O advogado da nadadora Rebeca Gusmão, Breno Tannuri, confessou ter sido pego de surpresa pelo anúncio da punição de sua atleta pela Organização Desportiva Pan-americana (Odepa). Na noite de segunda-feira, a Organização confirmou quatro casos de doping ocorridos durante os Jogos Pan-americanos do Rio, em julho, entre eles um envolvendo a atleta. “Não fui comunicado oficialmente. Mas se for confirmado o que está sendo dito, particularmente acho que não foi dado o direito da Rebeca se defender”.
A punição da Odepa foi decidida com base no exame antidoping realizado em 13 de julho, primeiro dia dos Jogos e antes do início das competições de natação, a pedido da Federação Internacional de Natação (Fina). Nesta terça-feira, a contraprova da amostra foi aberta no Institute Armand Frappier, em Montreal, e o resultado deve ser anunciado dentro de três dias.
Rebeca não viajou ao Canadá para acompanhar a análise. Isto está sendo feito pelo médico José Blanco Herrera, especialista em doping, e seu representante legal.
Tannuri afirma que houve irregularidades nos procedimentos. “Tenho registro que houve troca de urina e a custódia da amostra é uma coisa muito séria”, diz, considerando a atitude da Odepa absurda. “Não apresentei defesa nenhuma nem estou sabendo o teor da decisão. Nunca vi maior perseguição a uma pessoa e não à atleta”, desabafa.
O antidoping do Pan virou inquérito policial depois que um exame detectou DNAs diferentes em duas das quatro amostras coletadas. Durante duas semanas, o delegado Marcos Cipriano (Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Saúde Pública) investigou a acusação de adulteração. “Ele ouviu todo mundo e, no fim, entendeu que ela não tinha feito nada, que havia inúmeros pontos a ser melhor analisados, e enviou o caso ao Ministério Público sem indiciar ninguém. A Odepa, comparável ao método (Eduardo) De Rose de julgar pelo que vê, já condenou a Rebeca”.
Para ele, a nadadora tornou-se alvo desde que levantou suspeitas quanto a idoneidade da instituição canadense por causa de um exame realizado em 2006.
No ano passado, o laboratório Frappier analisou uma amostra da atleta coletada no Troféu José Finkel, registrando resultado positivo para testosterona. “Eles receberam três amostras e em duas deram alteração por testosterona. Nestas duas o material estava degradado e eles nem deveriam ter feito a análise, mas fizeram”.
O resultado foi parar na Fina, que encaminhou à Confederação Brasileira de Desportes Aquáticos (CBDA) por não se tratar de competição da Federação. Nenhuma das duas entidades puniu a atleta e o caso foi levado ao Tribunal Arbitral do Esporte (TAS). O julgamento que seria em dezembro foi adiado para janeiro, ainda sem data definida.
O advogado interpreta a demora na definição como reconhecimento que o “modo de fazer a análise foi equivocado” e questiona que o novo exame da atleta tenha ido parar justamente no laboratório que ela questiona. Segundo ele, o temor de repercussões negativas, como demissões, indenização, além da perda de reputação, teria levado a coloca a atleta nesta situação.
“Não consigo entender esta perseguição e a pressa em condenar a Rebeca. Se me perguntar por que, não sei. Suspeito, mas não sei. Fico chateado por esta vontade de denegrir a imagem da Rebeca cotidianamente”.
Tannuri ainda não sabe o que a defesa fará e espera receber informações oficiais antes de tomar qualquer decisão mas, a priori, não considera que o novo episódio prejudique sua cliente. Pelo contrário. “Esta atitude vil, ilegal e imoral complica mais a situação do laboratório. A da Rebeca não me preocupa, se ficar provado que houve erro está decisão será inócua porque não vivemos em um Estado que não seja democrático”.