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Ao Congresso, médico demitido por Trump denuncia omissões e falta de plano contra vírus

Em mais de três horas de testemunho, Bright disse que a gestão federal ainda não tem um “plano geral” para a pandemia

Redação Jornal de Brasília

14/05/2020 18h48

WASHINGTON, DC – JANUARY 07: U.S. President Donald Trump speaks to members of the media during a meeting with Prime Minister of Greece Kyriakos Mitsotakis in the Oval Office of the White House January 7, 2020 in Washington, DC. Prime Minister Mitsotakis is expected to discuss various issues with President Trump, including Greeces relations with Turkey. Alex Wong/Getty Images/AFP

Os EUA passarão pelo momento “mais sombrio de sua história moderna” se o presidente Donald Trump não mudar a estratégia contra o novo coronavírus, disse em depoimento ao Congresso americano o médico Rick Bright, que até abril participava dos esforços do governo para combater a pandemia.

Após ser demitido do comando de uma agência federal, Bright fez uma denúncia formal contra a administração Trump, na qual afirma que as autoridades ignoraram seus alertas sobre a falta de preparo do governo para lidar com a Covid-19.

Por isso, foi convocado nesta quinta-feira (14) para depor a um subcomitê de saúde da Câmara dos Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil).

Em um mais de três horas de testemunho, Bright disse que a gestão federal ainda não tem um “plano geral” para a pandemia e que o país precisa rapidamente desenvolver uma estratégia nacional para testar a população.

“Nossa janela de oportunidades está fechando. Se não melhorarmos nossa resposta agora, baseada na ciência, temo que a pandemia vai piorar e se prolongar”, afirmou aos deputados.

Os Estados Unidos são o país mais atingido no mundo pela pandemia, com mais de 1,4 milhões de casos confirmados de coronavírus e mais de 85 mil mortes mortes, de acordo com compilação de dados realizada pela Universidade Johns Hopkins.

Segundo Bright, mesmo que esses números melhorem nos próximos meses, a tendência é que eles voltem a piorar durante o outono –que vai de setembro a dezembro nos EUA -, quando começa a temporada de gripe no país.

Isso, diz ele, vai “colocar uma pressão sem precedentes no sistema de saúde [do país]”.

E vai piorar ainda mais no inverno, de dezembro a março no hemisfério norte, afirmou o médico. “Sem um planejamento melhor, 2020 será o inverno mais sombrio da história moderna.”

“Os americanos merecem a verdade, uma verdade baseada na ciência. Temos os melhores cientistas do mundo, deixe-nos falar sem medo de represálias”, afirmou ele.

Bright disse que começou a ficar preocupado com a situação dos EUA em janeiro, quando recebeu um email de um executivo de uma grande fabricante de máscaras médicas. Na mensagem, ele alertava que o país não teria condições de produzir equipamentos na velocidade necessária caso fosse atingido pela pandemia.

“Ele dizia: ‘Estamos na merda. Todo o mundo está'”, relatou o médico. Após receber o e-mail, Bright avisou imediatamente o comando do Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS, equivalente ao Ministério da Saúde no Brasil), mas teria sido ignorado.

O secretário da pasta, Alex Azar, por sua vez, afirmou nesta quinta que todas as questões levantadas pelo médico foram investigadas e arquivadas.

Durante o depoimento, Bright colocou ainda em dúvida a previsão da Casa Branca de que haverá uma vacina contra o coronavírus entre 12 e 18 meses.

O médico tem como especialidade o desenvolvimento de vacinas e dirigia até abril a Barda, agência do governo americano responsável pela produção de vacinas e medicamentos.

Ao ser removido do cargo, no último dia 22, ele foi transferido para uma posição inferior no Instituto Nacional de Saúde, outra agência do governo.

Logo após o caso, o médico deu entrevista ao jornal The New York Times na qual afirmou que demissão tinha ocorrido após ele questionar o modo como a Casa Branca queria usar a cloroquina e a hidroxicloroquina no combate à pandemia.

Na denúncia feita contra o governo, na qual pede para ser readimitido em seu antigo cargo, Bright afirma que a gestão Trump promoveu os medicamentos como uma panaceia, embora “claramente não tenham mérito científico”.

O presidente americano –assim como seu colega brasileiro, Jair Bolsonaro – defendeu diversas vezes o uso da cloroquina no tratamento para o coronavírus, embora estudos não tenham atestado eficácia.

Nesta quinta, Bright voltou ao assunto e afirmou que, no caso da hidroxicloroquina, ocorreu uma tentativa do governo de driblar o processo normal para aprovar o medicamento no tratamento da Covid-19.

Por meio de uma rede social, Trump disse que nunca conheceu o médico pessoalmente e afirmou que suas atitudes mostram que ele não deveria mais trabalhar no governo federal.

Mais tarde, o presidente disse a jornalistas que acompanhou parte do depoimento e voltou a atacar Bright. “Para mim ele é não nada além de uma pessoa desiludida e infeliz”, afirmou o republicano.

As informações são da FolhaPress

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