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Grande explosão atinge Beirute e deixa ao menos 73 mortos

O ministro da Saúde, Hamad Hassan, disse que o incidente deixou ao menos 73 mortos, além de mais de 3.700 feridos

Redação Jornal de Brasília

04/08/2020 18h45

Foto: AFP

Uma grande explosão atingiu na tarde desta terça (4) a cidade de Beirute, capital do Líbano, levantando bolas de fogo e colunas de fumaça gigantescas e afetando construções a quilômetros de distância.

O ministro da Saúde, Hamad Hassan, disse que o incidente deixou ao menos 73 mortos, além de mais de 3.700 feridos.

Paredes de prédios foram destruídas, janelas quebraram, carros foram virados de cabeça para baixo e destroços bloquearam várias ruas, forçando feridos a caminhar em meio à fumaça até hospitais.

Segundo testemunhas, o estampido da explosão foi ouvido até na cidade costeira de Larnaca, no Chipre, a cerca de 200 km da costa libanesa.

Ainda não se sabe ao certo o que motivou o incidente, que ocorreu na zona portuária da capital, e se outras explosões aconteceram, como especulou-se logo após as primeiras informações do caso.

Segundo o chefe de segurança interna do Líbano, Abbas Ibrahim, a origem do episódio é uma área do porto com materiais altamente explosivos -não há informação se a explosão foi proposital ou não.

Ele disse que não iria especular sobre as razões para não atropelar as investigações.

Já o ministro do Interior, Mohamed Fehmi, disse que havia armazenada no porto uma grande quantidade de nitrato de amônio, substância usada como fertilizante, e que essa teria sido a causa da explosão.

O secretário-geral da Falange (o mais tradicional partido democrata-cristão do Líbano), Nizar Najarian, foi a primeira morte confirmada da explosão -o escritório da legenda ficava perto da região portuária.

Além dele, o chefe da estatal elétrica do país, Kamal Hayek, foi ferido e está em estado grave, de acordo com o jornal The New York Times.

Na primeira manifestação oficial do governo sobre o caso, o primeiro-ministro Hassan Diab decretou um dia de luto em todo o país, a ocorrer nesta quarta-feira (5). Em discurso transmitido na TV, disse que os responsáveis pela explosão sofrerão consequências.

“Prometo a vocês que essa catástrofe não passará sem responsabilização. Os culpados vão pagar o preço”, afirmou. “Fatos sobre esse armazém perigoso, que está lá desde 2014, serão anunciados.”

Veja o vídeo: 

Já o presidente Michael Aoun convocou uma reunião de emergência com o Conselho de Defesa do país.

O Hizbullah, partido xiita e ligado ao regime iraniano, deixou de lado as rivalidades históricas e pediu união nacional para enfrentar o que classificou como catástrofe.

Georges Kettaneh, presidente da Cruz Vermelha Libanesa, disse à TV libanesa LBC que muitas pessoas continuam presas em casas atingidas pelo fogo. Alguns estão sendo resgatados por barcos.

Segundo o canal, um dos hospitais da cidade está tratando mais de 500 feridos e não tem capacidade para receber mais ninguém. Dezenas deles precisam de cirurgias.

Na frente de outro centro médico, dezenas de feridos, incluindo crianças, algumas cobertas de sangue, esperavam para serem atendidos, segundo a agência de notícias AFP.

A área portuária foi isolada pelas forças de segurança, que só permitem a passagem de agentes da defesa civil, ambulâncias e caminhões de bombeiros. Nas proximidades do porto, a destruição é enorme.

A mídia local transmitiu imagens de pessoas presas a escombros, algumas cobertas de sangue. “Os prédios estão tremendo”, publicou no Twitter um morador da cidade, dizendo que “todas as janelas do apartamento explodiram”.

“Vi uma bola de fogo e fumaça sobre a cidade. As pessoas gritavam e corriam, sangrando. Varandas foram arrancadas dos prédios. Vidros de prédios caíram nas ruas”, disse outra testemunha à Reuters.?

De acordo com o Itamaraty, até agora não houve relatos de brasileiros mortos ou gravemente feridos. O Líbano tem uma grande comunidade com laços com o Brasil: há mais descendentes e parentes de libaneses em solo brasileiro (entre 7 e 10 milhões) do que libaneses no país de origem (7 milhões).

A fragata brasileira Independência, nau capitânia da Unifil (Força Interina das Nações Unidas no Líbano), não estava no porto de Beirute na hora da explosão, mas no Mediterrâneo, patrulhando a região.

A embarcação leva cerca de 200 marinheiros. A Unifil foi criada em 2006 para verificar a retirada israelense do sul do Líbano e evitar o contrabando de armas por via marítima, após um dos inúmeros embates entre as duas partes nas últimas décadas.

O porta-voz da ONU Farhan Haq declarou a jornalistas que não se sabe se a explosão foi acidental ou provocada e que não há indicação de feridos entre os funcionários da organização.

Uma fonte do governo de Israel, rival do Líbano, negou à agência de notícias Reuters qualquer envolvimento com a explosão, e o chanceler isralense, Gabi Ashkenazi, corroborou a versão, ao afirmou a uma TV local que a explosão foi provavelmente causada por um incêndio acidental.

Por fim, o ministro da Defesa Benny Gantz ofereceu ajuda humanitária por meio de canais diplomáticos.

