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Maioria das pessoas carrega anticorpos após se recuperar de covid-19

Anticorpos são moléculas imunológicas produzidas pelo organismo para combater patógenos

Redação Jornal de Brasília

08/05/2020 15h37

CLOROQUINA CORONAVIRUS

Foto: Reprodução

Um novo estudo oferece um vislumbre de esperança na luta sombria contra o coronavírus: quase todo mundo que teve a doença – independentemente de idade, sexo ou gravidade da doença – produz anticorpos para o vírus.

O estudo, publicado online na terça-feira, mas ainda não revisado por especialistas, também sugere que qualquer pessoa que se recupere da infecção pode voltar ao trabalho com segurança – embora não esteja claro quanto tempo sua proteção pode durar.

“São notícias muito boas”, disse Angela Rasmussen, virologista da Universidade Columbia, em Nova York, que não estava envolvida no estudo.

Anticorpos são moléculas imunológicas produzidas pelo organismo para combater patógenos. A presença de anticorpos no sangue geralmente confere pelo menos alguma proteção contra o invasor.

Autoridades de saúde de vários países, incluindo os Estados Unidos, têm depositado suas esperanças em testes que identificam anticorpos para o coronavírus para decidir quem é imune e pode voltar ao trabalho. Pessoas imunes podem substituir indivíduos vulneráveis, especialmente em ambientes de alta transmissão, como hospitais, construindo o que os pesquisadores chamam de “shield immunity” (imunidade de escudo, em tradução livre) na população.

Mas a maioria dos testes de anticorpos é repleta de falsos positivos. O novo estudo contou com um teste desenvolvido por Florian Krammer, virologista da Escola de Medicina Icahn no Monte Sinai, com menos de 1% de chance de produzir resultados falso-positivos.

Vários pequenos estudos deram motivos para esperar que as pessoas que tiveram a covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, ganhem alguma imunidade. O novo estudo é, de longe, o maior, com resultados de 1.343 pessoas em torno da cidade de Nova York.

O estudo também diminuiu a preocupação de que apenas algumas pessoas – só aquelas que estavam gravemente doentes, por exemplo – pudessem produzir anticorpos. Na verdade, o nível de anticorpos não diferiu por idade ou sexo, e mesmo pessoas que apresentaram apenas sintomas leves produziram uma quantidade saudável deles.

Ter anticorpos não é o mesmo que ter imunidade ao vírus. Mas em pesquisas anteriores, a equipe de Krammer mostrou que os níveis de anticorpos estão intimamente ligados à capacidade de desarmar o vírus, a chave para a imunidade.

A equipe testou 624 pessoas cujos exames deram positivo para o novo coronavírus e se recuperaram. No início, apenas 511 delas tinham altos níveis de anticorpos, 42 apresentaram baixos níveis e 71 não tinham anticorpos. Quando 64 dos indivíduos com níveis fracos ou inexistentes foram testados novamente mais de uma semana depois, no entanto, todos, exceto três, tinham pelo menos alguns anticorpos.

Isso sugere que o momento dos testes para anticorpos pode afetar muito os resultados, disseram os pesquisadores. “Não estávamos examinando exatamente isso, mas tivemos suficientes (resultados) para dizer que 14 dias provavelmente seja (um prazo) um pouco cedo demais (para fazer os testes)”, disse Ania Wajnberg.

Houve até uma diferença entre os níveis de 20 dias versus os de 24 dias, disse ela, sugerindo que o momento ideal para um teste de anticorpos é muito depois do início dos sintomas. “O que estamos dizendo às pessoas agora é (os testes devem ser feitos) ao menos três semanas após o início dos sintomas”, disse Ania.

Como os testes para diagnosticar a infecção por coronavírus não estavam disponíveis para a maioria das pessoas na cidade de Nova York em março, os pesquisadores incluíram outras 719 pessoas em seu estudo que suspeitavam ter tido a covid-19 com base nos sintomas e pela exposição ao vírus, mas que não haviam sido diagnosticadas com a doença.

Nesse grupo, os pesquisadores encontraram um resultado completamente diferente. A maioria dessas pessoas – 62% – não pareciam ter anticorpos.

Algumas delas podem ter sido testadas muito cedo para detectar anticorpos após terem adoecido. Mas muitas provavelmente confundiram os sintomas de uma gripe, outra infecção viral ou até alergias com a covid-19, disse Ania.

Outra descoberta do estudo – que os testes de diagnóstico por PCR podem ser positivos até 28 dias após o início da infecção – também é importante, disse Taia Wang. Esses testes procuram fragmentos genéticos, não anticorpos, e sugerem uma infecção ativa ou que está diminuindo.

“Entre tudo que sabemos sobre a SARS-CoV-2, este (estudo) realmente se destaca”, disse ela. “Nós realmente precisamos saber quanto tempo o corpo leva para eliminar o vírus? Quanto tempo as pessoas são contagiosas? Não sabemos a resposta para isso.

Ela e outros cientistas disseram que é altamente improvável que um teste positivo tanto tempo após o aparecimento dos sintomas represente uma nova infecção pelo vírus. Pesquisadores da Coreia do Sul anunciaram recentemente, por exemplo, que vários casos suspeitos de “reinfecção” foram resultado de testes de PCR que captaram restos de vírus mortos.

O material genético do vírus do sarampo pode aparecer nos testes seis meses após a doença, observou Krammer. Sabe-se que os fragmentos genéticos dos vírus Ebola e Zika persistem ainda mais no corpo.

Ainda assim, Taia disse: “Até que tenhamos certeza, é prudente que todos procedam como se um teste de PCR positivo significasse a presença do vírus contagioso”. Os Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) recomenda que as pessoas se isolem por 10 dias após o início dos sintomas, mas esse período pode precisar ser maior.

Especialistas disseram que o próximo passo seria confirmar que a presença de anticorpos no sangue significa proteção contra o coronavírus. O corpo depende de um subgrupo de anticorpos, chamados anticorpos neutralizantes, para protegê-lo do coronavírus.

“A questão agora é até que ponto esses anticorpos são neutralizantes e se isso leva à proteção contra infecções – todas as quais devemos supor que sim”, disse Sean Whelan, virologista da Universidade Washington em St. Louis.

Estadão Conteúdo

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