesma sala, do quarto ano.

Xavier Lopez, 10, gostava de dançar e contar piadas, segundo sua família. José Flores, também de 10 anos, amava jogar beisebol. A professora Eva Mireles, 44, foi morta ao tentar defender seus alunos.

A cidade fica em um condado que soma 24 mil habitantes e está a cerca de 100 km da fronteira com o México. Ali, três de cada quatro habitantes têm origem latina.

Na manhã desta quarta, moradores fizeram filas em hospitais para doar sangue aos feridos no incidente. Ao menos 17 vítimas seguem internadas.

O caso gerou revolta nos EUA e mais pedidos por medidas para evitar novos massacres. Na noite de terça, o presidente Joe Biden usou o episódio para voltar a criticar o lobby pró-armas no país e defender o controle no acesso a armamentos.

“Estou cansado disso. Por que estamos dispostos a viver com essa carnificina? Por que continuamos deixando isso acontecer?”, questionou, em uma fala de sete minutos.

“A ideia de que um garoto de 18 anos possa comprar dois fuzis é errada. Fabricantes estão há décadas oferecendo agressivamente armas que geram enormes lucros.

Quando, em nome de Deus, vamos nos levantar e enfrentar o lobby das armas?”, acrescentou o presidente americano.

Nesta quarta, líderes de países como França, Ucrânia e Nova Zelândia enviaram condolências às vítimas. O papa Francisco disse estar de coração partido e pediu o fim da circulação indiscriminada de armas.

O atentado ocorre dez dias após outra ação similar. Em 14 de maio, um homem de 18 anos matou dez pessoas negras na cidade de Buffalo, no estado de Nova York.

O atirador, Payton Gendron, abriu fogo contra clientes de um supermercado, numa ação transmitida ao vivo pela internet -ambiente no qual também publicou um manifesto para justificar o ataque, baseado em teorias racistas, como a de que os negros estariam tomando o lugar dos brancos na sociedade.

O caso desta terça foi o maior ataque a uma escola primária desde Sandy Hook, em Connecticut. Naquela ocasião, um homem de 20 anos matou 26 pessoas, 12 das quais crianças com seis e sete anos de idade.

O porte de armas é garantido pela Constituição americana, mas muitos especialistas, ativistas e políticos defendem maior controle no acesso aos armamentos, como medidas para impedir que pessoas com problemas psicológicos ou histórico de violência possam comprar itens de alto calibre.

No entanto, políticos ligados ao Partido Republicano costumam barrar medidas nesse sentido, pois veem o direito a se armar como um símbolo de liberdade a ser preservado.

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