Menu
Mundo

Com aprovação em baixa, Trump vê sob ameaça controle republicano do Senado

Em novembro, os eleitores decidirão quem vai ocupar 36 das 100 cadeiras no Senado. Hoje, a divisão é de 53 republicanos e 47 democratas ou independentes que votam com democratas

Redação Jornal de Brasília

03/05/2020 11h58

WASHINGTON, DC – JANUARY 07: U.S. President Donald Trump speaks to members of the media during a meeting with Prime Minister of Greece Kyriakos Mitsotakis in the Oval Office of the White House January 7, 2020 in Washington, DC. Prime Minister Mitsotakis is expected to discuss various issues with President Trump, including Greeces relations with Turkey. Alex Wong/Getty Images/AFP

Uma reunião por telefone do grupo Mulheres Por Trump, na semana passada, acabou na imprensa. O que era para ser uma conversa de praxe entre ativistas e um senador jogou luz sobre um novo problema para Donald Trump, fora a recessão histórica e a pandemia que já matou 65 mil americanos: os republicanos podem perder a maioria no Senado na eleição de 2020.

Em novembro, os eleitores decidirão quem vai ocupar 36 das 100 cadeiras no Senado. Hoje, a divisão é de 53 republicanos e 47 democratas ou independentes que votam com democratas. Além de manter as vagas que já possuem, os democratas precisam ganhar 3 ou 4 novos assentos para ter a maioria na casa – no caso de ganharem a presidência, são necessárias três cadeiras a mais, pois a quarta é do vice-presidente.

Com a Câmara nas mãos da oposição, Trump ficará engessado se perder também o voto dos senadores, ainda que consiga se reeleger. Na última semana, o presidente decidiu mudar sua campanha, diante de pesquisas internas que mostram ascensão do democrata Joe Biden e queda dele em Estados-chave.

Para garantir a governabilidade em um eventual segundo mandato, o republicano precisa assegurar o controle de uma das Casas, mas a crise atual deu instabilidade extra para as disputas estaduais O tema das campanhas para o Senado deixou de ser sobre questões locais e passou a ser sobre o sucesso ou fracasso das respostas ao coronavírus. O Senado foi fundamental para barrar o processo de impeachment que já havia passado pela Câmara.

Na ligação com as Mulheres Por Trump, o senador republicano pela Geórgia David Perdue admitiu: “O Estado da Geórgia está em jogo. Os democratas conseguiram isso”. O áudio foi obtido pela emissora CNN. Com dois votos em disputa para o Senado, a Geórgia seria tradicionalmente um território seguro para os republicanos.

A resposta à pandemia deve determinar não só o resultado das eleições para presidente, mas também o das disputas locais. Os parlamentares com mandato se beneficiam da exposição e das medidas que têm aprovado para combater a crise de saúde e econômica.

“Os governadores passaram a ter alta popularidade. O governante que defendeu o distanciamento social ganhou popularidade e, portanto, ganhou também capital político”, afirma Mauricio Moura, professor da Universidade George Washington e presidente do instituto de pesquisa Idea Big Data.

Antes da crise, a oposição mirava as disputas no Colorado, no Arizona, em Maine e na Carolina do Norte, consideradas as mais competitivas. Agora, há incerteza mesmo em Estados onde o sucesso era tido como garantido pelos republicanos, como a Geórgia. Os democratas têm mantido alto fluxo de doações dos Super PACs às campanhas estaduais ao Senado, demonstrando que a atenção está voltada para garantir a maioria no Congresso.

No caso da Geórgia, o governador republicano Brian Kemp estampou as manchetes do país ao decidir reabrir o comércio no Estado no dia 23, a despeito de alertas contrários de médicos e especialistas. A flexibilização das regras de isolamento incluiu a retomada de manicures, cabeleireiros, espaços de massagem, academias de ginástica e estúdios de tatuagem. Trump, que vinha pressionando para a retomada das atividades nos Estados, criticou o republicano: “Eu não estou feliz com Brian Kemp”, disse.

“Não dá para saber ainda como a pandemia baterá em cada Estado. Louisiana não é um Estado-pêndulo, mas pode passar a ser, porque é uma região onde o coronavírus atingiu com força. A forma como cada Estado vai reagir à covid-19 tende a trazer um grande impacto”, afirma Moura.

Apoio a democrata

O vírus também é central na disputa da Carolina do Norte. O senador republicano Thom Tillis, que tenta garantir a reeleição, passou a apoiar as medidas do governador democrata para determinar fechamento do comércio e do isolamento social pelo menos até o dia 8. “Ainda não eliminamos o vírus. A última coisa que podemos fazer é baixar a guarda agora”, afirmou o senador, em desacordo com outros líderes republicanos.

A vitória do republicano foi apertada na última eleição, com menos de 2 pontos porcentuais de diferença do rival democrata. O concorrente pelo lado democrata, o veterano Cal Cunningham, acusa o senador de não pressionar o governo federal o suficiente para distribuir ao Estado equipamentos de proteção aos profissionais de saúde.

A proximidade com Trump, um trunfo para candidatos republicanos, pode, desta vez, se mostrar um desafio para os que fizerem campanha em locais muito afetados pela pandemia.

O Partido Republicano parece reconhecer o problema. Um memorando de estratégia foi elaborado por um marqueteiro e encaminhado aos candidatos ao Senado com orientações sobre como tratar a crise. O documento, obtido pelo site Politico, orienta os candidatos a culpar a China pela pandemia, a fazer relações entre os democratas e o governo chinês e evitar entrar em discussões sobre a forma como Trump lida com a crise.

O recado é para que os candidatos comentem apenas a restrição de voos vindos da China imposta por Trump em janeiro, ao falar sobre as medidas adotadas pela Casa Branca. O ideal, argumentam os estrategistas, é reconhecer que autoridades de saúde pública demoraram a agir, mas colocar a culpa na China.

Presidência. Embora não haja detalhes das pesquisas internas que preocupam Trump na disputa presidencial, sabe-se que as sondagens se referem a Estados-chave na eleição. O presidente americano não é escolhido pelo voto direto, mas por 538 votos de um colégio eleitoral alocados para cada Estado, de acordo com a população. Por isso, a eleição presidencial de novembro será decidida por alguns Estados, como Flórida, Michigan, Pensilvânia e Wisconsin.

Trump chegou a apresentar uma recuperação de popularidade no fim de março, com o país já mergulhado na epidemia. A desaprovação a seu governo era então de 45%, segundo o Instituto Gallup. Em abril, saltou para 54%, tendência similar à de outras pesquisas, nacionais e regionais. Assessores querem que Trump diminua as declarações diárias sobre a pandemia. Ele quer mantê-las.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado