Apenas duas semanas e um dia após a escolha do Rio de Janeiro para organizar as Olimpíadas de 2016, a cidade saiu do caderno de esportes dos jornais do mundo inteiro para o policial. Com um saldo de no mínimo 32 mortes, o conflito envolvendo traficantes e policiais que estourou no último sábado repercute também entre atletas como Cesar Cielo, que cobra a correção dos problemas de segurança para que o importante evento não se torne um “vexame”.
Um dos 15 atletas ou ex-atletas escolhidos pelo Comitê Rio-2016 para acompanhar a eleição da sede dos Jogos, realizada em 2 de outubro em Copenhague, Cielo participou nesta quinta-feira em São Paulo de uma conferência de imprensa para a divulgação de seu novo patrocinador, a marca de bebidas energéticas TNT. Embora a natação tenha sido o tema mais recorrente da entrevista, ele falou também sobre a crise de segurança carioca em conversa reservada com a reportagem da GE.Net.
A princípio, quando perguntado se a capital fluminense pode melhorar nesse sentido, o atual bicampeão mundial ficou desconcertado, indicando que o homem mais rápido das piscinas não tem como controlar a violência. Na sequência, porém, foi enfático: “Deve melhorar”, cravou, receoso de que a competição não seja o sucesso previsto pelo COI (Comitê Olímpico Brasileiro): “O mundo inteiro estará olhando, e toda gafe será uma gafe. O Brasil pode sair como uma potência ou protagonizar um vexame”.
Desde o último sábado, os conflitos, que começaram nas favelas de Jacarezinho e Morro dos Macacos e incluíram até a derrubada de um helicóptero da Polícia Militar, vêm ganhando repercussão no mundo todo, especialmente pela proximidade do caso com a votação na Dinamarca. Esse cenário obrigou até o presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), Jacques Rogge, mostrar nesta quinta confiança de que, dentro de sete anos, o país sul-americano estará preparado para impedir que tragédias assim aconteçam. “Consertos na segurança para os Jogos sempre são muito fortes”, tranquilizou ele à agência Reuters.
Por ser um cidadão brasileiro como qualquer outro e também por ter contribuído, pelo menos a partir do respaldo de quem é o único nadador nacional ganhador das Olimpíadas, com a escolha do Rio de Janeiro para realizar o evento de 2016, Cielo garante que acompanhará as ações dos organizadores, grupo do qual o principal representante é Carlos Arthur Nuzman. “Apoiei os caras, votei nos caras. Agora vou cobrar”, avisou.
Canto pede transformação olímpica: Também um dos mais novos patrocinados pela empresa, Flávio Canto foi outro atleta olímpico a prestigiar a coletiva em São Paulo nesta quinta. Medalhista de bronze em Atenas-2004, o judoca tem uma ligação especial com o Rio de Janeiro, onde comanda o Instituto Reação, programa social que leva o esporte a comunidades carentes. Com propriedade, portanto, ele comentou como os Jogos podem transformar um município onde 32 pessoas acabam de morrer em um conflito envolvendo policiais e traficantes.
“No Rio existem duas cidades – 20% é a da favela, que os outras pessoas mal conhecem. Eu convivo com esse lado e torço para que as Olimpíadas diminuam a diferença entre os dois mundos. E no nosso projeto já observamos que o esporte é um excelente meio de integração”, avaliou Canto.
Instituto sem fins lucrativos criado em 2003, o Reação atende cerca de mil crianças e jovens de quatro a 25 anos de idade em quatro localidades diferentes: nas favelas de Cidade de Deus, Tubiacanga e Rocinha e no semi-internato comunitário Pequena Cruzada. Procurando promover a inclusão social por meio do judô, a associação já revelou a campeã mundial junior de 2008, Rafaela Silva, que também foi quinta colocada da categoria até 57 quilos no último Mundial profissional, disputado na Holanda.