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Justiça britânica nega pedido para extraditar Assange aos EUA

Assange, 49, foi alvo de 18 acusações relacionadas à divulgação de uma vasta coleção de registros militares e diplomáticos confidenciais dos EUA em 2010. Segundo as autoridades americanas, os vazamentos pôs vidas em perigo

Marcus Eduardo Pereira

04/01/2021 22h19

A Justiça britânica decidiu nesta segunda (4) que o fundador do site WikiLeaks, o australiano Julian Assange, não deve ser extraditado aos EUA para enfrentar acusações de infringir uma lei de espionagem e de conspirar para obter documentos americanos secretos a partir de hackeamento de computadores do governo.

Assange, 49, foi alvo de 18 acusações relacionadas à divulgação de uma vasta coleção de registros militares e diplomáticos confidenciais dos EUA em 2010. Segundo as autoridades americanas, os vazamentos pôs vidas em perigo.

Os EUA já anunciaram que recorrerão ao Supremo Tribunal de Londres para reverter a decisão. Na última instância, o caso pode parar na Suprema Corte do Reino Unido.

A defesa de Assange, por sua vez, anunciou que protocolará um pedido de fiança para seu cliente. O australiano pode ser condenado a 175 anos de prisão caso a Justiça americana o declare culpado.

Os advogados argumentaram que todas as acusações tiveram motivação política e foram apoiadas pelo presidente Donald Trump. Segundo a defesa, sua extradição representaria uma grave ameaça ao trabalho dos jornalistas.

“O mero fato de que este caso foi a um tribunal e durou tanto tempo constitui um ataque histórico e em grande escala à liberdade de expressão”, disse o editor-chefe do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson.

A juíza Vanessa Baraitser rejeitou quase todos os argumentos dos advogados, mas disse que não poderia extraditar Assange, porque havia risco real de que ele se suicidasse.

“Diante de condições de isolamento quase total, estou convencida de que os procedimentos [determinados pelas autoridades dos EUA] não impedirão o sr. Assange de encontrar uma forma de cometer suicídio”, disse na decisão.
Segundo ela, Assange tem crises de depressão severa, e o risco de que ele se mate caso uma ordem de extradição seja emitida é substancial.

“A impressão geral é a de um homem deprimido e às vezes desesperado, que está genuinamente com medo de seu futuro”, disse a juíza. De máscara, Assange demonstrou pouca emoção com a decisão.

Após o anúncio da decisão, a advogada Stella Morris, com quem Assange tem dois filhos, falou ao jornal alemão Der Spiegel e fez um apelo ao governo Trump. “Peço ao presidente dos EUA que acabe com isso. Derrube as paredes dessa prisão, deixe nossos filhos terem seu pai. Liberte Julian, liberte a imprensa, todos nós.”

Em setembro, ela entregara ao gabinete do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, uma petição com cerca de 800 mil assinaturas contra a extradição de Assange.

Nesta segunda-feira, um grupo de aproximadamente 30 pessoas se reuniu do lado de fora do tribunal para expressar apoio ao australiano.

“Ele não fez nada de errado. A vingança de Trump teve longos tentáculos”, disse a manifestante Myra Sands, 78, à agência AFP –o vazamento pelo qual Assange é acusado ocorreu ainda durante o governo de Barack Obama.

Assange e o site WikiLeaks se tornaram famosos em 2010, após a publicação de cerca de 700 mil documentos militares e diplomáticos confidenciais, que colocaram os EUA em situações delicadas.

Entre as publicações, havia um vídeo de helicópteros americanos atirando contra civis no Iraque, em 2007. O ataque matou ao menos dez pessoas em Bagdá, incluindo dois jornalistas da Reuters.

Autoridades americanas dizem que mais de cem pessoas foram colocadas em risco após as publicações e cerca de 50 precisaram de assistência.

Do outro lado, apoiadores de Assange o consideram um herói anti-establishment e reiteram o discurso de que atacar seu trabalho é atacar o jornalismo e a liberdade de expressão com motivações políticas.

A juíza rejeitou esses argumentos. Segundo Baraitser, não há evidências suficientes de que os promotores britânicos tenham sido pressionados de alguma forma pelo governo americano nem demonstrações de hostilidade de Trump em relação a Assange.

Em sua decisão, ela afirmou ainda que não há motivos para crer que o australiano não teria um julgamento justo nos EUA e disse que seus atos no WikiLeaks foram além do jornalismo investigativo.

A troca de comando nos EUA pode impactar o futuro de Assange. Joe Biden, presidente que tomará posse no dia 20, chamou o australiano de “terrorista de alta tecnologia”.

“Este homem fez coisas que nos prejudicaram, puseram em perigo a vida e a profissão de determinadas pessoas no mundo, complicaram as relações com nossos aliados e amigos”, disse ele em dezembro de 2010, quando era vice-presidente. Não está claro, no entanto, se ele ainda pensa da mesma forma.

Em setembro de 2020, Edward Fitzgerald, um dos advogados de Assange, disse considerar que a situação de seu cliente pioraria bastante caso Trump fosse reeleito em novembro, o que não aconteceu.

As informações são da FolhaPress

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