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Praias sem banho de sol e jogos sem torcedores: a nova realidade pós-coronavírus

Como as cidades na Ásia, na Austrália e outros lugares mantiveram a epidemia do novo coronavírus sobre controle, agora as igrejas e escolas começam a abrir

Redação Jornal de Brasília

05/05/2020 6h25

Os fiéis numa das maiores Igrejas Católicas em Seul, Coreia do Sul, devem se abster de cantar hinos ou dizer “Amém” por temor de propagar saliva. Os padres desinfetam suas mãos na hora da comunhão. A água benta foi removida da capela.

“A partir de agora, isso se tornará normal”, disse Gong My-young, de 53 anos, proprietário de uma escola que presta reforço escolar e participava da missa esta semana na Igreja Myeongdng, na capital sul-coreana. “Temos de estar prontos para a guerra”.

A Coreia do Sul tem até um nome para a nova prática: “quarentena da vida cotidiana”. As autoridades divulgaram um guia de 68 páginas com diretrizes no caso de situações como ir ao cinema (não gritar) e a funerais (saudar com a cabeça em vez de abraçar).

Como as cidades na Ásia, na Austrália e outros lugares mantiveram a epidemia do novo coronavírus sobre controle, agora as igrejas, escolas, restaurantes, cinemas e até locais esportivos começam a abrir, dando uma sensação de normalidade para as pessoas que passaram semanas, e até meses, em isolamento.

Mas elas estão retornando a um mundo repaginado para a era do coronavírus, onde o distanciamento social, regras de higiene e restrições impostas pelo governo se aplicam a todas as atividades – um estilo de vida que deverá persistir até ser encontrada uma vacina ou um tratamento para a covid-19.

Em Hong Kong, as mesas nos restaurantes devem ter uma distância uma da outra de pelo menos um metro e meio e os clientes recebem uma sacola para guardar suas máscaras durante o jantar. Na China, os alunos têm sua temperatura checada antes de entrarem na escola, ao passo que as mesas nos cafés possuem divisores de plástico.

Na Coreia do Sul, os jogos de beisebol são realizados sem a presença dos torcedores e os jogadores não podem cuspir no campo.

Muitas pessoas afirmam que não há outra escolha senão acatar as mudanças, mesmo que concordem com a perda de liberdade e espontaneidade.

Na escola de dança Salsa Amigos, os professores instruem os alunos a usarem máscaras, as pausas são mais frequentes para que eles não transpirem e mantenham uma distância de aproximadamente noventa centímetros do parceiro. Alguns professores evitam danças em casal preocupados de que os alunos fiquem muito próximos.

“Gostaria que esse vírus desaparecesse para eu poder dançar novamente”, disse Woo Tae-hyuck, de 48 anos, funcionária de uma empresa de telecomunicações que participava esta semana das aulas de salsa e bachata, ritmo da República Dominicana.

Nova realidade

Os novos hábitos sociais e ordens emitidas pelas autoridades em Pequim, Hong Kong, e Seul, como também em Sydney e em Taipei, Taiwan, são uma amostra do que em breve será comum no plano global. Enquanto áreas da Europa e Estados Unidos adotam medidas cautelosas para flexibilizar as restrições, muitas cidades na Ásia e na Austrália estão mais avançadas.

O coronavírus, ou o tempo da sua propagação, chegou mais cedo nesses lugares e eles adotaram medidas por meses para mitigar a transmissão. Com novos casos se aproximando do zero, agora têm mais confiança para começar uma abertura, mas cautelosamente.

Alguns governos tentam manter o vírus à distância, mas permitindo espaço suficiente para a atividade econômica e social retornarem. As autoridades vêm testando novas diretrizes de distanciamento social e sanitárias, como a exigência do uso de máscaras no metrô e em ônibus e orientando o público a evitar interações diretas no trabalho. A medição de temperatura é exigida na entrada de restaurantes e centros de compras.

Alguns governos impuseram limites quanto ao número de pessoas que podem se reunir. Em Sydney os moradores só podem receber duas visitas ao mesmo tempo e em Hong Kong as autoridades proibiram reuniões com mais de quatro pessoas em local público. Agrupamentos ao ar livre de mais de 500 pessoas são desaconselhados em Taiwan.

As igrejas são um foco particular do governo na Coreia do Sul, onde a epidemia foi ligada a uma seita religiosa secreta. Muitas igrejas exigem agora que os fiéis reservem com antecedência lugar para as cerimônias para limitar o número de pessoas e todos devem usar máscaras.

Aulas

As escolas constituem o maior desafio. Sabe-se que as salas de aula são ninhos de germes e interações sociais. Mas as sociedades não funcionarão de fato enquanto os pais não puderem enviar os filhos para a escola em tempo integral.

Em Sydney, os estabelecimentos de ensino vêm reabrindo por etapas, com aulas um dia por semana para um quarto dos alunos de cada grau e gradativamente expandindo os horários até o final de junho. Em Pequim, os alunos que se preparam para os exames de admissão à universidade estão retornando, como também em Xangai os estudantes da escola primária e secundária. Seul tem planos de um retorno às aulas em breve.

Mas os professores não estão se arriscando

Na cidade chinesa de Hangzhou, uma escola elementar particular pediu aos alunos para confeccionarem chapéus de papelão com noventa centímetros de largura quando as aulas sobre distanciamento social foram dadas no final de abril. Depois de mostrarem seus chapéus, responderam a perguntas dos professores sobre período de incubação do vírus e seus sintomas.

As empresas também vêm tomando precauções extras para atrair os clientes ainda preocupados que se acostumaram a ficar em casa.

Black Sheep, uma cadeia de restaurantes de luxo em Hong Kong, tornou o exame de temperatura e exames médicos obrigatórios nos seus 23 restaurantes. Spray de álcool e bolsas descartáveis para guardar as máscaras estão em todas as mesas.

“Muitas coisas não retornarão tão cedo ao que eram antes”, disse Syed Assim Hussain, um dos fundadores do Black Sheep. “Os velhos padrões não são mais suficientes. O distanciamento físico é algo que veio para ficar”.

Há poucos sinais de que a vida logo retornará de fato à normalidade, mesmo em países onde as infecções caíram de modo significativo.

As salas de concerto estão silenciosas. Os vagões do metrô estão quase vazios. Equipes esportivas na Coreia do Sul e em Taiwan jogam em estádios desertos.

Em Sydney, as praias começaram a reabrir, mas a polícia e salva-vidas patrulham regularmente para se certificarem de que as pessoas usem a praia apenas para exercícios e não permaneçam muito tempo. Remo, banhos de sol e jogos aquáticos são proibidos.

As regras não sufocaram o espírito de muitos moradores, que afirmam estar aliviados com o fato de saírem de casa novamente depois de semanas de confinamento.

Desmond Cohn, de 26 anos, deu um rápido mergulho em Bondi Beach, esta semana. A praia é um “escape emocional” para muitos moradores, disse ele, e muitos estão ansiosos para se reconectar com a natureza. “Todo mundo está sorridente, olhando em volta. Todos nós estamos pensando, como isso é bom! Estava na hora”.

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