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Em Shopping, funcionária de loja relata caso de racismo: ‘Gerente me chamou de escrava’

Segundo Janine, no último dia 14 de julho, a gerente da loja a chamou de escrava durante uma reunião de trabalho na presença de outros funcionários

Redação Jornal de Brasília

26/08/2020 18h32

A assistente de vendas Janine de Oliveira Monteiro, de 27 anos,  sofreu diversos casos de racismo quando trabalhava como estoquista na loja Rosa Chá, no Shopping Leblon, Zona Sul do Rio. “Ela apontou para mim e me chamou de escrava, como se fosse algo natural. Resolvi denunciar porque não podemos mais aceitar isso. É hora de abrir a boca e expor o racismo”, relatou a assistente. Segundo Janine, no último dia 14 de julho, a gerente da loja a chamou de escrava durante uma reunião de trabalho na presença de outros funcionários.

“Estávamos conversando, eu e outro colega de trabalho, sobre uma receita de bolo de chocolate chamado de “Nega maluca” quando ela começou a abordar temas de judeus e escravos, algo que nada tinha a ver com o assunto. Num determinado momento, ela me usou como exemplo e disse “assim como você, escrava”. Foi horrível. Custei a acreditar que ela estava me chamando dessa forma”, disse Janine.

A vítima contou que a gerente prosseguiu falando como se nada tivesse acontecido. Os outros funcionários que testemunharam a cena apoiaram Janine. Ela registrou ocorrência na 14ª DP (Leblon).

“A forma como ela revistava a minha bolsa era diferente dos outros funcionários. Eu questionava e nada era feito. Fora outras vezes em que ela falava que não tinha problemas em sujar o chão porque eu que iria limpar, mesmo eu trabalhando como estoquista” diz Janine.

A assistente de vendas mora na Rocinha e trabalhou por nove meses na loja. Ela disse temer pelo futuro da família

A assistente de vendas, que mora na comunidade da Rocinha, Zona Sul, trabalhou por nove meses na loja e teme pelo futuro da família. “Eu tentei continuar trabalhando na loja, mas não consegui, o ambiente ficou desconfortável. Passei a ter crises de ansiedade no trabalho. Tentei porque eu preciso do emprego, tenho dois filhos e pago aluguel e escola para eles. Eu não posso ficar desempregada”, disse.

Janine já viveu outros casos de racismo. “Quando eu trabalhava em outra loja, a gerente tinha preconceito com o meu cabelo, falava que estava na hora de eu penteá-lo. Eu espero que ninguém tenha que aceitar passar por isso. É doloroso, ninguém tem o direito de discriminar ninguém. Espero que cada vez mais pessoas tenham coragem de falar e não aceitar o preconceito.”

A Restoque, dona da marca Rosa Chá, repudiou a ação e afastou a funcionária. A nota diz que “repudia com veemência qualquer tipo de atitude discriminatória”.

A empresa também informa que não recebeu registros sobre o caso nos canais confidenciais e internos. “Toda e qualquer denúncia é levada ao conhecimento da administração, que as analisam e tomam as devidas providências. A companhia ressalta que contribuirá com as investigações das autoridades responsáveis, apresentando também a elas as conclusões da referida comissão, bem como prestará o apoio necessário para a colaboradora denunciante”, esclarece a marca

Em nota, o Shopping Leblon destaca que repudia qualquer atitude discriminatória. O centro comercial destaca ainda que “a abordagem relatada não condiz com a postura adotada pelo empreendimento, que zela para que todos sejam bem-vindos, oferecendo um ambiente de trabalho, lazer, diversão e compras de forma igualitária a todas as pessoas”. A administração do Shopping Leblon afirma também que vai reforçar as orientações de boas práticas e conduta entre lojistas.

Em nota, o advogado Ruan Pablo, que acompanha o caso de Janine, repudia o estigma expressado pela funcionária, “decorrente de sua condição de negra, pobre e moradora de comunidade, não sendo aceitável ser chamada de escrava dentro do próprio ambiente de trabalho. Além do mais, seus traços físicos não são capazes de lhe atribuir um perfil criminoso, e, portanto, não legitimam a empresa a fazer com que a Janine seja submetida a revista pessoal mais severa do que as aplicadas aos demais funcionários não detentores de tais características. Por fim, informo que as autoridades competentes já foram acionadas, a fim de serem adotadas as medidas cabíveis”

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