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Mundo

Macacos e horas extras na corrida pela vacina em um laboratório chinês

O laboratório espera começar a produção em setembro para ter doses disponíveis no final de 2020

Redação Jornal de Brasília

19/06/2020 14h32

São Paulo – Inauguração da linha final de produção da vacina contra febre amarela na unidade Libbs Farmacêutica, uma empresa privada que fez acordo de transferência de tecnologia com o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) da Fiocruz (Rovena Rosa/Agência Brasil)

No laboratório farmacêutico de Shenyang, na China, a equipe trabalha até nos finais de semana, os preços dos macacos de laboratório dispararam, e a pressão cresce para encontrar o mais rápido possível uma vacina contra a COVID-19.

Localizada em Shenyang, no nordeste do país, a empresa privada Yisheng Biopharma trabalha 24 horas por dia desde janeiro para encontrar um remédio contra o coronavírus, detectado no final de 2019 na China.

Cruzar a linha de chegada seria uma vitória para o setor de vacinas chinês, atingido por muito tempo pelos escândalos, assim como um prestígio para o país, acusado pelos Estados Unidos de má gestão no início da epidemia.

A empresa não é a mais adiantada do mundo, nem mesmo na China. Ao contrário de uma dúzia de outros projetos no planeta, sua vacina ainda não iniciou os ensaios clínicos (em humanos).

O laboratório espera começar a produção em setembro para ter doses disponíveis no final de 2020, caso o produto seja aprovado pelas autoridades competentes.

“Essa vacina tem que chegar ao mercado rapidamente. Não se pode esperar pela próxima temporada epidêmica para concluir os ensaios clínicos”, disse à AFP o presidente da Yisheng Biopharma, Zhang Yi.

‘Muito a fazer’

A urgência deixou seus pesquisadores sem um único dia de descanso desde o final de janeiro.

“Há muito a fazer”, afirma.

A empresa está na fase de ensaios em animais. Os resultados dos primeiros testes com ratos e coelhos são animadores, pois os animais produziram uma grande quantidade de anticorpos, relata Zhang.

Uma eventual vacina deve ser capaz não apenas de proteger as pessoas com boa saúde, mas também de curar os doentes, segundo a Yisheng Biopharma.

A próxima etapa são os ensaios com macacos, mas o preço dos primatas disparou, devido à forte demanda dos laboratórios que competem para ser o primeiro a elaborar uma vacina e medicamentos anti-COVID-19, explica o presidente David Shao.

A Yisheng Biopharma costuma pagar entre 10.000 e 20.000 iuanes (algo entre US$ 1.412 e US$ 2.825) por macaco. Agora, esses animais podem custar até 100.000 iuanes, conta.

A China é um dos principais fornecedores mundiais de macacos para pesquisa. Em 2019, exportou 20.000 e usou 18.000 no mercado interno, afirma o presidente da empresa fornecedora de animais de laboratório Beijing HFK, Liu Yunbo.

Treze vacinas 

A Yisheng Biopharma já gastou cerca de 2,7 milhões de euros (um pouco mais de US$ 3 milhões) em sua pesquisa contra a COVID-19.

“Mais do que em outras vacinas”, diz David Shao.

Um custo justificado principalmente pela falta de recursos e material de pesquisa.

“Estamos realmente em uma corrida contra o tempo”, afirma Shao, acrescentando que sua empresa será capaz de produzir 500 milhões de doses anualmente.

Hoje, o número de pacientes é muito baixo na China para a realização de testes em humanos. Por isso, a Yisheng Biopharma planeja se candidatar para realizar ensaios clínicos nos Estados Unidos, na Europa, em Singapura e na Austrália, em colaboração com uma empresa dos EUA.

No total, 13 vacinas já iniciaram ensaios clínicos no mundo. Quase metade delas é chinesa.

Zhang Yi não esconde que os produtos de seus concorrentes provavelmente estarão no mercado antes dos seus.

“Mas o mais importante é ter capacidade de produzir em grandes quantidades. Ter bons resultados e um produto de alta qualidade”, enfatizou.

“Ser o primeiro não quer dizer nada”, completou.

© Agence France-Presse

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