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Mundo

Aterro tóxico é principal suspeito em acidente ecológico na Rússia

Acidente ganhou escala de emergência nacional, com autoridades em Moscou pedindo apuração rápida das causas

Redação Jornal de Brasília

06/10/2020 12h34

Igor Gielow
São Paulo, SP

Vazamentos em um aterro de agrotóxicos são os principais suspeitos de ter contaminado a água na costa oriental de Kamtchatka, paraíso ecológico localizado no extremo oriente da Rússia.

O acidente ganhou escala de emergência nacional, com autoridades em Moscou pedindo apuração rápida das causas, por temer críticas semelhantes às recebidas em maio, quando 21 mil toneladas de óleo vazaram em rios cristalinos do Ártico russo de uma mineradora.

A contaminação do mar na costa em torno da capital regional, Petropavlovski-Kamtchatski, começou a ser notada por surfistas em 29 de setembro. Nove pessoas procuraram atendimento médico após passar mal ou apresentar queimaduras nos olhos após ir ao mar na popular praia de Khalaktir.

Neste fim de semana, foram registradas grandes manchas de espuma amarelada e oleosa ao longo do litoral, e uma grande mortandande de animais marinhos: crustáceos, moluscos e peixes, principalmente.

O guia turístico Egor Afanasiev enviou à reportagens fotos que fez em um sobrevoo de helicóptero no domingo (4). As manchas são bastante visíveis. “Eu acho que o problema foi em alguma instalação militar”, afirmou.

No sábado, o governo de Kamtchatka havia minimizado o problema, mas o governador Vladimir Solodov acabou revertendo a situação e decretando emergência ambiental. O ex-presidente Dmitri Medvedev, hoje no Conselho de Segurança do país, exigiu uma apuração transparente nesta terça.

A Rússia tem longo histórico de acobertamento de questões embaraçosas, com o acidente nuclear de Tchernóbil em 1986 ainda na memória da população.

Kamtchatka é um tesouro nacional russo, e frequenta o imaginário da população do país, que se concentra na porção ocidental a mais de 6.000 km do local coalhado com 29 vulcões ativos e uma grande população de ursos.

Na segunda (5) e terça (6), grupos de mergulhadores exploraram a baía de Avatcha, onde fica a capital, em especial na foz do rio Nalitcheva, onde moradores disseram ter visto manchas amarelas também.

O curso d’água é alimentado por outro rio, o Mutnuchka, que fica junto ao aterro de Kozelski. A inspeção desta terça foi feita lá e encontrou rachaduras no sistemas de contenção dos produtos tóxicos acumulados.

Aberto em 1979, quando a região era fechada ao mundo devido à concentração de bases militares da União Soviética, ele operou até 2008.

Inicialmente, ele deveria ter sido esvaziado, mas isso não aconteceu. Em 2010, uma membrana foi colocada em torno de toda sua extensão, equivalente a três campos de futebol. A estrutura está danificada, segundo Solodov informou em uma entrevista coletiva.

A análise da água do rio e da baía deve demorar cinco dias para ficar pronta. Cerca de 250 toneladas de animais mortos foram enviados para Moscou, que fica a oito horas e meia de avião de Kamtchatka, e o resultado dos testes deverá sair em dois dias.

A equipe de mergulhadores que vasculhou a baía de Avatcha afirma que não é possível descartar ainda que o acidente tenha a ver com a presença anormal de algas.

“A escala da tragédia vai crescer muito. Encontramos animais mortos em profundidade, 10 a 15 metros, mas a superfície estava normal. Vai faltar comida para outros animais”, disse Ivan Usatov ao site do governo local.
Ainda assim, Kozelski está no topo da lista de suspeitos do caso. Segundo o chefe de inspeção ambiental do território, Valderi Simakov, o trabalho de eliminar o aterro havia sido transferido para o Ministério da Defesa russo, que tem várias instalações na região.

Isso levou a questões sobre eventuais vazamentos de produtos tóxicos ligados a atividades militares, como combustível de foguetes estocados. Até aqui, o governo local não tocou na hipótese, embora tenha dito que iria inspecionar uma unidade da Marinha.

“No aterro foram encontradas 108 toneladas de pesticidias. A membrana estava exposta em uma de suas bordas. Nunca houve um segurança no local”, escreveu no site do Greenpeace russo Ivan Blokov, especialistas do grupo ambientalista.

As informações são da FolhaPress

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