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Ex-testemunhas de Jeová acusam igreja de encobrir crimes de abuso sexual e violência doméstica

De acordo com as vítimas, igreja insistia para que mulheres procurassem a igreja, e não a polícia, quando sofressem algum tipo de violência

Redação Jornal de Brasília

26/05/2020 9h14

Foto: Reprodução

Uma ex-Testemunha de Jeová, identificada apenas como A.P, conta que o marido a espancou depois de tentar forçá-la a fazer sexo em um momento em que ela não queria. Outra jovem, identificada como E. B, apesar de não apresentar hematomas no corpo, relatou os crimes de abuso sexual cometidos por um líder religioso, quando ela tinha 12 anos. São diversas as denúncias proferidas pelas vítimas dos abusadores, ambas ex-Testemunhas de Jeová.

E. B. e A. P. estão entre as seis ex integrantes do grupo religioso que denunciaram a coação por parte da igreja. De acordo com as vítimas, o grupo religioso insistia para que as mulheres procurassem a instituição, e não a polícia, quando sofressem algum tipo de violência por parte dos companheiros ou dos líderes.

As testemunhas relataram que parte dos crimes foram cometidos por integrantes respeitados pela instituição. Os “anciãos” têm privilégios, além de atuarem como conselheiros e juízes. Documentos da instituição atestam que a igreja procurava evitar as autoridades policiais a todo custo.

A cuidadora de idosos E.B, de 37 anos, relata como ingressou dentro da instituição: “eu não tive escolha sobre entrar nessa seita ou não”. A mãe de E.B era da religião e ensinou a filha desde muito pequena a acreditar nos ensinamentos. “Eles falam muito do Armagedom, então você cresce morrendo de medo do fim do mundo. Também fazem um terror sobre as pessoas que são de fora, que eles chamam de ‘pessoas do mundo’, dizem que aqui fora você vai ser maltratado, que tudo é horrível, que as pessoas vão se aproveitar de você”, conta.

De acordo com E.B, os “anciãos” são vistos como puros, respeitáveis. ” Nunca que você vai imaginar que eles vão abusar de uma criança.

Quando E.B tinha 12 anos, sua mãe deixou que um ancião de uma das congregações de Testemunhas de Jeová de São José do Rio Preto a levasse para a sede da instituição com o intuito de ser questionada sobre a fé, como parte da preparação para o batismo. No entanto, as perguntas, que normalmente são dirigidas a várias crianças ao mesmo tempo, foram feitas apenas à menina e fugiam do contexto.

“Eu achei que quando a gente fosse chegar lá no salão ia ter mais gente, mas estava só eu e ele. Ele me levou sozinha para uma sala e trancou a porta”, relatou E.B.

“Ele começou a falar do meu corpo, falar que já fazia tempo que ele me notava, que ele percebia que eu não usava sutiã. Achei muito esquisito. Ele perguntou se eu já tinha tido relações, se eu já tinha visto um pênis. E começou a falar que o dele era maior que a média, e colocou para fora, mostrou pra mim.”

“Eu era uma criança, não sabia nada dessa parte sexual. Eu fiquei muito assustada, muito envergonhada. Mas ao mesmo tempo eu achava que aquilo fazia parte… Eu não estava entendendo. Achei que ele estivesse fazendo algum teste comigo.”

Ela relata que o homem ficou atrás dela e começou a tocar seus seios, além de esfregar o corpo contra a garota. 

“Eu fiquei muito assustada, não sabia o que fazer. Disse que estava passando mal e fui para o banheiro. Fiquei um tempão lá, mas eu não tinha para onde fugir porque a porta estava trancada.”

E.B. conta que depois, no caminho de volta para a casa dela, o ancião tentou convencê-la a ir para a casa dele e tentou embriagá-la.

As acusações de acobertamento de abuso sexual e violência contra a mulher estão sendo apuradas pelo Ministério Público de São Paulo. Há relatos de vítimas em outros estados, entre eles, Rio de Janeiro e Minas Gerais. A associação religiosa diz que “abominam qualquer tipo de violência, inclusive a sexual e a consideram como um crime” e nega que haja qualquer tipo de acobertamento de crimes.

 

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