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‘Só fiz meu trabalho’, diz nepalês que escalou duas vezes as 14 montanhas de oito mil metros

Sua subida à montanha Gasherbrum II completou esta escalada dupla, sem precedentes para as 14 montanhas de oito mil metros

Redação Jornal de Brasília

14/09/2022 16h39

Foto: AFP

Escalar as 14 montanhas de mais de 8.000 metros do mundo está na lista de desejos de qualquer alpinista ambicioso. Menos de 50 pessoas conseguiram tal feito, mas o nepalês Sanu Sherpa fez isso duas vezes.

Sua subida à montanha Gasherbrum II (8.035 metros) no Paquistão no mês passado completou esta escalada dupla, sem precedentes para as 14 montanhas de oito mil metros.

Como de costume, ele subiu ao topo como guia para um cliente, neste caso um alpinista japonês. “O que eu fiz não é algo impossível”, disse o alpinista de 47 anos à AFP. “Estava apenas fazendo o meu trabalho”.

Sherpa, que começou a trabalhar nas montanhas como carregador e ajudante de cozinha, alcançou seus primeiros 8.000 metros em 2006 como guia de um grupo sul-coreano na montanha Cho Oyu.

“Sentia que os alpinistas coreanos não conseguiriam chegar ao topo, mas eu tinha que fazê-lo, porque não conseguiria um emprego se voltasse sem sucesso”, lembra ele.

A zona da morte

Os guias nepaleses, geralmente da etnia sherpa que habita as cidades ao redor do Everest, são considerados a espinha dorsal da indústria do alpinismo no Himalaia. Carregam a maior parte do equipamento e da comida, prendem as cordas e consertam as escadas.

É um trabalho arriscado. A altitude superior a 8.000 metros é conhecida como “a zona da morte”, porque não há oxigênio suficiente no ar para se manter com vida durante muito tempo.

Em média, 14 pessoas morrem todo ano nas 8 montanhas de 8.000 metros que existem no Nepal.

Um terço das mortes no Everest é de carregadores locais, uma estatística que destaca o risco que eles correm para realizar os sonhos de seus clientes de alcançar os picos mais altos do mundo. “Já vi muitos corpos quando subia ou descia a montanha”, diz Sherpa.

“Eu ando na mesma rota ou na mesma montanha”, continua. “Como minha família e meus filhos vão viver se eu tiver o mesmo destino?”

De agricultor a alpinista

Sanu Sherpa cresceu no distrito de Sankhuwasabha, no leste do Nepal, uma área rural remota e pobre onde está Makalu, a quinta montanha mais alta do mundo.

Aos 30 anos, enquanto muitos de seus companheiros ganhavam dinheiro nos picos das montanhas, ele plantava batatas e milho e criava iaques.

“Perguntava a mim mesmo: se aqueles que não conseguiam carregar tanto como eu voltavam à cidade depois de escalar montanhas, por que eu não poderia fazê-lo?”, conta.

Finalmente decidiu seguir esse exemplo, desejando que este trabalho lhe permitisse sustentar sua família de oito membros e realizar seu sonho de “vestir equipamento de montanha”.

Usou as botas usadas de outro alpinista para o pico do Cho Oyu, um sucesso que lhe abriu o caminho como guia em outras montanhas de oito mil metros.

Em 2019 já havia escalado ao menos duas vezes pela metade as 14 montanhas de oito mil metros. Um alpinista estrangeiro sugeriu que ele tentasse completar a escalada.

Sete vezes o Everest

Por muito tempo na sombra de seus clientes estrangeiros, que pagam mais de 45.000 dólares para escalar o Everest, os alpinistas nepaleses pouco a pouco recebem o reconhecimento que merecem.

Nos últimos anos vários filmes destacaram o papel crucial dos alpinistas nepaleses, como “Sherpa” lançado em 2015 ou o mais recente “14 Montanhas: Nada É Impossível”.

O ministro da Cultura e Turismo do Nepal, Jeevan Ram Shrestha, afirmou que a escalada dupla aos picos mais altos do planeta coloca Sanu Sherpa como “uma fonte de inspiração para os alpinistas de todo o mundo”.

De fato, seu recorde vai além: Sherpa escalou sete vezes o Everest e três vezes outras quatro montanhas de oito mil metros.

De volta a Katmandu depois de realizar sua façanha, o alpinista prepara uma quarta subida à Manaslu com um cliente e recebe ofertas de outras expedições. “Posso fazer a escalada tripla”, diz ele. “Mas isso pode depender da sorte”.

Sua família lhe diz que ele já enfrentou desafios suficientes na montanha e que é hora de se aposentar. “Às vezes eu quero ir e às vezes não”, admite Sherpa. “Mas o que fazer senão escalar? Não há outro trabalho”.

© Agence France-Presse

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