Senado dos EUA absolve Trump de primeira acusação do processo de impeachment.
Embora o caso tenha dividido o país, não parece ter prejudicado a imagem do mandatário entre os seus partidários, em um período crucial no qual busca a reeleição.
Trump foi denunciado ao Congresso pela maioria democrata da Câmara de Representantes por abuso de poder e obstrução em dezembro do último ano. Após quase três semanas de audiências, espera-se que Trump seja absolvido por um Senado dominado pelos republicanos.
Momentos antes do início da votação, o senador republicano por Utah Mitt Romney confirmou que votou pela condenação de Trump.
“O presidente é culpado de um abuso chocante da confiança pública”, disse o ex-candidato à Presidência em 2012 em um discurso no Senado.
“Corromper uma eleição para se manter no poder talvez seja a violação mais abusiva e destrutiva do juramento ao cargo de alguém que eu possa imaginar”, acrescentou.
Os democratas querem o impeachment de Trump por ele tentar forçar a Ucrânia a investigar seu possível oponente presidencial Joe Biden, com ameaças de bloqueio de US$ 391 milhões da ajuda militar crucial para este país em guerra, além de acusá-lo de tentar impedir a investigação do Congresso após essa denúncia.
Embora o encerramento do julgamento político não signifique o fim das investigações dos democratas contra o presidente, dá a Trump impulso em sua corrida pela reeleição, após um tumultuado primeiro mandato.
– De olho nas próximas eleições –
Trump aproveitou seu discurso sobre o Estado da União, perante o Congresso, na noite desta terça, para exaltar suas conquistas, reais e imaginárias.
Em sua fala de uma hora e 18 minutos, o inquilino da Casa Branca elogiou o desempenho de seu governo e proclamou “o grande retorno” dos Estados Unidos, em alusão ao lema da sua campanha.
O presidente afirmou que as suas políticas econômicas, criticadas por seus adversários políticos sob justificativa de que prejudicariam o meio ambiente e favoreceriam os ricos, foram responsáveis pelo progresso do país.
Quanto ao “grande sucesso econômico” dos Estados Unidos, Trump comentou que a sua “estratégia funcionou”, referindo-se aos acordos comerciais com a China, assim como o México e o Canadá.
Trump criticou o antecessor democrata, Barack Obama, e declarou que o seu governo reverteu a “decadência econômica” e “restaurou” o orgulho americano.
“Os inimigos do Estados Unidos estão fugindo, as fortunas americanas estão aumentando e o futuro do nosso país é brilhante”, disse.
– “Deve ser destituído” –
A hostilidade de Trump com a presidente da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, a quem se negou a cumprimentar ao entrar no plenário, e o tom de seu discurso despertaram ainda mais a ira dos democratas.
Segundos depois de o presidente concluir sua fala, Pelosi, líder democrata no Congresso, rasgou uma cópia do discurso em momento transmitido ao vivo na televisão.
Essa profunda frustração só aumentará após a votação marcada para o final desta tarde nos EUA.
Para os democratas, respaldados ao menos em parte por alguns republicanos, o que Trump fez em relação à Ucrânia consistiu em um convite ilícito para que um governo estrangeiro interferisse na eleição americana.
“Quando nosso presidente convida e pressiona um governo estrangeiro a difamar um adversário político e corromper a integridade das nossas eleições presidenciais de 2020, ele deve ser destituído”, argumentou nesta quarta o senador democrata Jeff Merkley.
Porém, após semanas de julgamento, marcados pela negativa dos republicanos em usar testemunhas e documentos oficiais que pudessem respaldar a acusação, o poder de Trump não parece ter sido corrompido.
O senador republicano John Cornyn ressaltou que as acusações contra Trump, que qualificou como sendo profundamente partidárias, não justificam sua saída do poder. Segundo ele, a questão deve ser resolvida nas urnas em novembro.
“O impeachment de um presidente do Estados Unidos é a opção nuclear para a nossa Constituição, é o último recurso”, finalizou.
© Agence France-Presse