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Adolescente apaixonada por violinio usa adaptações para driblar deficiência e tocar instrumento

“Minha mãe sempre me incentivou a ser independente e sempre disse que eu era capaz de fazer o que quisesse…”

Redação Jornal de Brasília

08/09/2020 11h01

Simone Machado
São José do Rio Preto, SP

De início, Débora de Cássia Moura, 16, queria se inscrever apenas nas aulas de canto do Projeto Guri, de iniciação musical gratuita a crianças e adolescentes em sua cidade, Santo Antônio da Posse (143 km de São Paulo). Mas uma professora de violino a convidou a tentar o instrumento.

A adolescente, a princípio, sentiu-se insegura diante do desafio que enfrentaria. Ela nasceu sem as mãos, resultado de uma má-formação congênita nos membros superiores.

Há um ano praticando violino, ela lembra do incentivo dado, no dia da inscrição, pela professora Juliana Oliveira. “Ela insistiu para eu tentar. Disse que, caso eu não gostasse, eu poderia parar de frequentar as aulas. Pensei que eu não conseguiria, mas resolvi tentar e acabei me apaixonando pelo instrumento”.

Débora foi encontrando meios de adaptar o instrumento a seu modo. No braço esquerdo, ela alterna entre apoiar o violino, com o instrumento projetado mais para a frente do que para o lado, e dedilhar as cordas colocando o braço por cima da haste. Com o direito, segura o arco.

Nas aulas iniciais, para conseguir tocar, usava elásticos de borracha para prender o arco do instrumento.
“Eu enrolava um pano no meu braço para não machucar e prendia o arco com elásticos. Era algo bem amador, e sempre precisava da ajuda de alguém para conseguir fazer essa amarração”.

Depois dos elásticos, veio a ideia de usar velcros. Dessa maneira era mais fácil de encaixar o instrumento no braço de Débora, mas ainda assim ela precisava da ajuda de outras pessoas para conseguir prender o instrumento.

Foi depois de pesquisas na internet que a professora encontrou uma alça de silicone desenvolvida especificamente para pessoas com deficiência. Ela tem furos nas pontas e se encaixa perfeitamente no arco do violino.

Assim, o suporte fica preso ao instrumento e não precisa ser retirado, fazendo com que o músico encaixe o braço sem precisar da ajuda de ninguém.

Ela tem aulas duas vezes na semana, com duração de uma hora cada uma, mas também estuda em casa, nos momentos livres.

“Em quase dez anos de Projeto Guri, a Débora é a minha primeira aluna com deficiência e juntas fomos procurando métodos para que ela pudesse tocar violino e acima de tudo, se sentisse bem e feliz”, conta a professora Juliana.

Há dez meses Débora usa a alça de silicone para tocar o instrumento. Segundo ela, com a adaptação é possível ela ter autonomia para tocar e o acessório não machucar seu braço.

“Como não preciso ficar colocando e tirando a alça de silicone do violino, eu posso pegar e tocar quando eu quero, sem ter que pedir a ajuda de ninguém. Além disso, como ela é feita de silicone não machuca o meu braço e nem preciso usar alguma proteção, o que me deixa muito mais livre.”

Apaixonada pela cultura asiática, a adolescente que é fã do grupo coreano BTS, conta que tem vontade de aprender a tocar um outro instrumento, o guzheng -de 21 cordas, da arte tradicional da China.

“Vi que é possível eu trocar instrumento de cordas mesmo sem ter os dedos, então o guzheng é o próximo que vou aprender”.

“Quero continuar aprendendo para conseguir tocar as músicas que eu gosto, como as de K-pop, não só as padrões de ensinamento. Hoje o violino é um hobby, não sei se vou seguir uma carreira, mas ele foi essencial para eu ver que posso tocar qualquer instrumento de cordas”, diz.

Aluna do segundo ano do ensino médio, a adolescente dedica-se a manter boas notas. Segundo ela, o maior incentivo para ela encarar os desafios vem da mãe, a dona de casa Maria Luiza de Paula.

“Minha mãe sempre me incentivou a ser independente e sempre disse que eu era capaz de fazer o que quisesse. Preconceito existe, mas cada um é de um jeito, ninguém é perfeito”, diz a garota.

As informações são da FolhaPress

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