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Mundo

Coronavírus: imagens de caixões em Bergamo comovem italianos

Os cemitérios da cidade de Bergamo não tem mais capacidade para atender a tantos pedidos de cremação

Redação Jornal de Brasília

19/03/2020 9h48

As imagens dos caminhões militares em fila em frente ao hospital da cidade de Bergamo, na Itália, para remover os corpos das vítimas do novo coronavírus (Sars-CoV-2) comoveram os italianos na noite desta quarta-feira (18).

Os militares foram acionados pelos governos para levar os corpos para crematórios da região, já que os cemitérios da cidade não tem mais capacidade para atender a tantos pedidos de cremação.

“Essa dos caminhões do Exército que levam os cadáveres de Bergamo é uma das fotos mais tristes da história do nosso país.

Somos italianos e, em momentos como esse, é quando tiramos o melhor de nós. Sairemos dessa e faremos isso também por eles”, escreveu um italiano em seu Twitter.

Outro usuário da rede social também fez um relato comovente.

“Minha Bergamo! Essa noite não tenho mais palavras, não tenho mais forças, não tenho nem um “vai ficar tudo bem”. Essa noite só tenho lágrimas, tenho só dor”, postou.

A Itália é o segundo país do mundo em número de casos do novo coronavírus, com 35.713 pessoas infectadas, e também a segunda em número de mortos, com 2.978. Bergamo fica localizada na província da Lombardia, a que mais tem casos e mortes da doença, e é uma das localidades que mais está sofrendo com os atendimentos hospitalares. Para ter uma ideia, já são 1.959 mortos apenas na província.

Drama

Apoiado na janela, Roberto olha para a esquerda e para a direita, mas sua pequena rua, no centro de Roma, em geral lotada de turistas e moradores do bairro, está completamente vazia.

Desde que o governo anunciou a decisão drástica de confinar os italianos em suas casas, Roberto Fichera, um animado senhor de 84 anos, sai de casa apenas para o estritamente necessário: “Compras e uma escapada de vez em quando à farmácia para minha medicação”.

Nestas circunstâncias, a questão do isolamento dos idosos está na ordem do dia, pois a Itália tem a população mais envelhecida da Europa – segundo as estatísticas – e poucos vivem em residências para a terceira idade.

Felizmente para Roberto, o bairro de Monti, onde vive, entre o Coliseu e a estação central de Termini, tem um comércio forte e ele consegue fazer tudo a pé, “uma bênção” em suas palavras, que mora sozinho e não tem carteira de motorista.

“Entro na fila como todo mundo, respeitando a distância de segurança, mas geralmente deixam que eu passe na frente pela minha idade avançada, algo que aceito de bom grado, já que para algo ser velho é uma vantagem”, comenta, com um risada.

No momento, ele administra bem o confinamento obrigatório. “Sou caseiro e gosto de ficar ocupado em casa, assim comecei com uma grande limpeza de primavera (hemisfério norte), que me tomou vários dias”, explica.

“Evidentemente, tive que desistir de algumas coisas, como uma visita com um amigo a uma loja Ikea para comprar uma mesa nova. Mas vou sobreviver”, brinca o idoso.

Durante a conversa é preciso insistir um pouco para que ele admita que a situação extraordinária alterou seu dia a dia: “A única coisa que me angustia é o silêncio. Não se ouve nenhum barulho, nenhum carro, as ruas estão vazias… Quando você sai para caminhar e ouve passos atrás, quase dá medo, você vira preocupado”, comenta.

“Você consegue ouvir até o canto dos pássaros, em pleno centro. Você percebe?”, pergunta, incrédulo.

– Poesia e Aperol –

Ele vai dormir por volta de 1H00 e acorda às 9H00. Todas as manhãs ele mede a temperatura, pois os idosos, mais vulneráveis, são o alvo favorito do coronavírus: os falecidos na Itália têm idade média de 80 aos.

“Nada de febre, nada de tosse, tudo bem”, se tranquiliza.

Do outro lado do Tíber, no bairro de Trastevere, Carla Basagni, pintora e poeta amadora, também passa muito tempo na janela observando a Via della Lungaretta, a rua principal que liga o ponto do bonde com a praça de Santa Maria in Trastevere e sua fonte majestosa.

Normalmente há um fluxo contínuo de turistas, músicos de rua e vendedores ambulantes. Mas hoje a rua está completamente deserta. Desta maneira, Carla se refugia na leitura.

“As livrarias estão fechadas e não posso comprar livros, mas tive uma ideia: releio os livros que abriram a minha mente e o coração. Basta procurá-los e reaparecem como por arte de magia nas minhas estantes”.

“E, de novo, me ajudam a recordar que o tempo está do nosso lado, apenas temos que ser pacientes”, completa.

Carla, que também vive sozinha, faz o que pode para manter a forma. “Faço exercícios em casa. Bebo água ao menos cinco vezes ao dia e pouco vinho, embora goste muito”, explica.

“Às vezes, coloco um pouco de Aperol na água para dar uma bonita cor vermelha”, confessa, sem esconder o sorriso.

“Também preparo bons pratos”, afirma, antes de explicar que esclarece suas ideias escrevendo poesias.

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