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Projeto leva bailarinos candangos para estágio na Alemanha

Arquivo Geral

27/12/2011 14h43

Quando tinham 12 anos de idade, os dois pequenos bailarinos chamaram a atenção no Projeto Educar Dançando, da UnB. O talento de ambos rendeu o convite para experimentar um período de três meses na capital alemã. Atualmente, aos 14 anos, Mateus da Silva e Glauber Mendes moram na Alemanha desde fevereiro deste ano. Lá, estudam em regime integral: balé clássico e as matérias normais de todo jovem alemão. O projeto, que deu essa oportunidade aos garotos, existe há oito anos e atende jovens que se interessam pela dança no Distrito Federal. Há três anos, formou-se uma parceria entre a UnB e a Escola Superior de Dança de Berlim, uma das mais conceituadas do mundo.

 

Para os jovens bailarinos, o estágio é uma oportunidade única. “É muito difícil de conseguir ir para lá. Estudamos com pessoas do mundo inteiro”, disse Mateus ao se referir da experiência que está vivendo junto ao amigo Glauber. “Para mim, é um orgulho muito grande. Você nem pode imaginar”, garante Cleide da Silva, mãe de Mateus. Ela conta que trabalhava como catadora no lixão da Estrutural, em Brasília, quando recebeu da coordenadora do projeto, Maria Mazzarelo, o convite para inscrever seu filho no intercâmbio. “A Estrutural, você sabe, é terrível. Coloquei Mateus no curso para que à tarde ele não ficasse sem ter o que fazer e se aproximasse dos perigos do bairro”, relembrou.

 

Adaptação – Edna Carvalho de Azevedo, professora de dança do quadro da Escola Superior de Dança de Berlim, a mesma onde os garotos estudam, acompanhou o período de adaptação dos dois e garante que eles se integraram muito rápido com os colegas. “Houve apoio físico, mental e lingüístico”, explicou. As aulas de alemão foram oferecidas numa ação conjunta do Instituto Goethe, a Secretaria de Educação do Distrito Federal e a Embaixada da Alemanha no Brasil.

 

Glauber é filho do pedreiro Lázaro Mendes Silva, que trabalha em Samambaia. Ele se diz completamente adaptado à vida que tem em Berlim. “Já conhecemos bem a cidade. No início não foi tão fácil, mas hoje conseguimos nos comunicar com todo mundo e entender tudo o que dizem nas ruas ou na televisão, por exemplo”.

 

Ambos recebem assistência por parte de duas professoras alemãs que, segundo Edna, são como mães substitutas. As tutoras têm procuração dos pais para levá-los ao médico, acompanhá-los em viagens, entre outras situações. Nas matérias que enfrentam mais dificuldades, Mateus e Glauber têm aulas de reforço, como, por exemplo, inglês. “Às vezes, ainda perdemos uma aula de Química porque estamos estudando alemão para estrangeiros, mas cada vez precisamos menos e com o tempo vamos estudar normalmente”, garante Glauber.

 

Saudades – Mateus e Glauber matam as saudades de casa por meio do telefone. “No início, o frio e a dificuldade da língua atrapalhavam um pouco”, confessou Mateus durante o aquecimento para uma de suas aulas em Brasília. “A comidinha daqui também não existe lá”, completou Glauber. 

 

A mãe de Mateus confessa que não consegue ficar totalmente tranquila estando longe do filho, mas tenta manter a firmeza. “Eu tenho que segurar a saudade, aguentar firme”, revelou. Segundo ela, seu filho gosta da vida na Alemanha e fala muito bem do país. “Ele diz que lá é excelente, com outra cultura, onde todo mundo trata você bem”.

 

Futuro – “Eles foram muito bem aceitos na escola e têm as notas mais altas nas aulas de balé”, comentou Maria Mazzarelo. Edna, que há cinco meses voltou a morar no Brasil e hoje integra o Instituto Federal de Brasília, não perde o vínculo com os alunos e não tem dúvidas sobre o futuro deles. “Eles são bailarinos brilhantes e podem tornar-se profissionais da dança”, garante.

 

Uma prova do talento e empenho dos garotos é a dedicação mesmo durante o recesso. Na visita à Brasília, na última semana, os treinos não cessaram. Eles participam de aulas com a professora Gisele Santoro, uma referência na comunidade da dança de Brasília e que já formou solistas para grandes companhias no mundo. Segundo ela, os candangos estão em uma das dez melhores escolas e uma das poucas com formação integral para os jovens. “Eles não devem nada a ninguém no mundo”, disse Santoro, que deu aulas avançadas para Mateus e Glauber antes da ida para a Europa. 

 

“Eles estão aqui, mas não de férias. As aulas no Brasil são uma forma deles compartilharem o conhecimento que adquiriram e, ao mesmo, tempo manterem a forma”, disse Edna. De acordo com a professora, quando os bailarinos passam um dia sem se exercitarem, já notam a diferença. “Os professores percebem a falta de exercício a partir do segundo dia. Se não há prática durante três dias consecutivos, o público também nota”, afirmou Edna, que garante que 93% das pessoas que terminam o curso na Escola são contratadas por grandes companhias e teatros do mundo.

 

Glauber e Mateus retornam a Berlim no dia 18 de janeiro. Em fevereiro, farão as primeiras apresentações com o grupo de alunos de sua idade em Dresden e Cotbus. Num futuro ainda distante para eles, pretendem prestar exame e fazer o curso superior na mesma instituição em que estudam hoje. “Temos certeza que queremos viver da dança”, garantiram. 

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