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Aplicativo para classificar pessoas de acordo com a higiene provoca revolta na China

Traumatizados com a COVID-19, os chineses aceitaram sem hesitar nos últimos meses os aplicativos por smartphone

Redação Jornal de Brasília

27/05/2020 9h01

Um projeto de aplicativo que classifica os cidadãos de acordo com sua higiene (se fumam, bebem, fazem exercícios ou seus hábitos para dormir) provocou uma incomum indignação na China a respeito da proteção da vida privada.

Traumatizados com a COVID-19, os chineses aceitaram sem hesitar nos últimos meses os aplicativos por smartphone que rastreiam todos seus movimentos e avaliam o risco de contato com enfermos.

A metrópole de Hangzhou (leste), na região de Xangai, foi uma das primeiras na China que colocou em prática este tipo de sistema que atribuía um código verde, laranja ou vermelho que autorizava ou não o uso dos transportes públicos ou o acesso aos espaços públicos.

Mas a cidade ultraconectada vai além e agora planeja adotar um aplicativo que classificaria em tempo real seus 10 milhões de habitantes em uma “escala de saúde” de 0 a 100 pontos, de acordo com o site dos serviços municipais de saúde.

A nota pode mudar de um dia para o outro em função das atividades de cada pessoa, segundo as imagens do aplicativo na web.

Por exemplo, beber um copo de “baijiu”, um licor chinês, provoca a perda de 1,5 ponto, mas dormir sete horas a cada noite permite somar um ponto.

Os fumantes também estão no alvo: fumar cinco cigarros por dia provoca a perda de três pontos.

Como o aplicativo determinará os comportamentos dos usuários e o que farão os poderes públicos com os dados obtidos? As autoridades locais não explicam e apenas indicam que o dispositivo pode entrar em funcionamento no próximo mês.

O sistema não apenas classificaria os cidadãos, mas também as empresas e os bairros nos quais se encontram. Estes seriam avaliados em função das horas de sono de seus trabalhadores ou residentes, do número de passos que dão a cada dia ou de acordo com as doenças.

“Os serviços municipais de saúde têm que aproveitar a oportunidade para aprofundar o uso dos códigos de saúde e conseguir realizar totalmente seus objetivos”, declarou Sun Yongrong, membro da Comissão de Saúde.

“O novo padrão?”

Os aplicativos das gigantes tecnológicas Alibaba e Tencent ocupam um lugar central na vida dos chineses, agora sob um sistema de “crédito social” que pode proibir alguém de embarcar em um avião ou de reservar um quarto em um hotel em caso de condenação por dívidas.

Os aplicativos anti-epidemia também estão onipresentes. Diferentes de uma região para outra, compilam informações pessoais, o local onde se encontra o usuário e os transportes que a pessoa utilizou.

Em Pequim, por exemplo, ter o código verde no dispositivo é indispensável para entrar em alguns edifícios ou centros comerciais. Este código significa que a pessoa não saiu da capital em pelo menos duas semanas.

Lawrence Li, especialista em tecnologia e defensor da vida privada, espera que o aplicativo planejado para Hangzhou seja opcional.

“No caso da COVID, acredito que as pessoas concordavam em participar. Mas se isto virar o novo padrão, será outra história”, declarou à AFP.

Nas redes sociais, o projeto gerou uma grande revolta desde que foi apresentado na semana passada.

“Que fume, beba ou durma, não deveriam se importar”, reclama um internauta na rede Weibo.

“Não temos mais vida privada”, lamenta outro.

© Agence France-Presse

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