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Mundo

Polícia interrompe marcha de coronacéticos em Berlim

Grupos libertários reclamavam das restrições impostas pelo governo, por entender que elas violam seus direitos de ir e vir e se expressar

Redação Jornal de Brasília

29/08/2020 13h13

Ana Estela de Sousa Pinto
Bruxelas, Bélgica

Uma marcha de cerca de 20 mil pessoas foi interrompida pela polícia na tarde deste sábado (29) em Berlim, na Alemanha. Os manifestantes, de diferentes grupos, protestavam contra as medidas do governo para conter a pandemia de coronavírus.

O ato havia sido proibido na quarta (26) pelo governo de Berlim, sob o argumento de que medidas de distanciamento físico haviam sido desrespeitadas em evento semelhante em 1º de agosto.

Os organizadores recorreram à Justiça e, na manhã deste sábado, o Tribunal Administrativo de Berlim liberou o evento, por entender que não havia indício de que ele “ignoraria deliberadamente” as regras de distanciamento físico e colocaria em risco a saúde pública.

O juiz não impôs o uso de máscaras, mas determinou que os organizadores lembrassem frequentemente os participantes de manter distância. Segundo a polícia, que destacou 3.000 homens para vigiar a passeata, isso não foi cumprido, o que exigiu a dispersão dos participantes.

Os manifestantes haviam se concentrado pela manhã em volta do portão de Brandemburgo, gritando slogans de movimentos pró-democracia na ex-Alemanha Oriental, como “Abra o portão” e “Nós somos o povo” -este último também usado por grupos de extrema direita.

Grupos libertários reclamavam das restrições impostas pelo governo, por entender que elas violam seus direitos de ir e vir e se expressar. Outros movimentos questionam a gravidade da pandemia e afirmam que o governo está destruindo seus empregos e suas fontes de renda.

Um dos países que controlou mais rapidamente a epidemia do novo coronavírus em abril, a Alemanha, que já tem o mais amplo sistema hospitalar da Europa, adotou confinamento e um programa intensivo de testes e rastreamento.

A quarentena derrubou a produção industrial, mas o programa do governo para evitar desemprego foi ampliado e os números de junho e julho mostram recuperação econômica.

Desde o começo das férias de verão, porém, o governo tem alertado para o crescimento do contágio. O número de novos casos nas duas semanas encerradas neste sábado foi de 21 por 100 mil habitantes, 2,5 vezes o registrado há um mês.

Apesar do forte crescimento, em comparação com sua população o índice ainda é muito inferior ao de outros países europeus, como Espanha (205 novos casos em 14 dias / 100 mil habitantes). Para comparação, no mesmo período o Brasil registrou 250 novos casos/100 mil.

Segundo veículos de informação alemães, na dispersão do protesto deste sábado ao menos uma pessoa foi presa. Alguns manifestantes que se recusavam a sair foram arrastados ou carregados por policiais. Em rede social, a polícia de Berlim afirmou que a dispersão foi pacífica, mas houve focos de distúrbios, como um incêndio em uma caçamba e ruas bloqueadas.

Na última sexta, a chanceler Angela Merkel afirmou que a pandemia pode piorar com a chegada do outono, quando as pessoas ficam por mais tempo em locais fechados, o que aumentaria o contágio. O governo anunciou uma multa mínima de EUR 50 (cerca de R$ 310) para quem não usar máscaras onde o uso é obrigatório.

Além de citar o perigo da transmissão, o ministro do Interior de Berlim (equivalente a secretário da Segurança), Andreas Geisel, também havia criticado a ideologia dos possíveis manifestantes.

“Não estou preparado para aceitar pela segunda vez que Berlim vire palco de coronacéticos, neonazistas e extremistas de direita”, disse Geisel. Segundo ele, os grupos usam a liberdade de reunião e de expressão como pretexto para desmoralizar o governo.

Ao recorrer à Justiça pela realização da passeata, a organização que convocou os protestos, Querdenken-711, negou ligação com a extrema direita. Membros do partido nacionalista Alternativa para a Alemanha (AfD), que abriga uma facção de direita radical, participaram da manifestação e criticaram o governo.

A decisão da Justiça de permitir o protesto foi saudada pelo deputado da AfD Leif-Erik Holm como “vitória da liberdade”.

Em paralelo ao protesto contra o governo, manifestações contra a extrema-direita também aconteceram em Berlim neste sábado, segundo a agência Deutsche Welle.

Em convocatória para as contra-marchas em sua rede social, a deputada do Partido de Esquerda (Die Linke) Anne Helm disse que não haverá “tolerância para racistas, antissemitas, extremistas de direita e nazistas”.

As informações são da FolhaPress

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