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Mundo

‘Eles mataram minha husky e disseram que mulheres não podiam ter cachorros’

Os atiradores alegaram que uma mulher não pode ter cachorro

Redação Jornal de Brasília

14/02/2020 21h16

Na sexta-feira da semana passada (7) Sahba Barakzai e sua família saíram juntos com sua husky siberiana Aseman, de sete meses, para as montanhas do Afeganistão. No entanto, alguns homens se aproximaram da família e mataram a tiros a cachorra filhote. 

Os atiradores alegaram que uma mulher não pode ter cachorro. Mas Sabha teme que o ato brutal possa ter a ver com o fato de ela ensinar esporte para meninas.

“Ainda não sabemos sobre o objetivo deles, mas achamos que é por causa da profissão dela”, disse a irmã Setayesh à BBC. “Ela é a primeira mulher a ter seu próprio clube (de esporte) e essas coisas são tabus.”

Sahba estava acostumada a receber ameaças. Ela ensina karatê a crianças em Herat, a terceira maior cidade do Afeganistão, faz10 anos.

Ela também criou um clube de ciclismo para jovens e adolescentes. É um esporte com muita exposição pública em um país onde, há menos de duas décadas, as mulheres eram proibidas de ir à escola, trabalhar ou mesmo sair de casa sem estarem acompanhadas de um homem.

Setayesh disse que ainda é um tabu para as meninas andar de bicicleta em Herat, onde  parte da comunidade reagiu inicialmente de forma agressiva, mas a irmã dela estava determinada a persistir.

‘Gritei e corri’

“A principal inspiração foi a situação das mulheres em Herat porque ela (Sahba) é uma pessoa ativa na comunidade”, explicou Setayesh.

“(Nossos pais) estavam muito preocupados porque a vida dela estava em perigo — e vimos com nossos próprios olhos na semana passada.”

A tragédia com Aseman deixou a família abalada. Sahba estava com os pais e as irmãs. 

A husky, cujo nome significa “céu”, em referência aos olhos azuis, tinha se juntado à família apenas alguns meses antes, mas era claramente muito amada e já tinha ganhado o apreço da família.

Fotos mostram ela brincando na neve, brincando com crianças no clube e andando com Sahba nas montanhas — exatamente como estavam na sexta-feira.

“Estávamos andando, fazendo piqueniques e tudo o mais como sempre”, disse Sahba à BBC. “Nós vamos lá quase toda semana, mas naquele dia foi diferente.”

Cerca de duas horas depois da caminhada, um homem parecendo um pastor se aproximou do grupo e atirou em Aseman.

“Eu gritei e corri em direção a Aseman e pedi para o homem não atirar”, disse Sahba à agência de notícias afegã Khaama. “O criminoso não se importou e deu mais quatro tiros no peito de Aseman.”

Os tiros foram fatais: soluçando, Sahba pegou Aseman nos braços e começou a correr em direção ao carro.

O atirador, entretanto, atirou mais vezes no cachorro e exigiu que ela largasse a cachorra e deixasse o cadáver com eles. Como mulher, disse ele a Sahba, ela não tinha o direito de ter um cachorro.

A família não teve escolha a não ser deixar Aseman com os homens e fugir. Eles não sabem quem eram os homens ou por que foram alvejados. Um depoimento à polícia, disse Sahba, seria inútil.

“Eu sabia que nada aconteceria”, disse ela a Khaama. “Dezenas de seres humanos são mortos todos os dias no país e ninguém é condenado.”

Ferida profunda

O ataque deixou toda a família chocada, diz Setayesh.

“Ficamos realmente em choque. Nunca estive nesse tipo de situação antes, virou uma lembrança terrível para todos nós.”

Mas a situação deixou uma ferida especialmente profunda em Sahba, que decidiu encerrar seus clubes esportivos — uma enorme perda para a comunidade — e tentar atravessar a fronteira, para o vizinho Irã, onde ela espera estar mais segura.

“Aseman era como uma filha para Sabha”, explicou Setayesh.

Sahba, enquanto isso, tenta se recuperar enquanto sofre a perda.

“No dia em que eu trouxe a Aseman, pesquisei por quantos anos um cão pode viver e percebi que um cachorro pode viver cerca de 14 anos ou mais”, disse ela. “Fiquei chateada quando soube que Aseman poderia viver apenas 14 anos comigo.

“Nunca pensei que minha querida Aseman viveria apenas sete meses e depois seria morta.”

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