O Pentágono declarou que os EUA estão cientes do ocorrido e “preocupados com a perda potencial de vidas devido a essa explosão tão grande”. O Departamento de Estado americano ofereceu “toda a assistência possível” aos libaneses.

O ministro de Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, também afirmou que o país está pronto para ajudar como for necessário.

Rival de Teerã, a Arábia Saudita afirmou que acompanha com preocupação o caso e expressou solidariedade aos libaneses.

O Líbano atravessa sua pior crise econômica em décadas, marcada por depreciação monetária sem precedentes, hiperinflação, demissões em massa e restrições bancárias drásticas, que alimentam há vários meses o descontentamento social.?

JULGAMENTO

A TV Al Arabiya inicialmente noticiou que ocorreram explosões por toda a cidade e que uma delas teria ocorrido próximo à residência do ex-premiê Saad Hariri.

A informação não foi confirmada oficialmente, e o próprio Saad postou uma foto em uma rede social logo após a explosão na zona portuária, indicando que não ficou ferido.

A afirmação da Al Arabiya imediatamente levantou suspeitas de que o incidente poderia estar ligado à divulgação do veredito do julgamento de quatro homens acusados de terem assassinado o também ex-primeiro-ministro libanês Rafik Hariri -pai de Saad- em 2005.

Ao longo do dia, porém, as suspeitas de ligação entre a explosão e o julgamento diminuíram.

Os réus, todos membros do movimento xiita Hizbullah, estão sendo julgados à revelia pelo Tribunal Especial do Líbano (TSL), com sede em Haia (Holanda), encarregado de proferir a sentença 15 anos após o atentado com um carro-bomba, em Beirute, que matou 21 pessoas e deixou 256 feridos.

O resultado do processo deve ser anunciado na sexta-feira (7).

O assassinato de Hariri, pelo qual quatro generais foram inicialmente acusados, desencadeou uma onda de protestos que forçou a retirada das tropas sírias do país, após 30 anos no Líbano. O Hizbullah, que nega envolvimento no caso, opõe-se a entregar os suspeitos, apesar de vários mandados de prisão do TSL.

Hariri tem ligações históricas com a Arábia Saudita e era considerado um dos principais líderes políticos sunitas do Líbano, enquanto o Hizbullah representa parte da comunidade xiita.

O movimento não reconhece o TSL. Segundo analistas, o tribunal, estabelecido em 2007 após uma resolução do Conselho de Segurança da ONU a pedido do Líbano, tem sido questionado e representou um custo de vários milhões de dólares para o país.

O assassinato de Hariri “tinha um objetivo político”, afirmou a acusação durante o julgamento, lembrando que o ex-premiê “era visto como uma grave ameaça aos pró-sírios e aos partidários do Hizbullah”.

Se forem considerados culpados, os acusados poderão ser condenados a prisão perpétua. As sentenças serão divulgadas mais adiante. Acusação e defesa poderão recorrer e, se um dos acusados finalmente comparecer diante do tribunal, poderá solicitar outro processo.

Saad, filho de Hariri e que renunciou ao cargo de premiê em 2019, disse em um comunicado divulgado na semana passada que “não havia perdido a esperança na Justiça internacional e na revelação da verdade”.

Diab, o atual premiê, alertou que as autoridades “devem estar preparadas para enfrentar consequências” do julgamento. Analistas avaliam que a divulgação do veredito pode fazer ressurgir tensões no país.

O primeiro suspeito, Salim Ayyash, 50, é acusado de homicídio doloso e de ter liderado a equipeque cometeu o ataque. Outros dois homens -Hussein Oneisi, 46, e Asad Sabra, 43- estão sendo julgados por produzirem um vídeo que reivindicava a autoria do crime em nome de um grupo fictício.

O último acusado, Hassan Habib Merhi, 52, enfrenta várias acusações, incluindo cumplicidade em ato terrorista e conspiração para cometê-lo. Mustafa Badreddin, o principal suspeito e apresentado como o “cérebro” do atentado, não pode ser julgado porque morreu alguns anos após os eventos.

XIITAS E SUNITAS

Desde o fim da guerra civil, em 1990, o Líbano se equilibra em delicada partilha de poder que segue linhas sectárias -o presidente é cristão, o premiê é muçulmano sunita e o presidente do Parlamento é xiita.

A origem da divisão entre xiitas e sunitas, duas grandes correntes da religião muçulmana, remonta à morte de Maomé, em 632, que não deixou nenhum herdeiro.

Os dois grupos discordam sobre quem deveria ter dado continuidade à liderança do profeta: sunitas preferiam que o líder da comunidade fosse escolhido entre seus seguidores, enquanto xiitas defendiam alguém com laços de sangue com Maomé -especificamente Ali, seu primo e genro.

Os sunitas venceram a disputa e elegeram Abu Bakr, primeiro califa do islã.

A predominância dos sunitas nas dinastias posteriores do império islâmico levou xiitas a se identificarem permanentemente como oposição ao poder estabelecido, também fixando posição minoritária na comunidade muçulmana. Hoje, sunitas se concentram na Arábia Saudita, no Egito e na Síria, entre outros países, e os xiitas, no Irã e no Iraque.

No Líbano, a população é dividida entre os dois ramos e os cristãos: cerca de 30,6% são sunitas, 30,5% são xiitas e 33,7% são cristãos, de acordo com informações de 2018 registradas em um banco de dados da CIA, a agência de inteligência do governo dos EUA.

As informações são da Folhapress

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