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Marido se despede em nome da esposa com câncer; relato emociona a internet

Três dias após internação, médicos já alertaram que o quadro era irreversível; três dias também foi o tempo que Bruno demorou para aceitar a situação e se despedir em nome da esposa

Redação Jornal de Brasília

27/08/2020 8h47

O enfermeiro Bruno Barbosa Moura, de 41 anos, fez uma postagem de despedida para a esposa, que estava com câncer, e emocionou diversas pessoas. A também enfermeira Graziella Cristina Silva Barbosa, de 38 anos, veio a óbito no dia 23 de agosto, após lutar contra um câncer no pâncreas. No relato em primeira pessoa, Bruno descreve o que ela sentia nos últimos momentos, como se o texto fosse escrito por Graziella, que já estava em coma.

Foto: Reprodução/Facebook

O texto foi postado no perfil de Graziella no Facebook, no dia 19 de agosto, quando ela estava em coma na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Bruno relata que, três dias antes, os médicos já alertaram que o quadro de sua esposa era irreversível. Três dias também foi o tempo que ele demorou para aceitar a situação.

“Eu estava em casa, indo dormir, e começou a vir uma inspiração de escrever algo para explicar para as pessoas o que estava acontecendo. A minha preocupação era que a partida dela pegasse muita gente de surpresa. Então, publiquei no perfil dela, para que todos que a acompanhavam pudessem ler aquilo”, relatou o marido ao portal G1.

O texto foi escrito como se fosse de autoria da própria Graziella. Nele, Bruno descreve como foi a luta da esposa contra a doença, destaca as coisas que ela amava e o que deixou de aprendizado. Após 13 anos juntos, três filhos, um menino de 8 anos e gêmeas de 3, o casal conhecia um ao outro de uma forma única. “…Preciso compartilhar com vocês que está chegando minha hora de partir. Na verdade, nem estou mais aqui. Estou presa nos meus pensamentos, aguardando o momento de ser libertada. E estou em paz, porque nesta vida fiz tudo o que quis. E lutei o quanto pude para vencer mais este desafio”, escreveu em um dos trechos.

Foto: Reprodução/Facebook

O enfermeiro relatou que Graziella começou a se queixar de dores nas costas ainda em maio. Ela foi ao ortopedista, mas foi medicada e liberada. No entanto, não houve melhora do quadro e ela precisou retornar ao hospital, quando foi realizada uma ressonância. O exame foi feito no início de junho, e ela foi diagnosticada com metástase óssea na coluna. Mesmo após o diagnóstico, a enfermeira continuou trabalhando.

Uma série de exames foi realizada e, após uma ultrassonografia do abdômen, foi constatado que ela estava com vários tumores no fígado. Nessa época, Graziella já estava bem abatida pela doença e apresentava dores abdominais.

“No dia 8, liguei a um hospital de São Paulo e agendei consulta com o oncologista. Assim que chegou lá, no dia 9 de junho, ela já foi internada, e alguns dias depois ela teve o diagnóstico definitivo, que foi de câncer de pâncreas com metástase no fígado e coluna”, relatou Bruno.

Com o início do tratamento oncológico, eram realizadas sessões de quimioterapia de 15 em 15 dias. Por não apresentar melhora do quadro clínico, a paciente precisou passar por um outro tipo de quimioterapia. Mesmo assim, no dia 13, Graziella teve piora no quadro de saúde e ficou impossibilitada de fazer a segunda sessão do novo tratamento. No dia 15 ela foi internada e oito dias depois, no dia 23, a enfermeira veio a óbito.

A despedida de Bruno teve grande repercussão na internet. O relato foi amplamente compartilhado e comentado e teve mais de 5 mil curtidas. A intensão de Bruno era preparar amigos e familiares para a partida da esposa, no entanto, o texto emocionou diversos internautas (confira o texto abaixo)

O marido conta que Graziella era a favor do Sistema Único de Saúde (SUS), da amamentação e do parto humanizado.

Despedida

“Meus queridos amigos

Bruno esteve aqui no hospital e me contou sobre como todos estão preocupados comigo, então resolvi dar notícias para tentar amenizar a angústia de vocês. Infelizmente eu mesma não estou em condições de fazer isto, portanto pedi a ele que fizesse por mim. Tenho certeza de que ele escreveu exatamente o que eu gostaria de dizer, pois depois de tantos anos juntos ele me conhece muito bem e eu a ele.

Nos últimos meses eu passei por maus bocados. Precisei deixar o trabalho que amo para me cuidar, sofri com dores e com os efeitos colaterais do tratamento, chorei por medo do futuro e fui perdendo minha autonomia aos poucos.

Entretanto, fui inundada de carinho por tanta gente que meu coração se encheu de otimismo. Amigos íntimos e distantes, colegas, parceiros, familiares e até pessoas que nem me conheciam mas me admiravam. Encarei minha realidade cheia de coragem e força. Claro que tive meus momentos de fraqueza, mas logo enxugava as lágrimas e erguia a cabeça para enfrentar o que viesse pela frente.

Afinal, eu adoro viver. Adoro o pôr do sol na praia, reunir os amigos, ir ao cinema, viajar. Ah, como eu amo viajar. E adoro sorrir também. Às vezes sorrio até quando estou triste, na tentativa de esquecer minhas próprias tristezas.

Amo ser mãe. É algo que eu sempre quis ser. Ter sido presenteada com 3 filhos foi muito mais do que eu poderia esperar. E dar à luz gêmeas, de parto natural, foi minha maior realização. E olha que não foram poucas as coisas que conquistei.

É por isto, amigos, que preciso compartilhar com vocês que está chegando minha hora de partir. Na verdade nem estou mais aqui. Estou presa nos meus pensamentos aguardando o momento de ser libertada. E estou em paz, porque nesta vida fiz tudo o que quis. E lutei o quanto pude para vencer mais este desafio.

Mas não se pode ganhar todas. Esta batalha estou perdendo, mas pelo menos agora não sofro mais. Estou indo para algum lugar desconhecido mas sei que lá não há tristeza nem dor. Por isto, não fiquem tristes. Entendam que minha jornada está chegando ao fim.

Juro que queria ficar. Eu tentei, fiz de tudo, aguentei firme o quanto pude. Mas estou cansada. Agora estou descansando enquanto espero o momento derradeiro.

Bruno, meu amor, terá que se virar sem mim. Eu sei o quanto ele me ama e o quanto vai sentir minha falta mas era angustiante ver em seus olhos o quanto ele sofria me vendo sofrer e o esforço que fazia para se segurar e me dar força. Agora ele já pode chorar. Não precisa mais se conter. E estou tranquila porque sei que ele cuidará maravilhosamente dos nossos filhos.

Eu sei que deixo um legado. Um legado de amor, companheirismo, bondade, amizade, comprometimento, empatia e profissionalismo. Sobretudo, um legado de alegria. Lembrem-se de mim assim: alegre. A minha vida foi feliz.

Quero agradecer a todos por tudo. E quero me despedir dizendo que todos vocês estão em meu coração.

Até breve.”

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