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Líder do Estado Islâmico morre em operação dos Estados Unidos na Síria

“Ele acionou seu colete, se matando”, disse Trump. “Ele morreu após correr para um túnel sem saída, soluçando, chorando e gritando por todo o caminho”

Lindauro Gomes

28/10/2019 5h50

(FILES) In this undated filer image grab taken from a video released by Al-Furqan media on April 29, 2019, the chief of the Islamic State group Abu Bakr al-Baghdadi purportedly appears for the first time in five years in a propaganda video in an undisclosed location. – Baghdadi was believed to be dead after a US military raid in Syria’s Idlib region, US media reported early Sunday. Baghdadi may have killed himself with a suicide vest as US special operations forces attacked, media said citing multiple government sources. (Photo by – / AL-FURQAN MEDIA / AFP) / THIS PICTURE WAS MADE AVAILABLE BY A THIRD PARTY. AFP CAN NOT INDEPENDENTLY VERIFY THE AUTHENTICITY, LOCATION, DATE AND CONTENT OF THIS IMAGE. THIS PHOTO IS DISTRIBUTED EXACTLY AS RECEIVED BY AFP. RESTRICTED TO EDITORIAL USE – MANDATORY CREDIT “AFP PHOTO / SOURCE / AL-FURQAN” – NO MARKETING – NO ADVERTISING CAMPAIGNS – DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS /

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou neste domingo (27) que o líder do grupo extremista Estado Islâmico (EI), Abu Bakr al-Bagdadi, morreu “como um cachorro” em uma operação de agentes especiais americanos durante a noite no noroeste da Síria.

Trump fez um pronunciamento na Casa Branca, no qual informou que os agentes americanos mataram “um grande número” de militantes do EI durante a operação, que culminou no encurralamento de Bagdadi em um túnel, onde ele acionou um colete suicida.

“Ele acionou seu colete, se matando”, disse Trump. “Ele morreu após correr para um túnel sem saída, soluçando, chorando e gritando por todo o caminho”, declarou, acrescentando que três de seus filhos também morreram com a explosão.

Houve um tiroteio intenso e “muitas explosões”, acrescentou o presidente americano, destacando que nenhum de seus homens ficou ferido. A única vítima americana foi um cão militar dentro do túnel.

O presidente americano disse que a operação, que demandou mais de uma hora de voo de helicóptero em várias direções vindo de uma base não revelada, foi possível graças à ajuda da Rússia, da Síria, da Turquia e do Iraque.

Trump agradeceu ainda aos curdos sírios “por um certo apoio” que eles deram.

– 100% seguro –

O secretário americano da Defesa, Mark Esper, disse em um comunicado que este é “um grande dia para os Estados Unidos e um grande dia para o mundo”.

Em declarações à CNN, Esper disse que a equipe que executou a missão tem a confirmação visual e o DNA da identidade de seu alvo.

O assessor de segurança nacional de Trump, Robert O’Brien, detalhou a mensagem recebida pelo presidente e seus assessores enquanto supervisionavam a operação dentro da Sala de Crise da Casa Branca.

“O comandante da missão ligou e disse, ‘100% certo’ de que Bagdadi estava morto”, declarou O’Brien à NBC.

No seu auge, o EI controlou vastos territórios no Iraque e na Síria, onde proclamou um califado marcado pela imposição brutal de uma versão puritana do Islã.

Além da opressão da população sob seu comando, o EI planejou ou inspirou ataques terroristas na Europa, usando técnicas de propaganda nas redes sociais para atrair um número amplo de voluntários estrangeiros.

Foram vários anos de guerra, nos quais o EI ficou famoso pelas execuções em massa e assassinatos de reféns, antes de o último território do califado na Síria ser retomado, em março.

– Impulso, elogios e dúvida –

A morte de Bagdadi é uma grande conquista para Trump, cuja decisão abrupta de retirar tropas da Síria despertou o temor de que remanescentes do EI pudessem se reagrupar.

O mandatário recebeu uma salva de críticas, inclusive de seu próprio Partido Republicano.

A notícia da operação foi elogiada por líderes mundiais.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse no Twitter que era “um punto de inflexão” na “luta conjunta contra o terrorismo”.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, chamou a operação de “um momento importante”, mas advertiu que esta luta “ainda não terminou”.

Um porta-voz do governo do Irã disse que a morte de Bagdadi não significa o fim do terrorismo do Estado Islâmico, e sim “apenas o fim de um capítulo”.

Mas a Rússia levantou dúvidas sobre a morte de Bagdadi. “O Ministério da Defesa não tem informação confiável… Sobre a enésima morte’ de Bagdadi”, disse o porta-voz Igor Konashenkov.

Trump descartou as dúvidas. Embora “não restasse muito” de Bagdadi, exames de DNA confirmaram sua identidade, disse.

Em Washington, a oposição democrata elogiou a operação, mas advertiu que a ameaça do EI não terminou, principalmente após a decisão de Trump de retirar tropas americanas da Síria.

A democrata Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes, disse que os deputados deveriam ser informados tanto sobre a operação quanto sobre a política de Trump para aquela região. Ela assinalou que “os russos, mas não os principais líderes do Congresso, foram informados”.

Trump respondeu que não confiava nos democratas – que iniciaram um processo de impeachment contra ele – e que, por isso, não comunicou-lhes a morte de Bagdadi.

– População em pânico –

De acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), que tem uma ampla rede de informantes no terreno, comandos americanos foram deixados de helicópteros na província de Idlib (noroeste sírio), em uma área onde estavam “grupos próximos ao EI”.

Oito helicópteros dispararam contra uma casa e um automóvel nos arredores de Barisha, acrescentou o OSDH, com sede no Reino Unido, mas que tem uma ampla rede de informantes na Síria.

A operação matou nove pessoas, incluindo um líder do EI chamado Abu Yamaan, além de uma criança e duas mulheres, segundo a ONG.

Um correspondente da AFP viu nos arredores de Barisha a carcaça de um micro-ônibus incendiado.

Um morador contactado pela AFP nesta região disse ter ouvido helicópteros e ataques de aviões poucos minutos depois da meia-noite.

“Os aviões voavam a uma altura muito baixa, provocando grande pânico entre as pessoas”, relatou à AFP Ahmed al Hassaui, deslocado instalado em um dos acampamentos informais perto do Barisha.

– Inteligência conjunta –

A Turquia, que tem lançou uma ofensiva contra as Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, no nordeste da Síria nas últimas semanas, tinha “conhecimento antecipado” sobre o ataque, disse uma autoridade turca.

“Até onde eu sei, Abu Bakr al-Bagdadi chegou a esse local 48 horas antes do ataque”, disse o oficial à AFP.

Mazlum Abdi, comandante em chefe das FDS, dominadas por combatentes curdos, e que luta contra o EI na Síria, afirmou que a operação ocorreu após “trabalho conjunto de inteligência” com as forças americanas.

Bagdadi, cujo verdadeiro nome é Ibrahim Awad al Badri, teria nascido em 1971 em uma família pobre da região de Bagdá. Apaixonado por futebol, fracassou em sua tentativa de ser advogado e militar, e começou a estudar teologia.

Desaparecido em 2014, só foi visto em um vídeo em que convocou seguidores a vingar a derrota internacional do grupo extremista.

Os Estados Unidos ofereciam US$ 25 milhões de recompensa por informações sobre seu paradeiro.

Em setembro, o EI divulgou uma mensagem de áudio que dizia ser de Bagdadi, e na qual ele elogiava as operações de afiliados do grupo extremista em diferentes regiões.

Agence France-Presse

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