Presidente da Comissão Médica da Organização Desportiva Pan-americana (Odepa), o médico Eduardo De Rose afirmou que seria impossível a troca de amostras no exame da nadadora Rebeca Gusmão sem o conhecimento da atleta. Na noite de quarta-feira, o especialista encaminhou à Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) o resultado do exame de DNA de duas amostras referentes à atleta na qual ficou constatado que os materiais eram provenientes de dois indivíduos diferentes.
“Isso só pode acontecer se o atleta tem conhecimento e é uma violação do código de doping”, afirma o médico, que foi responsável pela coordenação do trabalho antidoping durante os Jogos Pan-americanos do Rio. Com a descoberta da possível adulteração, Rebeca passa a ser objeto de três investigações distintas e corre o risco de ser banida do esporte.
Primeira nadadora brasileira a conquistar medalha de ouro em Pan-americano, desde 2006 Rebeca é investigada pelo Tribunal Arbitral do Esporte (TAS) por suspeita de uso de substâncias proibidas. No último dia 2, ela foi suspensa preventivamente pela Federação Internacional de Natação (Fina) após um exame realizado dia 13 de julho apresentar níveis acima do normal de testosterona. Agora, torna-se suspeita também de adulteração de amostra.
Nenhum dos três casos foi concluído ainda, mas há chances de o julgamento no TAS ser realizado ainda este ano. Nas próximas semanas, a atleta também pretende viajar ao Canadá, onde acompanhará a análise da contraprova referente ao exame de julho.
No caso do DNA, não há possibilidade de pedido de contraprova e a única alternativa de defesa da brasileira é provar que a troca aconteceu após sua entrega do material, no percurso entre a entrega da amostra pela atleta e a recepção no laboratório. “Ela pode dizer que a troca foi feita na cadeia de custódia, mas terá de provar. Eu revisei tudo e não encontrei qualquer irregularidade”, garante De Rose.
O especialista suspeitou da irregularidade depois de notar uma grande diferença no perfil hormonal de uma das quatro amostras supostamente pertencentes à atleta. “Se encontro isso, desconfio, mas não tenho certeza. Antes, isso já caracterizaria um doping, mas hoje procuramos não dar assim. Por isso pedi o exame que constatou DNAs diferentes nas duas urinas”.
Segundo De Rose, o exame de urina equivale a uma impressão digital e deveria ser único em todas as amostras. Para tirar a dúvida, ele enviou ao laboratório Sonda UFRJ uma amostra colhida dia 12, fora de situação de competição, e outra coletada dia 18, data na qual Rebeca foi campeã nos 50m livre. “Se uma delas tem DNA diferente significa que houve manipulação”, ressalta o médico. “Não sei qual foi manipulada porque não tenho o DNA dela para comparar, mas uma é diferente”.
Nesta sexta-feira, De Rose conclui seu relatório sobre o antidoping no Pan e envia o material para a Odepa, que fará ó julgamento durante a reunião do Comitê Executivo.
Os advogados que cuidam do caso de Rebeca, Breno Tannuri e André Ribeiro, divulgaram um comunicado oficial sobre o assunto. Sem falar especificamente da nova acusação, eles destacaram a complexidade do assunto e pediram apoio para a atleta. “Entendemos que o caso é complexo e envolve interesses esportivos e privados de grandes instituições e companhias. A única possibilidade da atleta reverter esse caso será com a ajuda da mídia brasileira”.