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Mundo

‘Plano de vacinas de Trump é batata quente para Biden’, diz cientista

Luciana Borio, que integra a equipe de 13 especialistas que orientam o democrata sobre combate à pandemia

Marcus Eduardo Pereira

13/12/2020 17h06

Republican presidential candidate Donald Trump gestures and declares “You’re fired!” at a campaign rally in Manchester, New Hampshire, in this file photo taken June 17, 2015. New York City is reviewing its contracts with Donald Trump following comments by the developer and U.S. presidential candidate insulting Mexicans, Mayor Bill de Blasio said on Wednesday. REUTERS/Dominick Reuter/Files

O plano de distribuição de vacinas elaborado pelo governo de Donald Trump é insuficiente para imunizar a população americana e será uma “batata quente” deixada de herança para a equipe de Joe Biden. A avaliação é de Luciana Borio, que integra a equipe de 13 especialistas que orientam o democrata sobre combate à pandemia. Segundo ela, os Estados não receberam recursos financeiros e logísticos para as etapas de vacinação, que acontecerão ano que vem. Especialista em biodefesa, Luciana é brasileira, mas dedicou a vida profissional ao trabalho nos EUA, com cargos durante as presidências de George W. Bush, Barack Obama, além de Trump.

Como foi o convite para o time de transição de Biden? Já trabalhou com ele antes?

Eu trabalhava na FDA (agência reguladora de alimentos e medicamentos dos EUA) quando ele era vice-presidente. Na época, ele teve mais interesse na área de oncologia (o filho mais velho de Biden, Beau, morreu em decorrência de um câncer no cérebro, em 2015) e lançou o Câncer Moonshot (projeto para acelerar pesquisas sobre câncer e popularizar tratamentos). A FDA esteve muito envolvida nisso, mas não era minha área. Eu trabalhava com infectologia e doenças emergentes, não trabalhei com ele antes. Eu recebi o convite para participar da transição e acredito que esse não é um trabalho político, é um dever cívico.

Biden disse que a obstrução da transição por parte do governo Trump coloca em risco o cronograma de vacinação nos EUA. Atualmente, o diálogo entre as duas equipes é satisfatório?

Está melhorando, mas não é perfeito. É muito difícil ter uma transição perfeita quando o presidente continua nos tribunais e não aceita a derrota. Quando houve a transição de Obama para Trump, eu estava no governo. Eu participei do outro lado, na época, e nós estendemos o tapete vermelho ao time de Trump, porque era do interesse do país.

Qual será o maior desafio na distribuição e aplicação da vacina nos EUA, durante a transição de governo?

Em primeiro lugar, é preciso dizer que a vacina é uma vitória enorme para a ciência. É fantástico termos duas vacinas que demonstraram que são seguras e efetivas nos estudos clínicos. As duas vacinas iniciais são difíceis para qualquer um. Difíceis de fabricar em grandes quantidades e de distribuir. A da Pfizer tem mais de uma dose em cada frasco. Quando cada frasco tem uma só dose, é muito mais fácil de administrar. Há dificuldades logísticas. Mas a grande diferença das duas é que o governo Trump decidiu que deixaria a responsabilidade da distribuição para os governos estaduais. E os Estados não receberam recursos suficientes, nem financeiros nem logísticos, para poder levar isso adiante. Vai ser uma batata quente que vamos herdar, porque as primeiras doses, de dezembro e janeiro, são em número limitado. Estamos falando de, no máximo, 20 milhões de doses. Então, nessa fase, tudo bem. Mas o que vai acontecer depois?

Qual o risco de ter uma distribuição de vacina pulverizada e desigual entre os Estados americanos? E entre os países?

O governo Biden-Harris tem foco muito grande nos valores de igualdade e justiça. Eles não vão parar depois de enviar o lote para cada Estado com base no tamanho da população. Não irão simplesmente lavar as mãos. Eles desejam ter certeza de que a vacina está atingindo a população que foi afetada desproporcionalmente pela pandemia.

Na nossa última entrevista, a senhora afirmou que os EUA tiraram o foco da preparação contra epidemias nos últimos três anos e a falta de planejamento atrapalhou na resposta à covid. Como está o planejamento para obter as vacinas agora?

A vitória atual foi uma grande parceria entre setor público e privado. Falamos que as vacinas foram desenvolvidas em meses, mas na verdade elas estão sendo desenvolvidas há anos com recurso de pesquisa para área biomédica. É importantíssimo continuar com esse tipo de investimento em biomedicina.

A senhora tem acompanhado a discussão sobre a vacina contra covid no Brasil? Poderia avaliar como o País está posicionado?

Não tenho detalhes suficientes para poder opinar. O que posso dizer é que o Brasil tem sido um bom parceiro em termos de participação nos estudos clínicos das vacinas.

O aval da FDA, feito de maneira independente, ajuda a chancelar a confiança da vacina nos EUA e em outros lugares do mundo?

Tenho muita confiança na FDA. Eu tiro o chapéu para o time de vacina da FDA e fico cada vez mais orgulhosa deles. Penso na pressão que sofreram, mas eles insistiram em fazer o processo de maneira correta, o que vai ser muito importante para ter a confiança do público.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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